7 - Fugas, Corridas E Sair Do País

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Certo, eu admito, na verdade, eu não tinha pensado muito no que fazer depois de fugir — se eu conseguisse fugir, para começar a conversa. Mesmo assim, lá estava eu pegando minha mochila às duas da manhã.

As aulas haviam terminado há uma semana. Eu tinha passado de ano com louvor. Apesar de todo aquele lance das aulas de Prendas Domésticas cabuladas, acredite, eu era a segunda melhor aluna da turma — atrás da Sayuri, claro. E, ok, eu tive que fazer um trabalho extra de P.D., mas fora isso, foi com louvor. E, para ser sincera, a melhor parte de sair de férias nem era de me ver livre das aulas e do colégio interno e tal, mas sim me livras daquele uniforme maligno.

Porque, se quer saber, nem estava sendo muito legal voltar para casa. Não quando minha mãe estava toda entusiasmada com os planos para o meu casamento com o Sebastian. E ela não parecia notar o meu pavor com o assunto. Ela chegou até mesmo a me mostrar um monte de fotos de vestidos de noiva. Eu quase tive um treco. A minha vontade mesmo era tacar fogo em todas aquelas imagens. E aproveitar e queimar também todas as amostras de tecidos, fotos de decoração, cardápio e tudo mais. Toda vez que ela falava em buffet eu ficava mais apavorada, porque eu lembrava do Léo.

Mas não chegava perto de ficar tão apavorada quanto agora. Certo, então, lá estava eu, toda de preto, com um jeans, moletom e All Star — o que a imprensa diria se a princesa Sarah fosse vista por aí vestida como uma delinquente? —, sentindo minhas mãos suarem frio.

Com o coração martelando rápido contra meu peito, abri a porta do meu quarto devagar e espiei o lado de fora. Não havia ninguém no longo corredor. Infelizmente era impossível sair pela minha janela porque meu quarto ficava no primeiro andar. Com um último olhar angustiado para trás, respirei fundo e saí do quarto, atravessei o corredor e alcancei as escadas, correndo. Eu não tinha muito tempo. Era a hora da troca de turno dos guardas, mas logo eles apareceriam para ocupar seus postos. Dei uma olhada por cima da sacada e não tinha nenhum guarda que eu pudesse ver. Rápida como um raio, desci as escadas.

Eu não podia simplesmente sair pela porta da frente, porque os guardas ali eram os primeiros a voltar. Segui o corredor na ala leste do palácio, pretendendo sair pela porta da cozinha. Eu já estava no meio do corredor quando vi a sombra de um guarda prestes a dobrar a esquina e vir direto na minha direção. Sussurrei um palavrão — que ninguém deveria desconfiar que eu sequer sabia — e me joguei em um nicho na parede ao meu lado. Eu esperava não ser vista na escuridão. Prendi a respiração e ouvi os passos pesados das botas se aproximando cada vez mais. Meu coração quase parou enquanto o ouvia chegar mais perto. Finalmente, suspirei aliviada quando o Amaury, um dos guardas mais novos do palácio, passou por mim sem me notar. Observei até ver o seu uniforme azul-marinho da guarda real desaparecer de vista.

Assim que ele virou o próximo corredor, eu saí do nicho e corri até a cozinha, vazia àquela hora. Eu já tinha pego bastante comida escondido, então, não parei para assaltar a geladeira ou qualquer coisa assim. Apenas corri até a porta. Dei uma espiada para fora, para o jardim.

As luzes ao redor do palácio estavam acesas, como todas as noites, o que não me ajudava nem um pouco a me camuflar. Mas eu precisava agir. E rápido. Porque os guardas estariam de volta por todos os lados a qualquer momento. Saí da casa, rezei para não dar de cara com ninguém e corri.

Sério, corri mais que o Usain Bolt. Corri como se minha vida dependesse disso — e até que dependia mesmo. Atravessei todo o jardim dos fundos. Deixa eu dizer uma coisa: o jardim dos fundos tinha metros e metros quadrados, mas eu os atravessei em segundos — surpreendentemente, sem tropeçar.

Vi que, ao longe, dois guardas vinham bem na minha direção, embora eles ainda não me vissem. Eu já estava no fim do jardim. Tomei impulso e me arremessei no portão de grades douradas, escalando-o. Dessa vez, os guardas me viram e começaram a correr em disparada, gritando — e provavelmente chamando a atenção de outros guardas.

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