01 - Beatrice

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Caminhei ao longo do corredor do pavilhão de educação física, num passo acelerado devido talvez ao nervosismo.
Quando entrei na sala dos professores de educação física, perguntei quem era o professor Luís, que se levantou logo e veio ter comigo.

- És a aluna nova?

- Sim, Beatrice - apresentei-me - Disseram-me para vir ter consigo por causa das aulas de educação física...

Eu não sabia bem o porquê de ter de falar com aquele professor, tal como também não tinha percebido o porquê de não ter escrito no horário que me entregaram o nome do professor de educação física que eu iria ter.

- Sim, eu estava à tua espera - disse ele enquanto foi buscar uns panfletos a uma das mesas que ocupavam aquela sala - Preciso de saber qual é o desporto que vais querer praticar durante a hora de educação física.

- Como assim? - perguntei, confusa.

- Ah ainda ninguém te explicou? Aqui cada um pratica o desporto que mais gostar. Temos várias opções e cada um escolhe aquele que quiser. Para o mesmo desporto há várias turmas, cada uma a uma hora diferente, para que os alunos possam escolher a hora que querem consoante o horário que têm.

Assenti e ele passou-me os panfletos para as mãos.

- Agradecia que escolhesses o mais depressa possível, pois tens de começar com as aulas rapidamente para não perderes ainda mais o ritmo. Se tiveres alguma dúvida podes vir falar comigo ou com qualquer outro professor de educação física.

Agradeci-lhe e saí da sala, dirigindo-me à saída do pavilhão. Já passava das 18 horas e, apesar de já não haver confusão na entrada da escola, ainda havia alunos por ali espalhados, a conversar ou à espera de alguém.
Caminhei em direção ao meu carro, que estava estacionado não muito longe do portão.
Assim que me sentei no banco do condutor e fechei a porta, senti-me muito mais confortável.
Aquele dia tinha sido bastante cansativo!
Pousei a mala e os panfletos no banco do lado e liguei o carro, conduzindo para fora do parque de estacionamento da escola.

*

- Como correu a escola? - perguntou o meu irmão assim que entrei na cozinha.

- Normal - respondi enquanto tirava uma maçã do cesto das frutas - Andei o dia todo a explicar às pessoas o porquê de ter um nome italiano se tinha vindo de Espanha - fiz um sorriso irónico - E apercebi-me de que naquela escola gostam muito de coscuvilhar a vida uns dos outros.

- Chatearam-te muito com perguntas?

- Sim, mas não lhes satisfiz a curiosidade, sabes que não gosto de mexericos - disse - Mas e o teu dia, como correu?

- Muito bem, consegui o emprego no hospital - respondeu com um sorriso.

Sorri-lhe e dei-lhe um abraço de parabéns. Depois saí da cozinha e subi as escadas, passando pelo primeiro andar e continuando a subir para o segundo andar. Percorri o corredor todo até ao último quarto do lado direito.
Deixei a mala em cima de uma cadeira que estava à entrada do quarto e trinquei a maçã enquanto me sentava na cama para ver os panfletos.
Havia realmente imensas opções de escolha: vólei, basquete, futebol, badminton, rugby, esgrima, ginástica...
Suspirei de alívio por saber que havia a opção de esgrima. Era o meu desporto favorito. Em Madrid, desde pequena que praticava artes marciais, e quando fiz seis anos comecei também a praticar esgrima.

- Bea! - chamou-me Alonso.

- Sim?

Segundos depois ele apareceu à porta do meu quarto.

- Que estás a fazer? - quis saber.

- Estava a ver uns panfletos que um professor de educação física me deu. Parece que tenho de escolher um desporto específico para praticar nas aulas de educação física.

- E já escolheste?

- Esgrima - respondi.

- Isso é fantástico! - exclamou - Assim é mais rápida a adaptação, visto que já tens uma grande preparação!

- Sim, também acho!

- Vais dar uma abada aos teus colegas - riu-se e piscou-me o olho.

Sorri-lhe, meio envergonhada.

- Bem, tenho de ir para o hospital, começo a trabalhar hoje, vou fazer o turno da noite - disse-me - Ficas bem?

- Sabes que sim - respondi-lhe.

Ele assentiu e saiu do meu quarto. Cerca de 10 minutos depois ouvi-o a sair de casa, trancando a porta da entrada.
Alonso era o meu único irmão e, desde recentemente, a minha única família. Tinha 22 anos e era médico. Desde pequeno que tinha sido diagnosticado como sobredotado e aos 15 anos entrou na faculdade, no curso de medicina.
Agora que arranjara emprego, eu sabia que seriam poucas as vezes que o iria ver em casa.

*

Tinha acabado de jantar e subi para o meu quarto. Abri a minha mala e tirei de lá o novo livro que comprara à hora de almoço daquele dia. Como tinha duas horas livres até à primeira aula da tarde, e como já estava farta de estar fechada na escola com todos aqueles olhares curiosos em cima de mim, decidira ir almoçar fora da escola e, pelo caminho, passei por uma livraria enorme do centro comercial.
Era um romance de vampiros. Eu amava ler, passar horas agarrada a um livro, e os meus preferidos eram os livros sobre seres sobrenaturais.
Mas naquela noite não estava a conseguir concentrar-me no livro. Algo me incomodava, sentia-me inquieta. Mas por mais que pensasse no assunto, não conseguia perceber o porquê de estar assim.

a herdeiraOnde histórias criam vida. Descubra agora