10 - Beatrice

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17 dezembro 1967
Ainda estou a tentar interiorizar o que acabou de acontecer.
Ontem à tarde fui passear pelos arredores de casa e deparei-me com um homem caído no chão, no meio das plantas. Pensei que estivesse perdido ou que tivesse simplesmente tropeçado e caído. Aproximei-me e vi que sangrava imenso de várias partes do corpo. No momento, não senti qualquer medo, apenas vontade de o ajudar. Certifiquei-me de que ele estava vivo e não pude deixar de pensar como é que era possível ele estar vivo depois de ter sido atingido por tantos tiros. Por instinto, criei uma barreira protetora à nossa volta. Minutos depois, outro homem passou por nós a correr, sem reparar em nós devido à barreira que nos escondia. Ele parecia andar a perseguir alguma coisa, talvez fosse um caçador. Apressei-me a ajudar o tal homem que estava caído e trouxe-o para casa. Nunca tive conhecimentos médicos mas tinha as coisas do meu marido guardadas no escritório. Levei-o para um dos quartos e tirei-lhe as balas do corpo. Eu continuava calma, sem perceber como. E, ao ver as feridas regenerarem à medida que as balas eram retiradas, percebi tudo.
Foi a primeira vez que estive frente a frente com um vampiro.
Eu sabia que, mais tarde ou mais cedo, eu iria dar de caras com um vampiro. Talvez fosse por isso que eu mantinha reservas de sacos de sangue em casa. Nunca se sabe quando surge um imprevisto, certo?
Neste momento ele está deitado no quarto, a recuperar forças. Ainda não falámos muito. Eu não tenho medo dele. Assim que as suas feridas regeneraram todas, a primeira coisa que ele fez foi agradecer-me pela ajuda.
Assim que ele recuperar totalmente, vou falar com ele.

Engoli em seco, ansiosa.
Estava a ler um dos diários que estavam dentro do cofre. Eram diários da minha avó. E eu ainda não conseguia acreditar no que ela escrevia. Custava-me a acreditar que ela não estava louca.
Virei a página.

18 dezembro 1967
John já se foi embora. Segundo ele, mora aqui perto e, como já estava totalmente recuperado, não me quis dar mais trabalho.
John Bartori é o nome do vampiro.
Mal ele sabia que não me dava trabalho nenhum e que era para mim um prazer poder cuidar dele. Mas ele insistiu que não estava em segurança e que precisava de se esconder durante uns tempos.
Explicou-me que, naquela tarde, foi caçar para a floresta e que acabou por ser encontrado e perseguido por um caçador de vampiros. Não lhe viu a cara, pelo que a ameaça se tornava maior por não conhecer o rosto do inimigo.
Uma das primeiras coisas que me disse, quando conseguiu falar, foi que eu não precisava de ter medo dele pois ele não se alimentava de seres humanos. Senti-me curiosa. Os vampiros alimentavam-se de pessoas, segundo as histórias que se contam por aí. Mas ele diz que é diferente, que não consegue magoar pessoas e que aprendeu a sobreviver com sangue de animais. Contou-me que é médico e que foi transformado quando tinha 36 anos mas que, como conta a idade a partir do momento em que foi transformado, tem neste momento 786 anos. Arrepiei-me quando o ouvi dizer isso e arrepiei-me agora que pensei nisso. É incrível. Parece uma pessoa totalmente normal, mas com uma beleza extraordinária, pele pálida, olhos da cor do mel.
Perguntou-me como é que o caçador de vampiros não nos viu quando passou por nós, na floresta. Expliquei-lhe então que pertencia a uma família de bruxas e que também eu possuía poderes. Agradeceu-me imenso pela ajuda. Vi no seu olhar que estava a ser sincero e que ficara em dívida para comigo.
Antes de se ir embora, prometeu-me que não me ia esquecer e que voltaria em breve.
Pode ser uma grande inconsciência da minha parte, mas irei ficar à espera dele.

Aquilo mais parecia um dos livros que eu tanto gostava de ler. Como era possível que tudo fosse verdade?
Voltei a ler aquela página e detive-me no nome do vampiro. Bartori.
Qual era a probabilidade do apelido daquele vampiro ser o mesmo de Lorenzo?
Apesar de aquilo não ser 100% certo, para mim era a confirmação que eu procurava.

a herdeiraOnde histórias criam vida. Descubra agora