21 - Visitas, Biscoitos e Atenção Seletiva

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Surpreendentemente, a semana seguinte à Descoberta - assim mesmo, com letra maiúscula - correu bem. Bom, pelo menos, ninguém tinha chegado até mim para dizer que sabia que eu era uma princesa fujona ou algo assim. As coisas continuavam como antes. E eu também não tinha encontrado mais o príncipe pelo palácio. Pelo que eu sabia, ele tinha viajado até o sul do país para uma reunião com alguns duques e marqueses por lá. Então, na verdade, eu não estava tendo problemas para me manter "camuflada" e tal.

Mas, as coisas nunca podiam ser fáceis demais para mim, eu já tinha entendido isso. Sério, eu já tinha entendido muito bem. Na real, eu já devia estar acostumada. E, dessa vez o jeito que o destino ou a lei de Murphy ou sei lá o quê achou de me dar uma sacudida, foi colocar no meu destino a pessoa mais inusitada que eu poderia encontrar.

No dia seguinte ao que eu soube que o Christopher tinha voltado da viagem - embora eu não o tivesse visto, de qualquer forma -, ouvi quando o Jarbas, o mordomo, atendeu a porta da frente. Sinceramente, não dei a mínima, eu só tinha de me manter fora de vista, o que não devia ser difícil, já que eu tinha um monte de coisas para fazer. Mas talvez a Cecília não concordasse, já que ao me encontrar no corredor, já veio me entregando a bandeja que ela carregava com um bule de chá, uma xícara, açúcar e biscoitos. Segurei a bandeja e olhei para ela, surpresa e confusa.

- O que eu devo fazer com isso? - Perguntei.

- Servir a visita, é claro. Ela está na varanda. - Ela pareceu se dar conta de algo importante. - Você sabe servir, certo?

- Bem, sei, mas...

Ela me cortou, sorrindo, sem me dar atenção:

- Então, pode ir.

Não é como se eu tivesse tido opção. Eu sabia servir chá, claro. Tipo, depois de dezesseis anos sendo servida, era o mínimo que eu devia saber. Mas se eu soubesse que era essa a intenção da Cecília, teria mentido sem culpa.

Levei a bandeja até a sala de estar e a porta para a varanda estava aberta, revelando alguém sentado em uma das mesinhas brancas e delicadas que ficavam ali, com vista para o jardim. O problema era que os longos cabelos loiros que eu vi, eram familiares demais. Por um momento, achei que estivesse tendo uma alucinação. Mas não. Quando a garota se virou na cadeira para me ver parada ali na porta como um poste, tive certeza que era a Alice.

Isso aí. A gente pensa que sai de férias, foge de casa, atravessa a fronteira e vai ficar longe dessas monstruosidades... mas seria muita sorte mesmo. Ela olhava diretamente para mim. Eu fiquei simplesmente paralisada, o coração acelerou de repente. Ela ia contar para o mundo inteiro. Até o porteiro do dentista dela saberia em poucas horas. Mas, para meu total choque, ela virou a cabeça outra vez e exclamou:

- Você vai me servir ou ficar aí parada como uma árvore? - Sua voz autoritária e aguda, como sempre.

Minhas sobrancelhas quase alcançaram meu couro cabeludo de tanto que as ergui. Como assim? Me aproximei, hesitante e depositei a bandeja sobre a mesa. Olhei para ela de soslaio. Como imaginei, ela não deu a mínima. O lance era que ela não tinha me reconhecido. Ela não tinha me reconhecido! A gente se via todos os dias do ano letivo há dois anos, daí ela me vê com um uniforme de empregada e não sabe quem eu sou! Claro, não é como se eu estivesse reclamando. Longe disso. Só estava incrédula mesmo.

Servi o chá e cheguei a falar com ela para perguntar quanto de açúcar ela queria - que, aliás ela nem se dignou a dizer, apenas indicou "dois" com os dedos, enquanto continuava olhando para o seu celular. Deixei os biscoitos sobre a mesa - sabendo que seria desperdício, porque a dieta dela não permitia carboidratos -, peguei a bandeja e saí dali mais rápido que em Need for Speed.

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