46 - Revelações, Omissões e Esquivas

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Não posso dizer que não estava nervosa com a perspectiva de encontrar com o Christopher no dia seguinte. Tipo assim, não é como se eu achasse que estávamos namorando ou qualquer coisa assim só porque agora eu não estava mais com o Leonardo. Eu não fazia ideia de como agir agora. Como eu devia encarar o cara com o qual eu talvez tivesse dado uns amassos um dia antes, quando ele não era meu namorado nem nada?

Eu sabia que ele não tinha ido para o centro da cidade. Ele tinha saído da cama, sim. Mas tinha ficado trabalhando em casa. De modo que eu estava me esgueirando pelos corredores do palácio, olhando para todos os lados, com medo de dar de cara com ele.

Não, eu não estava me escondendo. Era só... sabe, uma precaução enquanto eu ensaiava alguma coisa para dizer.

Ok, quem eu queria enganar? Eu estava me escondendo, sim. Pode me julgar.

E eu estava tendo sorte. Já passava muito do almoço e ainda não tínhamos nos encontrado. Mas eu não era mesmo conhecida pela minha sorte. E não adiantou nada o meu esforço para bancar o Homem Invisível, já que não pensei em me esconder da Cecília. E ela, quando me encontrou no almoxarifado, foi mandando que eu levasse um café para o príncipe. Tentando não expressar toda a minha frustração, salientei:

- Ele tinha pedido para trocar o café por um chá. - Era mentira, claro. Mas já que eu ia ter que ir contra todos os meus receios de confrontá-lo, podia pelo menos não colaborar com a insônia dele.

A Cecília pareceu estranhar, mas não discutiu, apenas falou que ia providenciar. Eu pensei em aproveitar para correr dali e me esconder atrás de qualquer estante, mas ela fez com que eu a seguisse. Ela não dava a impressão de estar propensa a voltar ao assunto polêmico do dia anterior e não era eu que ia retomar. Fiquei em silêncio enquanto ela dava um jeito de substituir o café por chá de frutas vermelhas.

Pelo visto, felizmente, a Cecília não havia contado a ninguém sobre o dia anterior. Sobre o beijo, eu quero dizer. Céus, eu até podia imaginar o escândalo se todo mundo soubesse.

Peguei a bandeja, na qual além da xícara de chá, eu podia ver que a Virgínia adicionara biscoitos. Percebi que minhas mãos suavam de nervosismo. Atravessei o palácio com um turbilhão na cabeça, ensaiando mentalmente respostas para qualquer possibilidade do que ele poderia dizer.

Equilibrando a bandeja em uma mão - e fazendo preces para não a derrubar no chão -, bati com os nós dos dedos da mão livre na porta do escritório, onde a Cecília dissera que eu encontraria o príncipe. Me peguei torcendo para que ninguém respondesse. Mas minha esperança não durou muito, em vez disso senti o coração disparar descontrolado assim que aquela voz conhecida soou:

- Pode entrar. - Seu tom era distraído.

Sentindo meu sangue correr mais rápido nas veias, girei a maçaneta e abri a porta. Ele não estava sentado atrás da mesa, como sempre. Em vez disso ele estava em pé, próximo a uma das estantes, falando no telefone. Era realmente uma bela visão - eu certamente conseguiria ficar ali admirando-o como faria com uma paisagem bonita. Ele não estava usando terno e gravata, como também costumava usar para trabalhar. Dessa vez ele vestia um suéter azul-claro sobre uma camisa branca, uma calça jeans que se ajustava perfeitamente, sem ficar nem um pouco apertada, e sapatos Oxford. Admito que perdi um tempo acompanhando o movimento do cabelo dele, que caía em seu rosto sem gel ou qualquer outra coisa para mantê-lo no lugar.

Devo ter ficado olhando fixamente - e, provavelmente, de queixo caído - por tempo o bastante para que ele achasse estranho e voltasse os olhos na minha direção curiosamente. Parecia surpreso em me ver.

- Com licença - murmurei, enfim, fazendo com que ele franzisse as sobrancelhas, confuso. Baixei os olhos e caminhei até a mesa, depositando a bandeja sobre o tampo de mogno.

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