11 - Lorenzo

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Depois de Alonso sair, não fiquei muito mais tempo em casa de Beatrice.
Despedimo-nos e eu fui para casa, para tentar não enfurecer mais a minha família. Em casa só estavam Milena, Rodrigo e Alexa, que vieram imediatamente ter comigo assim que me ouviram entrar.

- Onde é que estiveste?! - gritou o Rodrigo, seriamente chateado.

Alexa manteve-se no seu canto, pacífica, não parecia estar chateada. Deu-me a sensação que ela até me percebia e não me censurava.
Milena também estava muito chateada e exigia explicações.

- Fui falar com a Bea. Ela descobriu tudo - disse simplesmente, deixando-os de boca aberta. Concluí então que John não tinha partilhado com eles a conversa que tivera comigo na noite anterior.

- Ela descobriu tudo o quê? Quem somos?

- Sim. E descobriu também alguns segredos que a família lhe escondia e que por acaso estão ligados a nós. Eu tive de ir falar com ela, acalmá-la, e garantir que ela não falava do que não devia com as pessoas erradas.

- Então e está tudo bem? - perguntou Rodrigo, mais calmo.

- Está tudo controlado - garanti.

Rodrigo respirou fundo e revirou os olhos, sentando-se no sofá da sala.
Alexa foi sentar-se ao pé dele.

- Vocês já podiam ter mais calma, não? - gritei, farto daquelas atitudes - Eu não sou nenhum inconsciente, okay? Vocês agem sempre como se fossem os únicos inteligentes nesta casa, como se eu não tivesse consciência do que faço!

Sentia-me tão irritado que nem me apercebi da chegada de John, que acabava de chegar a casa e assistiu ao que eu dizia.

- Posso saber o que se passa? - perguntou calmamente.

Revirei os olhos e dirigi-me para as escadas, subindo-as à velocidade da luz. Tranquei-me no meu quarto e comecei às voltas, irritado. As vozes deles chegavam até mim nitidamente.

- A Bea descobriu tudo e ele esteve até agora com ela.

- Disse que ela tinha descoberto umas coisas de família que estavam ligadas a nós...

- Ele está chateado porque todos lhe temos caído em cima por causa da história da humana. O Enzo gosta dela e sente-se farto da pressão que temos feito!

- Ele tem de perceber que só estamos preocupados!

- Mas não é a pressioná-lo e a refilar de todas as suas atitudes que vamos mostrar a nossa preocupação...

- Ele sabe o que faz, sabe que não nos pode pôr em perigo e tenho a certeza que também não quer magoar a Beatrice.

- Sim mas ao continuar próximo dela vai acabar por magoá-la!

- Eu não acredito nisso. Para além disso a Beatrice está demasiado ligada a nós e não é tão indefesa como parece.

- O que é que queres dizer com isso?

- Eu depois falo com vocês. Mas agora preciso de falar urgentemente com o Lorenzo antes de voltar para o hospital.

Segundos depois John apareceu à porta do meu quarto a pedir-me permissão para entrar.

- Ela já sabe de tudo... - murmurei quando ele se sentou ao meu lado.

Ele assentiu - Mais tarde ou mais cedo ela ia descobrir tudo.

- Sim mas... eu acho que não estava preparado para a reação dela...

- Ela reagiu mal?

- Não... Quero dizer, não reagiu mal ao facto de eu ser um vampiro, mas reagiu super mal quando soube do pai e do irmão... Foi um choque demasiado grande, quase desmaiou...

- Literalmente?

- Sim - revirei os olhos - Ela ficou muito abalada, demorou imenso tempo a recompor-se.

- É normal. A vida para ela era muito simples e de repente tudo muda. Vai demorar a ambientar-se.

Ficámos em silêncio por breves segundos.

- Ela disse-te se se passa alguma coisa de estranho com ela?

- Referes-te a algum tipo de poderes?

John assentiu.

- Não, ela não me falou de nada. Mas acho que, depois de todas estas descobertas, se ela se apercebesse de algo de errado consigo mesma, ia associar aos avós e provavelmente dizia-me...

- A menos que ainda não tenha pensado em si mesma. Se calhar está tão abalada com tudo isto que ainda não se lembrou que ela própria pode ser algo mais que uma simples humana.

Fazia sentido.

- Não te preocupes, eu vou estar atento. De qualquer forma acho que estamos mais próximos ao ponto de falarmos de qualquer coisa. Assim que eu tiver oportunidade para isso eu falo-lhe do assunto.

- Está bem - John levantou-se e só quando já ia a sair do quarto é que me lembrei de lhe falar de Alonso.

- Ah, hoje aconteceu uma coisa... estranha.

- O quê?

- Quando eu estava em casa da Bea, o Alonso chegou mais cedo do trabalho para ir mudar de roupa, provavelmente tinha de voltar para o hospital para um turno extra... - comecei a explicar - E nós escondemo-nos no terraço, do lado de fora do quarto da Bea, para que ele não nos apanhasse porque era suposto estarmos nas aulas...

- E? - John pareceu impaciente.

- E ele foi ao quarto da Bea, viu que ela não estava, saiu e foi tomar banho, e depois voltou ao quarto dela.

- O que é que isso tem de estranho? - John não parecia estar a perceber.

Suspirei.

- Da segunda vez que ele apareceu no quarto, parecia desconfiado, entrou de rompante e tudo, como se estivesse à espera de encontrar a irmã a sair do esconderijo...

- Estás a dizer que ele desconfiou que a irmã estava em casa? Porquê?

- Não sei. Mesmo estando com pressa de se esconder, a Bea fez a cama, pegou na mala e nos livros e levou-os para o terraço... Qualquer pessoa caía na mentira e não ia desconfiar que ela afinal não estava na escola!

- Tens razão. É estranho... mas pode não ser nada de especial...

- Não. Havia algo de errado com ele - insisti.

- Algo de errado como? - John voltou a aproximar-se mim - O que é que me estás a tentar dizer?

Suspirei. Eu não sabia o que dizer porque não tinha certezas de nada.

- Enzo?

Olhei-o enquanto revivia mentalmente o momento em que Alonso entrou pela segunda vez no quarto da irmã. Havia algo de errado com ele, eu senti-o.

- Eu não sei explicar... até porque foi a primeira vez que eu estive perto dele. Mas senti algo diferente, era como se... como se ele não fosse normal.

- Como assim?

- John, eu não consegui distinguir-lhe nenhum cheiro...

Os olhos de John arregalaram-se - Como assim? Ele não tem cheiro?

- Não te consigo explicar, mas foi como se... ele não existisse. Não senti nenhum cheiro, nem humano nem animal, como se ele não existisse, como se fosse só uma miragem...

- Mas ele existe - disse John, confuso - Mas o que é que sentiste mais?

Olhei-o, sentindo-me um pouco inquieto com aquele assunto.

- Senti... uma mistura de perigo com segurança...

a herdeiraOnde histórias criam vida. Descubra agora