" A tchurma da Moóca "

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 Cabelo, Fernando, Bica, Zezé, & (esqueci a porra do nome). Cabelo gostava de drogas, boa comida, roupas de grife, e bebidas finas. Bica era maluco, quando a gente estava muito doido, ele fazia um chá de grama, e dava pra gente tomar, dizia que fazia bem. Zezé era mulher do Cabelo, vivia infernizando a vida dele. Depois que ela fumava um beise, enchia o saco do cara. Fernando era um drogado, em última fase, vivia viajando, mesmo de careta, e só dizia," é, sim, não". O cara que eu esqueci o nome, era uma figura muito louca, mas era um flautista fenomenal.  Depois que ele fazia a cabeça, pegava a flauta e dizia: - Alex, solta um tema legal. - Eu pegava o violão e desenvolvia um tema pra ele, e era só rock pesado e bom. A gente passava horas viajando na música. Esse pessoal chegava lá em casa, aos sábados, tipo dez horas da manhã e só iam embora na noite. Cabelo uma vez levou um chá de cogumelos lá em casa, feito por um xamã very very crazy, e disse: - O cara fez esse chá com cinquenta cogumelos colhidos lá na Serra do Mar. - Esse chá ficou umas vinte e quatro horas curtindo no fogão de lenha. - Depois ele coou. - Isso deve estar muito louco, eu trouxe meio litro pra nós. Eu olhei aquela merda, tinha uma cor de terra diluída em água. Fiquei meio enojado, daí ele disse: - Tem que completar com uns dois copos de groselha, pra gente conseguir engolir. - Meu amigo John Doe, eu tomei um copo daquela mistureba...Perguntei: - E você, não vai beber essa merda? - Ele disse: - Eu vou monitorar a sua viagem, essa merda é mais forte que yuaska, mais forte que ácido. Velho e bom John Doe, Eu comecei uma viagem que durou vinte e quatro horas. Eu tinha picos de loucura & picos de lucidez. Aquela mistureba deixaria qualquer Carlos Castañeda pirado. Era mais forte que o peyote, que eu já havia provado, da mescalina. Véio, teve uma hora que eu voltei, e estava lá na Vila Formosa, era noite, eu chorava, e o Cabelo me acompanhava. Eu acho que chovia, não tenho certeza. Eu vi um gato na rua, e conversamos. Eu vi cores, que se abriam, tipo um clarão. Vi mortos, vi enterros. Quando voltei de novo, estávamos na frente do cemitério de Vila Formosa. Cabelo sempre me seguindo, cuidando da minha viagem. Conversei com Aldous Huxley, conversei com Timothy O'leary, vi estradas imaginárias, ruas de sangue. Cabelo cuidou de mim, como um pai cuidaria de um filho. Foi a melhor viagem que eu fiz. Depois disso, nunca mais tomei chá de cogumelos. - Nunca mais me atrevi. - Esses meus amigos da Moóca, eram do cazzo. - Fui.

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