Guardei o celular no bolso e parei onde estava, percebendo que inconscientemente eu tinha tomado justamente o caminho do pomar. Se eu sabia explicar o que estava fazendo ali? Não. Pensei em dar meia volta e ir até a cozinha procurar algo para comer, mas uma coisa chamou a minha atenção.
A vários metros de onde eu estava, algo passou voando rapidamente entre as árvores. Rápido o bastante para eu não distinguir do que se tratava, mas pouco depois, pude ver também o Christopher passando calmamente na mesma direção. Ele não me notou. Continuei observando até ele voltar de onde veio carregando nada menos que uma flecha na mão.
Era possível que eu estivesse sendo curiosa e intrometida? Sim. Na verdade, era provável. Mas dei a volta no pomar e o encontrei em um espaço aberto. Ele ainda não tinha me visto — talvez porque ele estava muito concentrado no que fazia —, enquanto eu me aproximava, sem que ele me visse, ele tirou uma flecha da aljava — que não estava nas suas costas como eu achei que fosse a única forma que existisse, mas sim presa à sua cintura — e a colocou no arco. Ele posicionou o arco e mirou.
— Uau! — Exclamei, impressionada. — Eu nunca achei que você soubesse usar arco e flecha!
Ok, talvez eu tenha falado em um momento inoportuno. Mas não é como se fosse uma novidade para mim. Falar em momentos inoportunos, eu quero dizer. Eu sei que foi um momento inoportuno porque deu para perceber o segundo exato em que ele se sobressaltou e soltou a corda do arco.
Nós dois observamos a flecha cortar o ar em uma velocidade incrível e passar vários metros acima do alvo, fincando-se no tronco de uma árvore. Ele suspirou. Arfei e cobri a boca com uma mão.
— Me desculpa — falei, a voz abafada porque ainda cobria a boca. — Sério, desculpa. Eu não queria te atrapalhar.
Ele, que ainda estava de costas para mim, se voltou na minha direção.
— Era apenas um tiro — ele esclareceu, sem demonstrar aborrecimento. — Não tem importância.
Enquanto falava, ele começou a se afastar. Baixei as mãos e observei enquanto ele atravessava o espaço descampado e arrancava a flecha do tronco. Ele voltava flexionando a flecha e aparentemente analisando-a. Quando se aproximou novamente, ele meio que agitava a flecha próximo à orelha.
— Parece que esta não será mais útil.
Ele descartou a flecha.
— Foi mal. — Encolhi os ombros. Ele apenas olhou para mim e ergueu uma sobrancelha com um ar displicente. Meio que inconscientemente me ouvi completando com o que ele diria: — Era apenas uma flecha...?
Ele assentiu, parecendo satisfeito por eu ter entendido. O fato de ele não ter ficado aborrecido, me estimulou:
— Eu posso continuar te atrapalhando? — Brinquei.
— Fique à vontade — ele respondeu tranquilamente.
Tomei a liberdade de sentar sobre uma pedra grande, longe o bastante para não atrapalhar seus movimentos.
Ele se posicionou outra vez, pegou outra flecha na aljava e a colocou no arco. Arrumou a postura e olhou para o alvo que estava a pelo menos trinta metros de nós. Ele soltou a corda do arco com um movimento fluido e vi a flecha atingir exatamente o centro do alvo. Ele disparou mais três flechas seguidas. Todas acertando a parte central do alvo.
Enquanto eu permanecia estupefata, ele foi até o alvo buscar as flechas e as recolocou na aljava distraidamente. Apenas quando ele voltou — e eu consegui formular uma frase completa — exclamei, quase pulando de empolgação:
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Real
Подростковая литератураSarah achava que já tinha problemas demais para lidar entre a escola, as cobranças da família, o seu namorado secreto e o fato de ser uma princesa em um país prestes a entrar em guerra com seu vizinho. Mas percebe que as coisas podem ficar ainda mai...