a herdeira

23 - Lorenzo

Assim que ouvi a porta a abrir senti logo a presença da Bea. Conseguia ouvir o seu coração tão acelerado que parecia querer saltar.
Desci as escadas em menos de dois segundos e cheguei à sala, onde o meu irmão Rodrigo acabava de a sentar no sofá. Imediatamente apareceu o resto da minha família e ficámos todos sem reação, sem perceber o que tinha acontecido.
Sentei-me ao pé dela e peguei-lhe nas mãos, que não paravam de tremer.

- Acho que está a ter um ataque de pânico – disse o Rodrigo, andando de um lado para o outro enquanto esfregava o cabelo nervosamente.

Milena aproximou-se dele – Isso é sangue?!

Todos olhámos para ele de olhos arregalados.

- Sim, sangue seco, eu estou bem.

- Afinal o que é que se passou?! – quase gritou Sandra, não por estar irritada mas porque estava extremamente nervosa.

- Eu estava a caçar, mas já me vinha embora quando me deparei com aquele gajo que vimos na escola. Atirou-se a mim e lutámos... e de repente a Bea apareceu.

Cerrei os punhos, irritado. Eu tinha-a avisado para não ir para a floresta!

- Ela ajudou-me, defendeu-se dando-me tempo para recuperar, mas de repente fomos atacados por setas. Não percebi quem era, mas provavelmente era a caçadora que andou por aí há uns tempos, não sei... - Rodrigo parecia estar muito perdido, sem perceber nada do que aconteceu – Foi estranho...

- Estranho?

- Porque quem quer que fosse, só atingiu o outro vampiro. Parecia que estava a tentar não disparar contra nós...

- E por que é que ela está neste estado? – perguntou a Alexa, sentada do lado direito de Bea.

- Não sei... Assim que o outro vampiro foi atingido a primeira vez, eu escondi-me atrás de uma árvore e chamei-a para vir comigo, mas ela estava meio... paralisada. Acho que viu alguma coisa que a deixou em estado de choque, eu tive de a tirar dali porque ela não reagia a nada.

- O que é que ela viu?

- Não sei, não faço ideia, mas ela não parava de olhar na direção de onde vinham as setas, eu acho que ela deve ter visto o...

- Era ela – disse de repente a Bea, parecendo sair do estado de transe, começando a tremer ainda mais e a chorar – Era ela...

- Ela quem? – perguntei instintivamente.

Ela abanou a cabeça negativamente, com as lágrimas a caírem-lhe descontroladamente.

- Por favor não a pressionem – pediu a Milena, nervosíssima – Ela reconheceu a pessoa que disparou contra vocês.

Todos olhámos para ela, na expectativa. Ela descendia de uma família de caçadores, mas até há pouco tempo ela desconhecia essa realidade. Como é que ela reconheceu um caçador?
Minutos depois ouvimos John entrar em casa e ao chegar à sala e ver a aglomeração criada em volta de Bea, percebeu que algo se passava.

- E o que é que aconteceu ao outro vampiro? Sobreviveu? – quis saber ele.

Olhámos todos para o Rodrigo, que claramente não sabia e encolheu os ombros.

- Não sei, eu arrastei a Bea comigo para longe e nem me lembrei mais dele.

- Bom, acho melhor ligar ao Alonso e contar-lhe o que aconteceu. Ele pode-nos ajudar com a Bea, ela não parece nada bem...

- É melhor não – disse logo eu, com um olhar que John percebeu imediatamente.

A Bea ainda não sabia que o irmão era um lobisomem, e o facto de ela ter reconhecido a caçadora não era bom e podia levar a que o Alonso revelasse a sua identidade. Notava-se que ela estava em choque com o que quer que fosse que ela tivesse visto, não era bom que ela logo a seguir viesse a descobrir a verdade sobre o irmão. Seriam demasiados choques de uma vez e deixá-la pior. Cada coisa a seu tempo.