38 - Missões, Quartos e Dom Quixote

2.3K 278 82
                                    

Na segunda-feira seguinte, quando todas achávamos que a Cecília não podia inventar mais nada novo para que nós fizéssemos, ela achou que seria uma boa ideia limpar outra vez antes do Natal todos aqueles salões que ninguém nunca usava. Normalmente, o pessoal responsável pela ala social do palácio quem cuidava disso, mas como se tratavam de muitos cômodos para pouco tempo, ela mandou que a Rose e a Isadora fossem auxiliar na tarefa.

E, ok, não é como se eu estivesse ansiosa para encarar o Salão Prateado ou qualquer coisa do tipo, mas fiquei confusa quando a Cecília não citou meu nome. Mas foi idiotice minha perguntar.

- Eu tenho outra coisa para você - foi o que ela respondeu, me guiando até o almoxarifado e em seguida ao primeiro andar.

- Certo. O que eu devo fazer? - Perguntei, enfim.

- Vou te deixar responsável por esse cômodo hoje. - Ela indicou a porta à nossa frente.

- Este!? - Arregalei os olhos até eles quase saltarem das órbitas. - Mas esse é o quarto do príncipe!

- Exatamente.

- Mas... a senhora normalmente faz isso pessoalmente.

- Eu sei. Mas estou certa de que é um bom momento para abrir uma exceção. Tenho muitas coisas para organizar e tenho certeza que você dará conta da tarefa.

- Mas... mas... eu não... eu nunca entro nesse quarto!

- Sarah, o príncipe parece simpatizar com você. Tenho certeza que, se alguém pode fazer isso no meu lugar, esse alguém é você. - Ela passou por mim, indo em direção às escadas. Se voltou e acrescentou: - Só tente não mudar as coisas de lugar. Ele não gosta muito.

Parei a meio caminho da porta, mas a Cecília já começava a descer os degraus. O que ela queria dizer com "ele não gosta muito"? Se eu, por acidente, esquecesse o lugar original do que quer que fosse, o príncipe iria ter um acesso de fúria? Ia virar o Hulk?

Girei a maçaneta, torcendo para estar trancada - assim eu ia ter uma desculpa. Mas, como era de se esperar, estava aberta - não é como se eu fosse conhecida pela minha sorte. Empurrei a porta devagar, puxando o material de limpeza e tudo mais. Eu sabia bem que o Christopher não estava no quarto - ele não estava nem na residência, na verdade -, mas mesmo assim era intimidante.

O quarto ainda estava escuro por causa da cortina pesada que ainda estava fechada. A primeira coisa que fiz foi abrir as janelas. A luz do sol iluminou o ambiente. Dei uma olhada em volta. Na real, não estava muito bagunçado nem nada. A não ser pela cama com lençóis revirados. Sério, parecia que um trio elétrico tinha passado por cima do colchão dele durante a noite. E até onde eu sabia, ele não tinha tido nenhuma companhia noturna para fazer algo além de dormir - se é que você me entende.

Forrei a cama, me esforçando para não abraçar os travesseiros quando o perfume cítrico dele, que se desprendia das fronhas, impregnou meus sentidos. A contragosto, deixei os travesseiros de lado, passando a limpar os móveis.

Eu continuava achando que o quarto inteiro parecia meio impessoal. Mais parecia que aquele quarto poderia pertencer a qualquer um. Porém, olhando com mais atenção, na estante de livros tinha um punhado de volumes em outros idiomas, que deviam ter sido escolhidos a dedo para ficar ali e não na biblioteca, no térreo. Incluindo o que parecia ser Jogos Vorazes em alemão e uma prateleira inteira para a edição dinamarquesa de Harry Potter, além de uma edição ilustrada em inglês, que era de chorar de tão bonita.

Sobre a escrivaninha tinha uma caixa nova recém-aberta de penas para as flechas. Quando tirei para limpar, vi que eram importadas - pelo visto, ele levava a sério os equipamentos de arquearia. O notebook deixado por ali, era coberto com um adesivo de Star Wars. No fim, dava para reconhecer o Christopher nos detalhes.

Eu estava morrendo de medo de tirar as coisas do lugar para limpar e depois esquecer onde estavam. Achei difícil que o Christopher desse um chilique por causa disso, mas nunca se sabe. Não é como se eu o conhecesse super bem. Ele tinha dito que poucas coisas o tiravam do sério, mas, até onde eu sabia, aquela podia ser uma dessas coisas.

Quando terminei de tirar todo o pó imaginário - sim, pois não encontrei nenhuma mísera sujeirinha sobre nenhum daqueles móveis -, tentei colocar tudo exatamente nos mesmos lugares. Mas sabia que ele poderia brincar de Jogo dos Sete Erros mais tarde, porque não tinha ficado perfeito. Contudo, era o melhor que eu podia fazer.

Ao pegar uma edição dos anos sessenta de Dom Quixote de La Mancha - em espanhol, claro - para recolocar sobre a cômoda - ainda que não me parecesse o lugar adequado para um livro, eu lembrava que era onde estava -, alguma coisa caiu de dentro, indo para o chão. Abaixei para recolher e percebi que era uma fotografia. Uma mulher jovem sorria para a câmera, que focava seu rosto. Eu tinha de admitir, ela era muito bonita. Muito bonita mesmo. O cabelo comprido, caindo com sedosamente sobre seus ombros era castanho-escuro, assim como seus olhos com cílios tão longos que chegava a ser injusto com as outras mulheres. Seus olhos se estreitavam ainda mais com o sorriso que mostrava covinhas e as sardas que salpicavam seu nariz e bochecha era somente um detalhe charmoso.

Embora, eu nunca a tivesse visto na vida, ela me parecia familiar.

- O que você está fazendo!? - Quase deixei a foto cair das minhas mãosquando a voz séria soou próximo de mim.

__________

Oi, oi

Gente, me desculpem pelo atraso do capítulo. Eu fiquei sem internet, mas aqui está

Bjs

RealOnde histórias criam vida. Descubra agora