- Era um sábado lindo de viver. O sol brilhava na zona leste. Eu era feliz, era jovem, e tinha uma linda mulher que me amava. Deixei minha princesa deitada, dormindo lá em casa. Eu estava no bar do seu Fernando, comendo sanduíche de linguiça & tomando " samba in Berlim". "Samba in Berlim", não é nada mais, nada menos do que cachaça, colocada em um copo alto, gelo e coca cola. Meu lugar preferido ali, era ficar sentado na calçada, vendo a vida passar. Logo logo, a sociedade daquele bairro acordaria, & o bar ficaria lotado. Os frequentadores do bar, eram pessoas da mais alta qualificação. Tínhamos ali, desde trabalhadores, (operários), estudantes, assassinos, traficantes, ladrões, espiantos, 171, jogadores de truco, jogadores de dominó. Eu estava em dúvida, do meu programa para aquele dia. Eu poderia ligar para o Cabelo e convidar a turma da Moóca. O nosso pessoal da Moóca, gostava de música. Eu, Cabelo, Fernando, nós fazíamos um som muito bom. Tinha a Zezé, mulher do Cabelo que ficava conversando com a Nê. Nos poderíamos também, ir passear no Ibirapuera...( Enquanto pensava nessas coisas, eles começaram a chegar, todos estavam vestidos de terno, carregavam malas de executivos). Foram chegando, cumprimentando todo mundo. Aqueles caras eram de uma educação fora de série. Calculo que eram uns sete. Seriam os "sete homens de ouro" ? Um deles se aproximou, me cumprimentou e disse: - E aí Alê, só fazendo "mula" nesse sabadão ? - Eu expliquei que a "mula" se fazia necessária, após uma semana de trampo... - E vocês manos, onde vão assim ? Todo mundo de terno, nessa elegância toda ? Ele disse: - É trabalho amigo, vamos fazer uma "fita" em Curitiba. - Em Curitiba, perguntei ? - É, Curitiba, estamos levando as "ferramentas" nessas malas.(Aqueles caras eram profissionais, roubavam, mas não matavam ninguém, conheciam o ofício de ladrões)...(Os ladrões, antigamente, tinham qualificação, tinham um código de honra). Hoje, os manos roubam qualquer um, roubam trabalhador, se sujam por qualquer merreca, e ainda atiram nas pessoas, pra se fazer de valentes). Um bando de cusões, esses bandidos da atualidade. (Um cara que eu conheci naquele bar, me explicou que o ofício de ladrão, demanda muita sabedoria & humanismo (???). - Tem que se respeitar a vítima, ele me disse) - Todos nós temos familiares, temos que respeitar os "loques" também. Para fechar essa história, eu me despedi deles, desejei "sucesso" na empreitada, e fui pra casa. Minha linda princesa estava deitada ainda, de bruços e só de calcinha. Eu me atirei na nossa cama, beijei, abracei, disse coisas bonitas & fizemos amor. Revelei todo o meu amor por ela, todo o meu tesão, e ficamos abraçadinhos ali, curtindo a nossa felicidade. - Ser jovem & apaixonado era bom pra caralho. (Não liguei pra ninguém, não agendei nenhum passeio, fiquei apenas curtindo minha mulher, aquele final de semana). Era bom ser jovem, naqueles tempos...