37 - Revistas, QIs e Latim

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Assim que a Isadora fechou a porta atrás de si, vi que a postura do Christopher se tornou menos retesada. Ele falou, reprovador:

- Sarah, nem preciso dizer que você não deve irromper no meu escritório. Pelo menos, quando não tiver conhecimento se há mais alguém além de mim. As pessoas acharão estranho.

- Eu sei. Foi mal... - disse, me jogando na cadeira à sua frente.

- Certo, certo... - ele dispensou minhas últimas palavras. Se recostando na cadeira, ele perguntou: - Diga-me, qual o motivo da agitação?

Seus olhos me fixavam como se eu realmente tivesse toda a sua atenção agora.

- Ah, bem... - por um instante quase esqueci totalmente o que eu ia falar. Pisquei algumas vezes para ordenar outra vez os meus pensamentos, sentindo meu rosto esquentar. - Você conhece a revista Sunday?

Ele franziu a testa, claramente pego desprevenido por essa pergunta e sem entender onde eu queria chegar.

- Acho que já vi algumas senhoras lendo, na escola. Mas eu pessoalmente nunca li. Não costumo consumir esse tipo de mídia.

- Bem, normalmente, eu também não. - E era verdade. Eu não costumava ler fofocas de celebridades que possivelmente eu conhecia. - Mas você sabe que todos os anos a revista faz a lista dos "melhores partidos" da nobreza?

Ele meneou a cabeça, negando.

- Hum... - Ele murmurou. - Com base no quê? Quero dizer, quais são os critérios usados?

- Ah, nível social, popularidade, beleza... essas coisas.

- Tudo que não tem importância? - Ele concluiu. E não era uma piada nem nada. Ele realmente falou isso com curiosidade apenas.

- É... acho que sim - respondi, encolhendo os ombros. - Tipo, não é nada para ser levado a sério também. - Ele continuou me encarando com atenção. - Mas talvez você queira saber que ficou em terceiro lugar.

Sua expressão não se alterou nem um milímetro. Nem mesmo piscou. Eu não saberia dizer se ele se importava muito pouco ou se simplesmente não estava surpreso - eu não o culparia se fosse a segunda opção, porque, tipo assim, se eu tivesse aquele rosto eu também acharia normal estar em qualquer pódio.

- Acho que meu assessor de imprensa me mandou um e-mail sobre isso ontem. - Isso explicava porque ele não estava surpreso, eu acho. - Mas, para ser sincero, sempre que se trata dessas notícias de tabloide eu não dispenso muita atenção. Na verdade, só cheguei a passar os olhos por cima da mensagem assim que vi do que se tratava.

Ergui uma sobrancelha. Bem, eu não tinha uma assessoria de imprensa só para mim, mas talvez, se tivesse, eu também não me preocupasse em querer saber cada coisinha que aparecia por aí sobre mim.

- Quer saber o diz?

Ele deu de ombros. Ok, provavelmente, eu estava mais interessada em ver sua reação do que ele em descobrir o que a matéria dizia. E, cara, com certeza, ele também sabia disso, já que apenas inclinou um pouco a cabeça e se ajeitou na cadeira, esperando que eu prosseguisse.

Certo, talvez eu estivesse fugindo do olhar dele quando levantei e comecei a andar enquanto lia em voz alta:

"Christopher Miguel Elliot Morgstern II, o príncipe herdeiro do reino de Nova Germânia, com dezoito anos, já tem governado o país há três, desde que o rei Carlos Alberto se afastou, e tem tido ótimos índices de popularidade.

Dono de um par marcante de olhos azuis, há pouco tempo terminou um relacionamento com nossa vigésima colocada, Alice Hilbert. Porém, se você estiver pensando em investir..." - Lancei um olhar divertido para ele, que apenas pareceu constrangido e continuei: - " é bom estar com diploma em mãos, porque o moço tem um QI de mais de cento e sessenta pontos, tem graduação e mestrado em economia e fala sete idiomas"

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