Ao início achei demasiada curiosidade da parte dele, mas depois tentei tranquilizar-me. Afinal, estavamos a começar a ser amigos, era normal que fizéssemos perguntas um ao outro para nos conhecermos melhor. E, verdade seja dita, era óbvio que o facto de eu viver apenas com o meu irmão despertasse curiosidade nas pessoas.
Pouco depois de acabarmos de comer ele pediu para ir à casa de banho e quando regressou decidi fazer eu as perguntas.- Mas então e tu? Fala-me de ti.
- O que é que queres saber? - pareceu ficar nervoso.
- Não sei bem... Eu sei pouco de ti, só sei que tens três irmãos...
- Não somos bem irmãos - lembrou - Somos todos adotados, só a Sandra e o Rodrigo é que são irmãos de sangue.
- Hm sim, mas para todos os efeitos são todos irmãos.
Ele sorriu - O meu pai é médico, e a minha mãe é pintora.
- Pintora?! - entusiasmei-me.
- Sim, mas não é profissional. É só para passar o tempo. Mas tem muito talento...
Sorri ao concluir que iria adorar conhecer a mãe dele.
Subimos as escadas para o andar de cima e entrámos no meu quarto. Ele ficou a observar o espaço com atenção.- Gosto imenso do teu quarto, é acolhedor - elogiou, sorrindo.
- Obrigada - senti-me a corar.
*
Eram quase três da manhã quando Lorenzo se foi embora, e eu não conseguia deixar de pensar no quão bem eu me sentia ao pé dele. Falavamos de tudo com à vontade e, apesar de nos conhecermos há pouquíssimo tempo, já estavamos à vontade o suficiente para dizermos piadas e brincarmos com algumas situações. Era como se já nos conhecêssemos há anos.
No entanto, também reparei que ele fazia sempre questão de manter uma certa distância entre nós e que, quando se tocava em alguns assuntos, ficava mais sério.
Mas eu sabia que ele era de confiança. Não sabia explicar esse sentimento, simplesmente sabia que podia confiar nele. E era incrível a sensação de segurança que eu tinha quando estava perto dele. Sentia-me protegida com ele.*
Acordei com o despertador a tocar. Já eram sete da manhã. Peguei no telemóvel para desligar o despertador, tentando evitar abrir muito os olhos por causa da luz que entrava pelas vidraças. E fiquei irritada quando vi que era sábado. Por que raio é que me esquecera de desligar o despertador?! Pousei o telemóvel na mesa-de-cabeceira e virei-me para o outro lado, decidida a voltar a adormecer rapidamente.
Em vez disso, a minha mente fugiu para tudo o que acontecera na noite passada. Sorri quando me lembrei que Lorenzo passara a noite quase toda cá em casa.
Mas essa felicidade toda desvaneceu-se quando me lembrei do resto.
Suspirei e ergui-me, sentando-me confortavelmente na cama. Peguei novamente no telemóvel e marquei o número de Alexa. Continuava desligado. Cada vez me preocupava mais. Não era normal alguém passar tanto tempo incontactável, ou era? E aquele mau pressentimento em relação a isso que não me largava...

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a herdeira
Vampir(história em pausa) Uma casa no meio da floresta, fechada há 28 anos. Uma biblioteca que esconde um cofre. Um sótão fechado à chave. Uma floresta onde acontecem coisas estranhas. Dois desaparecimentos e uma morte suspeita. Uma história com 50 anos...