68 - Protestos, Rompantes e Desafios

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De repente uma dúzia de guardas reais e um conselheiro apareceram brotando de todas as direções. Sério, eu achei que eles estavam vindo para nos prender, mas depois do terceiro ou quarto grito de "alteza" — que naturalmente não se dirigia a mim ou ao meu irmão —, percebi que todos estavam apenas muito interessados em encontrar o Christopher.

— O que está havendo? — Ele perguntou, preocupado, ao primeiro que se aproximou. Este perdeu dois segundos preciosos olhando para todos nós, confuso, e acabou sendo interrompido.

Como se tivesse surgido do nada, o rei Carlos Alberto estava na entrada do gazebo. Dava para ver de longe que ele estava nada menos que absolutamente enfurecido. Por isso eu não deveria ter me surpreendido tanto quando ele esbravejou para o Christopher:

— O que você fez? Me fale, o que você prometeu para eles? Por que eles estão te idolatrando?

Franzindo as sobrancelhas, ele encarou o pai sem titubear, mas pude sentir a mão que segurava a minha ficar fria repentinamente. Hesitando, ele soltou meus dedos e atravessou o gazebo, desceu os degraus e fitou o rei com firmeza.

— Eu não prometi absolutamente nada à população. Se eles estão entoando o meu nome em vez do seu, talvez seja porque nos últimos tempos eu trabalhei para eles. E, aliás, se o senhor estivesse tão preocupado com a sua popularidade, não teria deixado todo o país sob a responsabilidade de um garoto de quinze anos.

Com um sorrisinho irônico, o rei salientou:

— Mas você não tinha um QI tão alto? Não era tão inteligente?

O Christopher estreitou os olhos, condescendente:

— Não importa qual o meu QI ou o meu grau de escolaridade. Isso não muda a idade que eu tinha quando decidiu tirar o seu "ano sabático", que se estendeu por mais dois anos!

Em um acesso de raiva, o rei agarrou o braço esquerdo do Christopher com violência. Confesso que deixei escapar um gritinho de susto, tampando a boca com as mãos enquanto percebia a reação de dúvida dos guardas de Nova Germânia. Eu admito que estava mais amedrontada por saber bem das consequências que um desses acessos de raiva podia ter.

— Você vai agora mesmo falar com essa multidão! —Ele esbravejou ameaçadoramente: — Você vai usar toda essa sua influência para anunciar que está satisfeito com o meu retorno.

Para a minha surpresa, dessa vez o Christopher se empertigou sem hesitação. Eu podia sentir que todos ao redor estavam tensos, mas eu não conseguia desviar os olhos do cara que quase era me namorado. Parecia que até o vento cessara de soprar e o único som era das pessoas que ainda clamavam pelo príncipe.

— Eu não farei nenhum discurso a seu favor — O Christopher falou, baixo. — Eu não usarei essa "influência" que o senhor supõe que possuo para manipular as pessoas. — Enquanto o pai o encarava claramente em choque com a atitude dele, ele puxou o braço se desvencilhando. — Eu não sou mais o garotinho que o senhor podia controlar. Aliás, caso tenha esquecido, eu tenho conhecimento de coisas nas quais talvez as pessoas acreditassem hoje em dia.

Pego completamente desprevenido, o rei deu um passo para trás como se tivesse levado um tapa. Embora tentasse parecer imponente, deu para notar quando ele vacilou.

— Isto é uma ameaça, Christopher? — Ele ensaiou um sorriso cínico.

— Não — ele respondeu calmamente. — É apenas um lembrete.

O olhar que o rei lançou tentava parecer debochado, mas sendo somente preocupado. Como se tivesse acabado de aterrissar ali, seu olhar caiu sobre meu pai, indo depois ao meu irmão e em mim logo depois. Era como ser analisada por uma pedra de gelo. Um frio percorreu a minha espinha. O sorriso que se estampou em seu rosto era arrogante — era cada vez mais difícil para mim acreditar que aquele homem intragável era o pai do Christopher.

— Ora, tínhamos uma reunião agendada com Veritas hoje? Caso contrário, por que ainda continuam aqui?

Os guardas levaram um segundo a mais para entender que aquilo era uma ordem para nos retirar a todos. Porém, antes que eles fizessem qualquer coisa, a voz firme do Christopher os parou:

— Não. Eles ficam. — Ele não falava alto, mas todos os guardas o escutaram com solenidade. — Possivelmente... serão nossos aliados.

— Nós não fazemos negócios com Veritas — o rei exaltou-se. — Eles querem acabar conosco!

— Talvez as coisas mudem, pai. Algumas coisas não precisam ser da mesma forma para sempre. Eu...

O rei o interrompeu:

— O que vocês estão esperando? Eu ainda sou o rei! Vocês ainda obedecem às minhas ordens. — Eu não me surpreenderia se até os guardas do outro lado do palácio tivessem escutado os berros. — Tire-os daqui!

— Não. — O Christopher discordou.

Todos os guardas pararam exatamente onde estavam. A reação do rei era de quem não acreditava no que seus olhos estavam vendo. O próprio Christopher parecia um pouco surpreso — era fácil para mim notar.

— Vocês estão se rebelando?! — Ninguém respondeu nada. Todos eles olhavam para a frente, sem expressão.

Meu pai interrompeu a discussão cautelosamente:

— Na verdade, nós já vamos nos retirar. Tínhamos alguns assuntos para tratar com o príncipe. Suponho que agora possam ser debatidos durante a semana, não precisa ser imediatamente. Vamos Felipe, Sarah.

Tomada por uma energia repentina, saí do meu torpor e percebi o quanto eu estava próxima de não haver nenhum empecilho entre nós. Eu não podia deixar a chance de ter as coisas finalmente resolvidas. Amanhã podia estar tudo complicado novamente. Eu não podia deixar passar.

Como se meus pés tivessem de repente vida própria, atravessei correndo e ultrapassei meu pai e irmão, descendo os degraus e parando bem ao lado do Christopher.

A minha vontade mesmo era de beijá-lo lentamente até ver aquela angústia desaparecer de seus olhos, mas infelizmente eu não podia. Portanto, me contentei em abraça-lo e dizer:

— Sim. — Céus, eu não sabia como tinha sentido saudade daquele perfume dele.

Pego de surpresa, ele envolveu minha cintura com um braço, sem muita confiança. Admito que me senti um tanto frustrada quando ele me afastou um pouquinho com gentileza, para que eu o olhasse.

— Sarah, você não precisa responder agora só por causa dessa confusão. — Sua voz era tranquilizadora e notei que ele não olhou para conferir a reação do pai dele.

— Não se iluda, isso não tem nada a ver com a confusão. — Sorri. — Nem vem, agora não dá mais para voltar atrás.

Sério, senti mesmo meu coração aquecer quando ele sorriu para mim. Eu sempre amaria ver aquelas covinhas adoráveis.

— Vocês estão juntos!? — O pai dele perguntou ríspido. Seus olhos frios me analisando uma segunda vez. Eu só podia imaginar que ele estava me comparando com a ex-noiva do Christopher. — Tenho que admitir que você foi esperto, garoto. Nem mesmo eu teria pensado nessa solução para me tornar aliado de Veritas.

O sorriso do Christopher morreu em um milésimo de segundo. Com um suspiro cansado, ele desviou os olhos para o pai e respondeu, seco:

— Não que seja do seu interesse, mas meu relacionamento com a Sarah não tem nenhuma relação com interesses políticos. — Eu senti a mão dele me apertar um pouco mais forte antes de me soltar, como se não quisesse realmente fazê-lo. Me soltar, quero dizer. Ainda era com seu pai que ele falava quando murmurou: — Nós precisamos conversar. E o melhor é fazermos isso na parte de dentro da casa.

Meu pai veio na minha direção, seguido pelo Felipe. Os dois evitavam encarar o rei Carlos Alberto por muito tempo. Apenas ofereceram breves cumprimentos tanto a ele quanto ao Christopher — embora tenham se demorado um pouco mais no segundo.

Hesitante, soltei o Christopher e segui o meu pai, arrastando os pés. Lancei um olhar para trás o quanto foi possível e o Christopher me olhava. Ele deve ter me acompanhado com os olhos até que eu sumisse de vista.

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