13 - Beatrice

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- Sei que neste momento tens mais com que te preocupar, está tudo uma confusão... mas eu preciso de te dizer isto... eu preciso de te dizer que gosto de ti.

Paralisei ao ouvir as suas palavras. Eu esperava que ele me perguntasse o que é que eu sentia, se gostava dele, esperava ouvir perguntas acerca do que Alexa me dissera. Mas em vez disso ele disse o que eu menos esperava.
Por instantes revivi a primeira vez que tinha visto Lorenzo e os irmãos, na cantina da escola. Lembrei-me do quão fascinada fiquei com eles, o quão bonitos eram.
Nem percas tempo com isso, eles nunca olham para ninguém, nem se quer fazem amizades, só se dão entre eles. E no entanto eu estava ali, sentada ao lado de Lorenzo Bartori, uma das pessoas mais bonitas que alguma vez vi na vida.
Tomei então consciência que apenas o conhecia há meia dúzia de dias, e no entanto esses poucos dias pareciam anos. Tinham passado tão depressa que eu nem tinha tido oportunidade de parar para pensar em Lorenzo dessa forma. Nunca tentei perceber o que realmente sentia por ele. Sentia-me bem com ele, ele conseguia transmitir-me uma extraordinária sensação de segurança, sentia-me protegida quando estava perto dele. E sentia que estavamos muito ligados um ao outro, era como se fossemos atraídos um pelo outro como dois ímans. Mas significaria isso que eu gostava dele? Que estava apaixonada?
Tudo isto passou pela minha mente numa questão de segundos e, felizmente para mim, o momento foi interrompido pelo meu telemóvel a tocar. Tirei-o do bolso enquanto Lorenzo se descontraiu, olhando a floresta através da parede envidraçada. Pude notar um certo desagrado no olhar dele. Provavelmente não gostou que aquela conversa tivesse sido interrompida.

- Estou? – atendi sem ver quem ligava.

- Mana – a voz do meu irmão soou do outro lado da linha – Estás em casa?

- Sim, porquê?

- Eu chego a casa por volta das onze, gostava que ficasses à minha espera porque precisava de falar contigo.

Senti o meu coração acelerar muito e Lorenzo olhou para mim com um ar preocupado.

- Okay, eu espero por ti.

- Está bem, obrigado. Até logo.

- Até logo – e desliguei.

- O que é que achas que ele quer falar contigo?

- Não sei, mas parecia sério – murmurei – Só espero que isto não estrague a oportunidade de falar com ele sobre tudo o que tem acontecido.

Lorenzo assentiu e durante breves momentos mantivemo-nos em silêncio. Eu sabia que Lorenzo esperava que eu retomasse o assunto perdido, mas não tinha coragem para o fazer. Não me sentia preparada para ter aquela conversa.

- Bom, acho melhor ir andando... - falou em voz baixa – Falamos depois?

- Sim – respondi sem o encarar.

Ficámos em silêncio, imóveis, durante alguns minutos, talvez sem coragem de dizer ou fazer fosse o que fosse. Lorenzo acabou por suspirar discretamente e levantou-se. Fiz o mesmo e ele veio abraçar-me.

- Boa sorte para falares com o teu irmão – murmurou ao meu ouvido.

Senti-me extremamente confortável nos seus braços, mas infelizmente o abraço desfez-se e ele saiu silenciosamente do meu quarto.
Fiquei estática, tentando detetar qualquer sinal de movimento de Lorenzo e só quando o ouvi a abrir e depois a fechar a porta de minha casa é que respirei fundo e me deixei cair na minha cama. Mas em menos de um segundo levantei-me e corri para as vidraças, espreitando lá para fora.
Lorenzo estava parado, olhando pensativo para a floresta. Depois olhou para trás, observando a porta de minha casa. Sentou-se nas pequenas escadas que levavam à porta.
Deixei-me ficar encostada ao vidro frio. Sentia-me ridícula pelo que acabara de acontecer há poucos minutos. Como é que eu não tinha tido coragem de falar com ele?
Por breves momentos senti novamente a sensação do toque dele. Ele não estava ali ao pé de mim, mas era como se estivesse. E apesar de eu, até àquele momento, nunca ter pensado no que sentia por Lorenzo, o facto de ele ter tentado falar sobre isso fez despertar em mim a consciência do que eu realmente sentia. Não sabia se era amor, talvez ainda fosse um pouco cedo para o saber. Mas desde o primeiro instante que eu senti qualquer coisa por ele. Curiosidade, atração, proteção... Apercebi-me então que não sabia bem como descrever o que sentia, mas sabia que me sentia bem quando estava com ele. Demasiado bem. Eu gostava dele. E começava a aperceber-me de que gostava demasiado dele... sentia-me cada vez mais próxima dele, mais dependente dele, e apesar de não saber se isso era bom ou mau, não queria afastar-me dele.
Olhei lá para baixo. Lorenzo tinha-se levantado e andava de um lado para o outro. Parecia estar indeciso, parecia querer ir-se embora mas ao mesmo tempo ficar.
Desencostei-me do vidro e corri para a porta do quarto.

a herdeiraOnde histórias criam vida. Descubra agora