Nós estávamos no cais do porto, (lá na Praça Mauá - no Rio). Dentinho me olhou, fixamente e disse: - Alex meu amigo, vamos embora desse pais? - Nós podemos embarcar, tipo clandestino e vazar...Eu pensei, pensei e respondi. -Você sabe o que eles fazem com os clandestinos descobertos? - Ele me olhou com aqueles olhos esbugalhados e disse:- Não... O que eles fazem? - Eu respondi: - Eles jogam os clandestinos no mar, Dentinho. Se for navio de bandeira africana então, é morte certa...- E ele ali me fissurando, fissurando com aquela ideia. Eu me vi na Ilha de Capri, lugar que eu achava lindo (nos meus sonhos mais desvairados). Aquelas mulheres de seios grandes, bundas empinadas, falando um italiano macio...- Ele me tirou do desvario... - Pinheiro, Pinheiro, vamos pra Nova York, nós podemos ficar ricos lá. Nós vamos vender café nas ruas e lavar pratos. (Eu achei aquilo uma merda ).- Na Ilha de Capri seria melhor.. Nós poderíamos viver de business, vender aquelas canetas, sabe, aquelas canetas, (ele franziu os olhos e disse, que caneta ? Eu, grande homem de negócios, expliquei pra ele: - Dentinho sua anta, tem umas canetas, que tem uma mulherzinha de maiô, você vira a caneta e ela fica peladinha, nuazinha. Aquilo pra se masturbar é o must. Nós vamos ficar ricos com os punheteiros italianos. - É prática, fácil de esconder. E nas horas vagas, passear por lá. Venderemos tudo, nos cafés, a noite. Depois do trabalho o dolce far niente merecido. Mas não tinha jeito, ele queria Nova York, não ouve acordo...Me deu um estalo! Dentinho, vamos pra Minas, vamos pra Perdões. Ele como sempre fazia, franziu os olhos...Minas??? - É, Minas. - Ele topou. Eu tinha um dinheirinho guardado. - E perguntei, você tem algum dinheiro? Ele me olhou sério e disse: Pinheiro, eu tenho muito dinheiro escondido. (???).- Eu estou com alguns milhões de marcos alemães (???).- Sério? Você 'ta rico? - Ele me explicou que o avô dele, um alemão velho, havia morrido, e ele deu uma geral nas coisas do velho e encontrou aquela "fortuna". Surrupiou tudo. Era um homem muito rico agora. - Bem, resumindo...- Eu disse pra ele, vamos passar lá em casa, eu vou pegar o meu dinheiro e vamos jantar na "Churrascaria Gaúcha". (Eu não poderia oferecer um jantar de merda, ao meu amigo milionário). - Só para vocês se situarem no tempo, a Gaúcha seria tipo o "Porcão" hoje. O jantar levou a metade das minhas economias. Mas eu sabia que a miséria havia acabado. Combinamos de nos encontrar em frente a casa de câmbio, no dia seguinte. Trocaríamos alguns milhares de marcos e iriamos de avião. - Meu, na hora que o "Dente" abriu a mala, eu quase caí pra trás. Era dinheiro pra cacete. Um dinheiro bonito, tinha umas notas grandes, de 1 milhão de marcos, tinha notas de 10 milhões de marcos. (Eu cresci os olhos). Entramos na casa de câmbio, fazendo pose. Dentinho falou pro cara: - Eu gostaria de trocar alguns marcos alemães... O cara perguntou: - Quantos marcos seriam, e ele fazendo beicinho disse - 1 milhão de marcos. O cara arregalou os olhos, chamou um cara lá dentro. (Eu já estava começando a sentir o velho e terrível cagaço). - O cara pegou a nota e disse: ESSE DINHEIRO NÃO VALE NADA!!!- Esse dinheiro é da época da guerra, não vale porcaria nenhuma.- Meu primeiro instinto foi matar o Dentinho ali mesmo...Depois fiquei sabendo que aquela fortuna toda, não comprava um litro de leite, na Alemanha, na época da guerra. - Dentinho me phuddeu - "Ora direis, ouvir malucos"...