Naquela manhã de dezembro, Lorenzo tocou à campainha de casa de Bea e quem foi abrir foi Alonso.- Bom dia – Lorenzo cumprimentou-o no exato momento em que Bea descia as últimas escadas.
- Bom dia! – disse ela, com um ar feliz.
Pegou-lhe na mão e puxou-o até à cozinha. Alonso ficou a vê-los afastarem-se e, sem mais demoras, perdido em pensamentos, pegou na pasta e no casaco e saiu.
Entrou no carro depois de ter apanhado uma chuva miudinha e, quando se viu no conforto quente do interior do carro, suspirou. Andava muito atormentado com os acontecimentos do último mês e preocupava-o sobretudo a segurança da irmã. Via-a tão apaixonada e feliz com Lorenzo Bartori mas sabia que mais tarde ou mais cedo aquilo ia acabar. Pelo menos, preferia acreditar que isso ia acontecer. Não conseguia aceitar o facto de que Bea estivesse com um vampiro. Não conseguia confiar em Lorenzo.
Mas não conseguia negar que, no fundo, e contra a sua vontade, Lorenzo era de confiança e que Bea estava bem e segura com ele. Eles os dois estavam felizes, e isso incomodava Alonso.
Não conseguia parar de pensar no seu segredo. Lorenzo não tinha dito nada a Bea porque esperava que fosse Alonso a dizer a verdade. Ele tinha razão, mas Alonso não tinha coragem para o fazer. E entretanto já se passaram quase duas semanas. Bea continuava na ignorância e era cada vez mais provável que descobrisse tudo por si mesma. Alonso sabia que tinha de falar com ela o mais depressa possível, mas não sabia como. Não sabia como chegar ao pé da irmã e dizer "sou um lobisomem". Ela ia sentir-se enganada, traída, talvez até abandonada.
Acima de tudo, preocupava-lhe a segurança da irmã.
Deixando todos estes pensamentos de lado, ligou o carro e afastou-se da casa pelo caminho de terra batida, em direção ao hospital da cidade.
Nesse momento, na cozinha de casa de Bea, ela e Lorenzo mantinham-se em silêncio. Bea tinha acabado de tomar o pequeno-almoço mas deixara-se ficar sentada e Lorenzo, sem saber o que dizer, ficou em silêncio, esperando que Bea reagisse.- Há novidades? – acabou por perguntar.
- Não. Anda tudo muito calmo, o que chega a ser preocupante...
Bea assentiu, sentindo a preocupação de Lorenzo.
Acima de tudo, pressentia algo, mas não sabia o quê. Abatera-se num ápice, a alegria com que acordara naquela manhã desapareceu e sentia-se incomodada, triste. Lorenzo apercebera-se dessa mudança de humor a meio do pequeno-almoço mas, como ela ficara em silêncio, decidiu não perguntar nada. Nem Bea lhe saberia responder a algo, ela própria não sabia porque é que se sentia tão triste.- Bom, vamos para as aulas? – perguntou Lorenzo, preparando-se para se levantar.
Bea pareceu ser arrancada de pensamentos profundos e acenou que sim. Levantaram-se e Bea foi num instante ao quarto buscar a mala e o casaco.
Saíram os dois para o frio da manhã. O céu prometia tempestade. Lorenzo sentia a aproximação de um nevão e Bea animou-se com a ideia.
Quando chegaram à escola, Lorenzo estacionou o carro ao lado do carro do seu irmão Rodrigo e saíram, de mãos dadas como de costume. Permaneciam muito calados, Lorenzo não queria pressionar Bea, queria deixá-la sossegada, a organizar as ideias. Pararam em frente da porta da sala onde iam ter História na primeira hora. Alexa e Federico esperavam por eles encostados à parede. Bea cumprimentou-os com um olá e um pequeno sorriso e entrou logo na sala. Lorenzo, ficando parado ao pé de Federico e Alexa, observou-a a entrar na sala e a sentar-se na mesa.- O que é que ela tem? – perguntou Alexa, preocupada.
- Discutiram? – tentou adivinhar Federico.
Lorenzo negou com um aceno de cabeça – Sinceramente não sei. Ela estava bem, estava contente quando eu cheguei a casa dela. Mas a meio do pequeno-almoço ela foi-se abaixo, ficou assim. Nem falámos muito...

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a herdeira
Vampir(história em pausa) Uma casa no meio da floresta, fechada há 28 anos. Uma biblioteca que esconde um cofre. Um sótão fechado à chave. Uma floresta onde acontecem coisas estranhas. Dois desaparecimentos e uma morte suspeita. Uma história com 50 anos...