" Perdões & Marcos Alemães "

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- Então, você trouxe os marcos alemães ? - Trouxe, estão na mochila. (Eu havia combinado com o Dentinho, que ele levasse os marcos (sem nenhum valor, nessa viagem). - Nosso dinheiro era contadinho, a gente poderia precisar dos marcos...(Afinal, tínhamos mais de 50 milhões de marcos, na mochila). - As cédulas eram lindas, obra de arte, aquilo bem que poderia servir aos colecionadores. - Descemos na rodovia Fernão Dias, em frente a cidade de Perdões. Eu disse pra ele: - "Dente", essa é a cidade da minha família, quero lhe pedir muito respeito aqui, muita moral. Tenho aqui os meus primos, meus tios, nada de fazer cagada aqui. - (Santa ilusão... O Dentinho era perseguido pelas loucuras & merdas). - Entramos na cidade, subimos a pé, aquele ladeirão imenso, até a praça Dr. Zoroastro Alvarenga. - A tia Adriana nos recebeu, com surpresa, (naquela época, eu tinha o péssimo hábito de chegar na casa das pessoas, sem avisar). - Eu disse pra tia que nós iríamos ficar no sobrado, tinha um monte de quartos lá. - Meu tio Ari estava trabalhando em Varginha, no IBC, chegaria só na sexta feira.  A tia combinou que nós faríamos as refeições na casa dela.  Acho que era Semana Santa, não me lembro bem... Nos alojamos, tomamos banho, e fomos jantar. Ficamos ali papeando com a tia...- Minha tia era uma mulher muito educada, teve uma educação esmerada, era professora e chegou ao cargo de diretora de uma escola.  A noite começou um movimento na praça, muitas pessoas, jovens. - Dentinho ficou admirado, as moças andavam em volta da praça e os rapazes em sentido contrário...- Tinha muita menina bonita em Perdões...- Dentinho notou que haviam mais mulheres do que homens, naquela cidade...Eu expliquei pra ele que os caras iam trabalhar em São Paulo, no Rio, em Belo Horizonte, por que não tinha trabalho em Perdões. - Disse também, que muito daquelas garotas eram noivas, compromissadas. - Ele me olhou, pensou...E disse: - Alex, nós temos que fazer um trabalho social aqui (???). - Que porra de trabalho Dente? - Nós temos que comer o máximo de mulheres, nós temos que tirar essas meninas da fissura...- Eu senti o velho e bom cagaço...Senti que a merda poderia se formar... - Disse: - Dentinho, aqui é a terra da minha família..Não me faça merda, pelo amor de Deus. - (Mas a mulherada começou a dar mole pra gente)... - Eu arrumei uma namorada, uma morenaça linda, ela morava lá na parte baixa da cidade, na Vila Nova. A gente ficava se esfregando atrás da igreja, ela era boa de sarro. Só tinha um problema: - O hálito dela cheirava a massa de vidraceiro... Eu socava bala de hortelã nela, mas só aliviava o cheiro...Ela se insinuava entre as minhas pernas...era bom... Não liguei mais pro hálito... - O Dente me surpreendeu, ele sabia desenhar, e pintava rostos com uma perfeição incrível. - Começou a fazer sucesso com as meninas, ele sumia prum lado, e eu pro outro... Nós só nos encontrávamos na hora do rango, ou na hora de dormir. - Nossa grana já estava acabando,chegamos lá fumando Minister, depois passamos pra Continental sem filtro, depois pruns mata ratos, Samba & Olé. - Já estávamos uns bons trinta dias lá. Um domingo a noite o tio me disse: - Tem uns caras aí, da turma dos açougueiros, que estão prometendo meter a porrada no seu amigo... Ele andou se "engraçando" com umas meninas comprometidas, os caras são violentos...- Dentinho havia feito o prometido, o "trabalho social". - Eu disse pro tio: - Nós vamos embora amanhã, às cinco da matina. Estávamos duros, fomos pegar carona na estrada... - Ficamos bem umas duas horas, até pegar uma carona até uma cidade chamada Campanha. - Duros, com fome & sem cigarros...(Parados em frente uma churrascaria, aquele cheirão de carne assada). - Peguei umas notas de mil marcos e entrei. - Chamei o gerente, expliquei que a gente estava com fome, viajando, mas só tínhamos dinheiro alemão. - O cara trocou dois mil marcos, "crente" que estava phuddenddo a gente. - Comemos, compramos cigarros & vazamos de lá. - (Ainda sobrou uns bons trocados). - Pegamos uma carona pra Sampa, até o Parque Dom Pedro. - Era de madrugada, pegamos um busão até a vila Nova York, onde minha mãe morava...- Aquela viagem me cansou... Com o dinheiro que sobrou, dei uma grana pro Dente, pra ele vazar pro Rio, e fiquei uns dias na casa da minha mãe. - Era bom ser louco naqueles tempos.

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