A casa era estranhamente silenciosa. Lorenzo caminhava ligeiramente à minha frente, sem nunca me largar a mão. Consegui notar um certo nervosismo da parte dele e eu própria me encontrava um pouco nervosa pelo toque da mão dele colada à minha. Estar de mão dada com ele era uma sensação inexplicável. Sorri involuntariamente mas apressei-me a disfarçar antes que ele reparasse.
Parámos em frente de uma porta aberta, que dava para uma biblioteca. Sentados num sofá de pele cinzenta estavam Rodrigo e Alexa. A primeira coisa que me chamou a atenção foi a extrema proximidade entre eles.
Assim que me viu, Alexa levantou-se e caminhou lentamente até mim, mas cumprimentou-me apenas com um olá emocionado. Estranhei a pequena distância que ela mantinha entre nós, o que fez crescer ainda mais a minha desconfiança.
O ambiente ficou estranho e segundos depois vi Rodrigo fazer sinal a Lorenzo para nos deixarem a sós.- Tens a certeza? – Lorenzo apertou um pouco a minha mão, parecendo preocupado.
- Sim, tenho a certeza – garantiu Rodrigo – Está tudo bem.
Lorenzo largou a minha mão a custo, parecia ter medo de me deixar ali sozinha com Alexa.
Quando ficámos as duas sozinhas, observei-a, ainda sem acreditar que estava mesmo ali com ela.
Mas ela estava diferente, distante. E ao observá-la ao pormenor senti-me triste.
Notei que Alexa tinha algo para me dizer mas estava atrapalhada, nervosa, não sabia como o havia de dizer. Engoli em seco, tomando consciência de que não precisava que ela me dissesse o que se passava. Eu já o sabia.
Sorri.- Como é que estás? – a minha voz saiu trémula.
- Bem, e tu?
Acenei afirmativamente com a cabeça, sentindo um nó na garganta que me impedia de falar com uma voz normal.
- Como é que isto aconteceu? – perguntei, indo direta ao assunto e poupando-lhe a angustia de ter de dizer com todas as palavras o que mudara.
Alexa olhou-me, perplexa, por uns segundos, mas depois suspirou, aliviada por perceber que eu já sabia.
- Fui atacada... eles dizem que foi por um caçador de vampiros... provavelmente confundiu-me com alguém – explicou enquanto ambas nos sentávamos no sofá – Eu estava a morrer, tiveram de me transformar.
Assenti, sentindo que, se ainda houvessem dúvidas dentro de mim, estariam todas esclarecidas.
- E tu e o Rodrigo... - deixei a pergunta incompleta, porque não sabia bem como a havia de terminar.
Alexa percebeu imediatamente o que eu queria perguntar – Sim, estamos juntos. Foi ele que me transformou. Eu nunca te cheguei a contar mas... eu sempre tive uma paixoneta pelo Rodrigo, e quando fui transformada ele contou-me que também sentia o mesmo por mim e que por isso é que quis ser ele a transformar-me.
De repente as palavras de Lorenzo ecoaram-me na mente.
As transformações nem sempre correm bem. Quando uma pessoa é transformada, há duas hipóteses, ou corre tudo bem e torna-se vampiro, ou pode não conseguir sobreviver e passados alguns dias de sofrimento, de dores, acaba por morrer.
Tomei então consciência de que foi uma sorte Alexa estar ali, ter sobrevivido à transformação e estar bem... Senti uma súbita felicidade por estar ali com ela. Uma parte de mim quis abraçá-la, ter a certeza que aquilo não era imaginação minha. Mas lembrei-me de tudo o que lia nos livros e contive esse impulso, com medo de a pressionar. Devia ser ainda difícil para ela estar perto de pessoas humanas, seria necessário algum tempo para se ambientar.- E tu e o Lorenzo? – era a pergunta que eu menos esperava naquele momento – Eu vi-vos de mãos dadas...
- Sinceramente nem sei como é que isso aconteceu – admiti – Mas não se passa nada.

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a herdeira
Vampir(história em pausa) Uma casa no meio da floresta, fechada há 28 anos. Uma biblioteca que esconde um cofre. Um sótão fechado à chave. Uma floresta onde acontecem coisas estranhas. Dois desaparecimentos e uma morte suspeita. Uma história com 50 anos...