" Justiça Bandida "

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 Zona Leste de São Paulo, anos 80's. - Eu estava sentado na porta do bar do seo Fernando. - Eu gostava de me sentar ali, e tomar um refrigerante, era um sábado pela manhã. - Eu era feliz, tinha uma mulher que me amava, tinha um emprego razoável, e dinheiro não me faltava. Tinha também uma filha pequena, que me amava, (nessa época).  Alguém me chama, timidamente, (era o Gini), eu conhecia de vista, era vizinho da rua de cima. - Gini era um crioulo (ops, afro descentente) baixinho, a negritude dele brilhava, quando estava suado. - Gini era ladrão, era muito conceituado na malandragem. - Eu pergunto o quê está "pegando"... Ele me pergunta se eu posso comprar dois ovos pra ele, por que eles estão passando fome... - Ele, a esposa e as crianças. - Eu mando ele esperar. Entro no bar e começo a fazer uma compra pra ele. - três quilos de linguiça, cinco dúzias de ovos, quatro pacotes de macarrão, arroz, óleo de cozinha, salsichas, massa de tomate, feijão, pães, margarina, - (essas coisas eram vendidas nos bares, nessa época). - As vezes, minha conta no bar, alcançava cifras astronômicas, mas o português nunca me cobrava. - (eu havia arranjado um emprego para o filho dele, de jornalista, (redator). Ele era muito grato por isso. Foi o primeiro emprego do menino. - Saí, entreguei a compra pro Gini. - O cara ficou com os olhos marejados e disse: - Assim que eu puder, eu pago. - Eu respondi que ele não precisava pagar.  Se um dia eu precisasse, eu chegaria nele, (com certeza).  Senti ali que havia ganho um novo amigo. - Os meses se passaram, e um dia o meu vizinho da frente, o enteado da minha mãe, começou a discutir comigo, (eu nem me lembro o motivo), e colocou o dedo em riste, na minha cara. O Gini estava do outro lado da rua, só "filmando a cena". - Assim que o fulano vazou, o Gini disse: - Pode ficar tranquilo, eu vou matar ele pra você (???) - Eu disse: - Gini meu amigo, não faça isso, eu não conseguiria viver com uma morte nas minhas costas, nem como mandante. - Esqueça isso, meu amigo, esses caras não são do bem, eles vão se phudder sozinhos. - Contei pra ele a cena da irmã do cara cuspindo na comida que minha mãe havia preparado, e que por esse motivo eu havia saído de casa, aos dezesseis anos. - Contei como eles invadiram a nossa casa, depois da morte do meu padrasto, e levaram tudo de valor que havia lá... - Ele disse: - Alguma coisa eu vou fazer, mas deixa pra lá... - Eu me mudei daquele bairro... - Uns tempos depois, voltando lá pra ver os amigos, fiquei sabendo que o Gini havia feito a "mudança" do cara. _ Ele parou um caminhão "bau" lá, e levou tudo que havia dentro da casa. - Eu não concordei muito com essa atitude dele não... - Mas confesso que dei umas boas risadas... - Nesse dia eu conheci a "justiça bandida", - foi isso que aconteceu. 

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