55 - Atrasos, Jaquetas e Despedidas

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Eu tinha acordado mais uma vez na madrugada, quando o Christopher começou a se agitar excessivamente sob a coberta. Achei que ele tinha enfim acordado e percebido que tinha ficado demais — não que eu me incomodasse em tê-lo ali, muito pelo contrário. Mas quando sentei na cama, ainda sonolenta, e acendi a luz do abajur para poder ver melhor, percebi que ele ainda dormia. Provavelmente estava tendo um pesadelo.

Não sei o que deu n minha cabeça quando me arrastei para fora da cama e passei suavemente os dedos entre os cabelos dele, afagando. Ele balbuciou algo ininteligível. Fiquei em alerta um segundo, esperando que ele fosse começar a gritar. Mas em vez disso, ele apenas parou de se agitar e se acalmou. Voltei de mansinho para a minha cama e esperei um pouco para o caso de ele se estressar de novo. Dormi antes que isso acontecesse.

Acordei sobressaltada com alguém batendo à minha porta. Dei uma olhada no celular e levantei da cama de um salto. Já passava das oito e meia! Eu estava super atrasada! Certamente era a Cecília que estava vindo me dar uma bronca por não ter aparecido até agora.

Olhei para o lado e, para minha surpresa, o Christopher ainda estava deitado na poltrona. Assim como eu, ele parecia ter despertado com as batidas na porta, mas ainda não tinha se movido. As batidas insistiam, dessa vez, impaciente.

— Já vai — gritei, passando as mãos pelos cabelos e correndo até a porta.

Abri apenas uma fresta para garantir que, quem quer que fosse do outro lado, não visse o Christopher. Qual não foi minha surpresa ao dar de cara com a Isadora me encarando om seu ar de desdém habitual.

— E então, novata, o seu despertador quebrou?

— O quê?

— Está atrasada — ela respondeu, afetada. — A Cecília está aborrecida. Ela me mandou vir atrás de você. — Enquanto falava, ela tentou espiar alguma coisa dentro do meu quarto, sem se dar ao trabalho de disfarçar. — Devo dizer que você está doente ou você quer inventar uma outra desculpa?

Tentei fechar ainda mais a porta, me apressando em dizer:

— Não. Eu estou bem. Só preciso de alguns minutos.

— O que é isso?

Antes que eu pudesse entender o que ela estava fazendo, a Isadora enfiou a mão pela fresta da porta e pegou a jaqueta do Christopher, que estava pendurada no cabideiro.

— Isto é uma jaqueta masculina! Um cara dormiu com você!

— Não é nada disso! — Retruquei, tomando a jaqueta da mão dela abruptamente.

— Por isso você se atrasou. Confessa! Você sabe que esse tipo de comportamento é proibido por aqui, não sabe? — Ela parecia mesmo estar se divertindo. Se fosse possível, o veneno estaria escorrendo pelos cantos da boca dela. — Eu vou contra para todo mundo!

— Você não vai fazer isso — me alarmei. Ela não podia estar planejando um mau-caratismo tão grande. Lamentei que eu só parecesse apavorada em vez de ameaçadora.

— Lógico que vou — ela riu.

Sem que eu esperasse, aporta foi puxada, se abrindo. O Christopher surgiu ao meu lado, em toda a sua postura — era incrível que ele pudesse parecer tão bonito logo depois de acordar. O queixo da Isadora caiu antes que conseguisse se conter, observando-o paralisada. Foi ele que falou primeiro, com o tom de voz mais gelado e sério que já escutei.

— A senhorita não contará absolutamente nada. Porque se eu escutar qualquer rumor, por menor que seja, saberei de onde veio. Fui claro?

A Isadora levou um instante para digerir a informação, mas por fim, assentiu com a cabeça rapidamente, gaguejando um:

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