10 - Lorenzo

17 7 0
                                    

Já era muito tarde e nas redondezas não se ouvia nada, nem o mais pequeno som.
Em casa de Beatrice, só ouvia o batimento acelerado do seu coração. Tinha-a ouvido a abrir o cofre e a tirar de lá tudo ele guardava. Preocupava-me o que ela teria encontrado no cofre que estivesse a deixá-la tão ansiosa.

- Posso saber o que fazes aqui a estas horas?!

Voltei-me de repente, irritado por ver Federico ali.

- Isso pergunto-te eu! O que é que fazes aqui?

- Vim buscar-te! - disse ele - Para te impedir de fazeres alguma asneira!

- E que asneira poderia eu fazer?!

- Para além de ires ter com ela e colocar-nos a todos em risco, não sei - disse ele com os olhos de um vermelho vivo.

Suspirei e voltei a observar a casa, que se mantinha escura, pesada, sombria.
Ao longe ouvimos um leve uivo.

- Isto foi um lobo? - perguntou Federico, assustado.

Ambos olhámos em volta, preocupados.
Não existiam lobos naquela zona do país. Se era realmente um lobo, tínhamos um sério problema nas mãos.

- É melhor irmos embora - disse o Federico.

Desta vez tinha de concordar com o meu irmão. Não estavamos seguros ali.
Sem hesitarmos, afastámo-nos da estrada e embrenhámo-nos na floresta. Em poucos minutos de corrida chegámos à nossa casa.
Entrámos em casa com uma expressão séria e preocupada. John, assim que nos ouviu entrar, veio imediatamente ter connosco.

- Também ouviram - concluiu ele assim que nos viu.

- Pode não ter sido um lobo - Milena desceu as escadas atrás dele.

- Não me pareceu que fosse um cão - comentou o Federico.

- Mas não temos a certeza se foi ou não um lobo - insistiu a Milena - Não te pareceu que tenha sido um cão mas pode ter sido.

- Então eu acho melhor irmos investigar. Corremos a serra à procura de pistas, de algum cheiro que nos indique se andam lobos por aí - Federico já se preparava para sair novamente de casa mas John pôs-se à sua frente numa fração de segundo.

- Ninguém sai de casa esta noite - ordenou - Vamos investigar o que se passa, mas amanhã pela luz do dia. E enquanto não soubermos o que se passa, ficam proibidas as noitadas fora de casa e se querem caçar, vão ao fim da tarde e sempre acompanhados uns pelos outros. Entendido?

E alternou o olhar entre mim e Federico, à espera que acedêssemos à sua ordem.
Assenti e subi as escadas. Depois do meu irmão prometer que cumpria a ordem, John veio atrás de mim até ao escritório.

- O que é que tens para me contar?

- A Bea está cada vez mais perto da verdade - suspirei, sentando-me numa das cadeiras.

- Tens de tratar do assunto, Enzo - disse ele, sentando-se na sua cadeira almofadada - Neste momento não podemos confiar na família dela.

- Porquê? - olhei-o nos olhos, preocupado com a sua expressão.

John reuniu uns papéis que tinha espalhado pela mesa e depois olhou-me.

- Eu vou ser sincero contigo - começou - Há uma coisa muito importante que eu não te tinha ainda contado.

- O que é? - quis saber, percebendo que o assunto era bastante sério e preocupante.

- A Beatrice contou-te como morreu o avô e porque é que a avó se mudou para Itália?

- Não... porquê? É importante?

- Sim... digamos que não é uma história bonita, e parece que naquela família tornou-se um hábito matarem-se uns aos outros...

Olhei-o com um ar confuso. O que é que o facto de o Alonso ter matado o pai tinha a ver com Rosa e o seu marido?
Ou será que...
De repente uma ideia horrível passou pela minha mente, mas era tão cruel que não quis acreditar que isso fosse possível.
John, sentado à minha frente, olhava-me com cara de quem sabia exatamente o que eu estava a pensar e, sobretudo, com uma enorme dor expressa no olhar.

- Exato - confirmou ele segundos depois, sem que fosse preciso eu dizer alguma coisa - A avó da Bea matou o próprio marido e foi por isso que se foi embora.

a herdeiraOnde histórias criam vida. Descubra agora