- Como é que está a Alexa? – perguntei.
Segundos depois John entrou no meu quarto e veio sentar-se ao meu lado – Está inconsciente. O Rodrigo está com ela.
Revirei os olhos, não me surpreendia o facto de Rodrigo se ter voluntariado para transformar a humana.
- Sabes porque é que o Rodrigo quis transformá-la? – perguntou, preocupado – Ele insistiu imenso, estava mesmo decidido a tratar do assunto...
- O Rodrigo sempre teve um... enorme interesse, nela – expliquei – Mas não sei mais nada, ele nunca quis falar disso com ninguém.
- Estou a ver que se tornou um hábito por aqui ter interesse por humanos... - comentou ele.
Suspirei e levantei-me, caminhando pelo quarto. Sentia o seu olhar atento a seguir todos os meus movimentos.
- Ele contou-me que te aproximaste da rapariga – disse ele, parecendo querer entender-me – Tencionas contar-lhe?
- Não sei. Acho que não quero envolvê-la nisto – respondi, pensando pela primeira vez nesse assunto. Seria mau contar-lhe a verdade?
Suspirou – Ao menos ela é de confiança?
- Ainda estou a tentar perceber.
- Por favor, tem cuidado – pediu.
*
A noite já tinha caído, envolvendo a floresta num negro cerrado.
Eu estava sentado no alpendre, escutando com atenção os barulhos à minha volta.
Alexa acordara há quase duas horas e andava eufórica, ainda nem acreditando no que se tornara. Naquele exato momento, estava sentada na sala com Rodrigo e John, que tentavam perceber como é que Alexa foi atingida por uma seta de prata e caíra à beira da estrada, mas ela não se lembrava de nada.- A única coisa que me lembro foi de sair da escola mais cedo... Tinha decidido vir ver a vossa casa. Queria esconder-me aqui perto para poder descobrir alguma coisa sobre vocês... Eu sempre soube que vocês não eram normais e queria descobrir o que se passava convosco... Vim a pé, lembro-me de entrar no caminho de terra e de repente senti uma dor enorme a atravessar-me o peito e as costas, era como se tivesse parado de respirar... mas a partir daí não me lembro de mais nada, acho que caí ao chão e apaguei – explicara depois de muita insistência de John.
Passeei os olhos pelas árvores mais próximas, conseguindo distinguir os sons de cada animal que por ali andava. Mas não havia sinal de presenças humanas.
Preocupava-me tudo o que andava a acontecer.
Preocupava-me ainda mais o facto de Bea descobrir tudo. A conversa com John não me saía da cabeça. E se ela descobrisse? Seria mau? Será que ela me iria odiar? Ou iria adorar, tal como Alexa adorou quando acordou diferente?
De uma coisa eu tinha a certeza: seria tudo mais fácil se ela soubesse. Não teria de medir cada atitude minha, com medo de dar nas vistas. E ela poderia compreender-me melhor, poderia compreender a distância de segurança que eu fazia questão de manter em relação a ela.
Por outro lado, preocupava-me esta proximidade que eu criei entre nós. Não só pela insegurança que, atualmente, eu e a minha família vivíamos, mas também porque eu ainda não conhecia os meus limites perto dela. Ainda não sabia quanto autocontrolo possuía.

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a herdeira
Vampir(história em pausa) Uma casa no meio da floresta, fechada há 28 anos. Uma biblioteca que esconde um cofre. Um sótão fechado à chave. Uma floresta onde acontecem coisas estranhas. Dois desaparecimentos e uma morte suspeita. Uma história com 50 anos...