Sentei-me nas escadas, sem saber o que fazer. Tinha a esperança de conseguir ter aquela conversa com Beatrice mas infelizmente fui interrompido e ela não retomou o assunto. Nem eu tive coragem de o fazer, senti-me desanimado, pensei que se ela não voltou a falar no assunto é porque não sentia o mesmo por mim.
Uma parte de mim queria sair dali, ir embora, sentia-me sem forças para encarar Beatrice nos próximos tempos. Mas por outro lado apetecia-me voltar para trás e olhá-la nos olhos e dizer-lhe tudo o que sentia.
Mas Bea não tinha vindo atrás de mim quando me fui embora, nem me tinha pedido para ficar quando eu disse que era melhor ir embora. Talvez ela não quisesse mesmo falar.
Abanei a cabeça, sentindo-me ridículo. Pareces uma gaja a fazer dramas, refilou o meu subconsciente.
Levantei-me, decidido a ir embora, quando a ouvi correr pela casa. Voltei-me e segundos depois ela apareceu à porta de casa, olhando-me com uma ponta de esperança no olhar.
Ficámos ali, frente a frente com alguns metros a separar-nos. Petrifiquei, surpreendido.
Bea deu alguns passos na minha direção.- Tive medo que já não te apanhasse aqui... - murmurou ela.
Uma forte brisa passou por nós, fazendo-a encolher-se com frio. Aproximei-me dela.
- Porquê? – perguntei, com um nó na garganta, com medo do que a pudesse ter levado ali.
- Porque fui parva em não ter falado contigo sobre... tu sabes – disse ela, atrapalhada. Pude sentir o nervosismo na voz dela.
- Não faz mal, eu percebo que tu não sintas o mesmo por mim, se calhar até foi cedo demais para tocar nesse assunto. Só que as coisas estavam a ir tão naturalmente entre nós, e depois o que a Alexa te disse deixou-me a pensar que as coisas podiam ser constrangedoras para ti e pens... - ela interrompeu-me da forma mais inesperada de sempre.
A minha primeira reação foi tentar perceber como é que aquilo estava a acontecer. Eu estava a tentar justificar-me e nem me apercebi que ela se tinha aproximado tanto de mim. E quando dei por mim já ela me estava a beijar. Mas todo esse choque inicial desapareceu quando eu tomei consciência de que ela me estava mesmo a beijar. Instintivamente esqueci todas as perguntas e entreguei-me àquele beijo. O que estava a acontecer era tão inesperado que esqueci até todo o meu autocontrolo. À medida que o beijo ia avançando, os meus sentidos iam-se fundindo num só e não tardou a que eu sentisse as minhas presas crescerem. Mas não parei. É esse o nosso problema: só paramos quando estamos prestes a enterrar as presas no pescoço da pessoa, isto, claro, se conseguirmos arranjar forças para parar.
O cheiro do sangue dela era cada vez mais intenso e eu conseguia até ouvi-lo ser bombardeado pelo coração, conseguia ouvi-lo a correr-lhe nas veias. Era praticamente impossível parar, principalmente para vampiros que passaram séculos sem nunca tocar em sangue humano.
Para nós, o sangue humano é sempre mais agradável que o sangue de simples animais de bosque. E Bea tinha o sangue mais raro, tornando-o mais agradável para nós.
Todos os meus sentidos me puxavam para o sangue e por momentos nem me apercebi do que estava a acontecer. Interrompi o beijo enquanto o odor do sangue me puxava cada vez mais para ela.- Lorenzo? – a voz dela soou longe, puxando-me de volta para a realidade.

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a herdeira
Vampiros(história em pausa) Uma casa no meio da floresta, fechada há 28 anos. Uma biblioteca que esconde um cofre. Um sótão fechado à chave. Uma floresta onde acontecem coisas estranhas. Dois desaparecimentos e uma morte suspeita. Uma história com 50 anos...