16 - Parques, Cidadãos e Churros

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Na manhã seguinte acordei às oito da manhã. Tenho que admitir, eu acordei bem animada. E, sinceramente, não era só porque era minha folga. Talvez o bolo de chocolate na noite anterior tivesse ajudado um pouco. Durante o café-da-manhã encontrei a Rose, que também estava de folga — provavelmente a Isadora estava trabalhando; talvez, acordando o príncipe outra vez... —, ela me chamou para dar uma volta no parque com ela. Bom, por que não? Eu não estava fazendo nada mesmo. Eu queria conhecer um pouco mais do lugar.

Saí do palácio coma Rose me sentindo mais livre do que nunca. Simplesmente porque estava usando uma roupa que minha mãe nunca permitiria que eu usasse em público – e, provavelmente nem em particular. Não que fosse algo indecente ou qualquer coisa assim. Não era. Mas não era o tipo de coisa que uma princesa devia aparecer por aí usando. Bem, pelo menos, segundo a minha mãe — não é como se existisse um manual dizendo o que devia ser vestido ou não. Eu estava usando um short jeans, uma camiseta e tênis.

Deixa eu dizer uma coisa, quando a Rose me chamou para "dar uma volta no parque" eu achei que a gente ia à uma pracinha, um parquinho ou algo do tipo. Mas, sério, meu queixo caiu praticamente até o chão quando ela anunciou que tínhamos chegado. Porque, tipo assim, o parque era enorme. Eram quilômetros e mais quilômetros de caminhos para andar ou correr – caso você seja fitness e saudável, ao contrário de mim – ladeado por árvores frondosas e lindas, carregadas de flores lilases. No centro havia uma área de canteiros com grama bem cuidada e um chafariz. Sério, era um dos lugares mais bonitos que eu já tinha visto. E, aliás, era o tipo de coisa que eu não achava que fosse ver em Nova Germânia. Por causa de tudo que meu pai falava sobre o país e tal.

A gente de fato deu uma volta pelo lugar, caminhando calmamente. Eu estava me sentindo tão inexplicavelmente feliz naquela manhã. A brisa agitava levemente meu cabelo preso em um rabo-de-cavalo. E eu sorria sem motivo nenhum. Quero dizer, sorria até a Rose mandar do nada:

— E então, fiquei sabendo que você estragou a camisa predileta do príncipe. — Ela deu um sorrisinho, mas não parecia se de deboche, apenas de diversão mesmo. E eu nem podia culpá-la por se divertir. Afinal, eu era mesmo uma comédia constante.

— Como você soube disso? – Perguntei, indignada. Sabe, não é como se eu já tivesse contado para alguém sobre isso nas últimas dez horas. E, claro, eu tinha me certificado de não deixar a camisa dando sopa lá na lavanderia para que a Cecília achasse. Além de ter quase certeza de que o príncipe ainda não havia levantado e saído por aí fuxicando para todos.

— A Isadora me falou hoje mais cedo.

Lancei lhe um olhar condescendente. Óbvio que a Isadora tinha contado. Eu devia ter imaginado. Só que eu não sabia que ela seria capaz de espalhar uma fofoca tão rápido assim. Será que ela acordava mais cedo só para poder contar as "notícias da manhã" ou qualquer coisa assim? Respondi, na defensiva:

— Não era a camisa preferida dele. Era só uma camisa.

— Como você sabe?

— Como eu sei o quê?

— Que não era a preferida dele.

— Foi a Isadora que disse que era a preferida dele. Ela não tem como saber se é mesmo — retruquei.

— E por que você tem tanta certeza que não é?

Eu sabia que ela só estava fazendo aquilo para implicar comigo. Era só uma brincadeira — ela não era um ofídio intolerável como a Isadora —, mas me peguei respondendo:

— Porque ele me falou.

Me arrependi imediatamente de ter dito isso. Não que fosse um segredo ou algo do tipo. E, certo, o Christopher não tinha me dito que não podia contar sobre a noite passada. Mas eu não pretendia contar a ninguém. Simplesmente porque podia parecer estranho e eu não queria ter que dar explicações. E, ok, admito, eu meio que preferia que fosse particular. E eu sabia que fora um erro só de ver como os olhos da Rose se arregalavam naquele momento.

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