" Minha amiga, (ou meu amigo), hermafrodita "

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 Aquele "menino" era diferente. Ele era triste & reservado. Todas as tardes, lá pelas três, quatro horas, ele se achegava, e ficava vendo nossa turma se divertir. Mas o "menino" não se "misturava" conosco. Por mais que nossa turma convidasse, ele não jogava bola, não "caía n'água",não queria fazer nada... Mas parecia ser uma pessoa legal. Ele apenas queria estar com a gente. Ele se sentia bem, com aquela molecada bagunceira, era isso. Lá pelas seis horas, o pessoal se dispersava, mas eu sempre ficava mais um pouquinho, ali na praia do Leme. Nos pegamos numa amizade boa & sincera. Nós batíamos papo, falávamos de meninas, de namoradinhas, essas coisas. Ele era filho único, eles haviam se mudado há pouco tempo, para Copacabana. Mais que amigos, nós ficamos "irmãos", saíamos de rolê pelas ruas, vendo as meninas, tentando arrumar namoradas. Um dia, ele me confessou, que nunca havia namorado ninguém. Nunca havia beijado uma garota. - Velho & bom Cupido, nós tínhamos que arrumar uma mina pra ele. ( - Vai vendo a merda que isso tudo vai dar). - Eu expliquei tudo pra minha mina, disse que ele nunca tinha beijado, e coisas tais, e perguntei se ela não teria alguém, pra sair conosco. Minha namorada ficou de "ajeitar" a prima, pra ele...Na noite seguinte, saímos nós quatro, fomos passear na orla, comer pipocas & namorar. Velho & bom Charlie, eles estavam se entendendo direitinho, possivelmente meu amigo daria o primeiro beijo, aquela noite mesmo. - Mas a merda, quando tem que acontecer, acontece, não tem jeito. - Lá pelas tantas, os dois se beijaram, se enlaçaram. ( O estalo da bofetada, foi ouvido por nós, logo a seguir). A prima, meteu a mão na cara do meu amigo, e saiu vazada, chorando & xingando. Eu não entendi porra nenhuma, e nem a minha namorada. Minha gata me deixou ali, no "cavalete", e foi atrás da prima. Meu amigo, surpreendentemente, começou a chorar. Eu, não estava entendendo merda nenhuma. - E "ele" me contou, disse que era menina & menino (???) - Me encarou e disse : - "Eu sou hermafrodita". (Véio, que merda era isso? Eu nunca tinha ouvido essa palavra, esse nome). - "Ele", que agora era "ela", me explicou. - " Eu tenho os dois sexos, tenho um pintinho & uma xereca". - Bukowski, seu puto, não precisa ficar rindo. Eu era um menino ingênuo, um menino bobo. Mas a minha curiosidade, a maldita curiosidade, eu queria ver aquela coisa, mas não tive coragem de pedir. Até hoje, eu fico imaginando, como deve ser a "xeca/pinto. - Depois disso, eu nunca mais vi o "menino/menina". - Alguns anos depois, eu estou numa festa, eu & o Dan, do pessoal da medicina, na federal do Rj, ali perto do Pinel, e encontro "ele". "Ele" está todo seguro de si, acompanhado de uma loura, de fechar o comércio, e me reconhece. Me abraça, me chama de irmão. A loura estranha, mas ele me apresenta. - Fica me agradando, dizendo que me procurou, essas coisas...(foi isso que aconteceu). - O meu amigo hermafrodita. - Fui.

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