56 - Abraços, Rodoviárias e Retornos

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Tomei banho, vestir um jeans e uma camiseta e deixei o cabelo solto porque dessa vez não haveria grandes problemas em ser reconhecida. As coisas que eu tinha comprado para decorar o quarto ficariam lá também, já que não fazia o menor sentido levar um abajur e uma cortina dentro da mochila.

Com um último olhar solene ao meu redor, peguei a minha mochila e a mala do meu arco e saí do quarto. Eu não queria admitir, mas estava, sim, um pouco apreensiva.

Como eu imaginei, todos estavam ocupados demais em executarem suas tarefas com a maior perfeição possível para que o rei não encontrasse nenhum mísero detalhe digno de uma reclamação - eu tinha ouvido dizer que ele costumava ser extremamente detalhista. Passando pelos corredores mais secundários, não encontrei ninguém para me fazer perguntas. Estava prestes a sair discretamente pela porta dos fundos quando uma voz me deteve.

- Indo embora sem falar com ninguém... - Me voltei lentamente para dar de cara com a Cecília me fitando - alteza?

Eu já tinha aberto a boca para dar uma resposta inventada qualquer, mas quando ela pronunciou a última palavra, senti meu sangue gelar nas veias. "Alteza"? Ela ainda me olhava, placidamente. Será que eu tinha escutado errado?

- Desculpe, do que me chamou? - Perguntei, com voz vacilante.

- Alteza - ela respondeu objetivamente, meu coração quase parou. Pude sentir meus olhos se arregalarem -, é assim que devo chama-la.

Gente, eu só podia estar delirando. Seu olhar tinha tanta obstinação que seria claramente impossível mandar apenas um "não sei do que está falando". Ela sabia. Obviamente, de alguma forma, ela tinha descoberto. Eu simplesmente não tinha saída. Me recompus o melhor que pude e perguntei:

- Como você soube?

Muito tranquilamente, ela contou:

- Bem, eu fui passar o Natal na casa da minha irmã. E uma das minhas sobrinhas veio me mostrar uma revista com um ranking. Qual não foi a minha surpresa ao ver uma foto sua ao lado das informações da princesa de Veritas. Mas muita coisa a seu respeito começou a fazer sentido.

Meu rosto devia ter perdido a cor.

- Eu sinto muito por ter mentido para todos vocês. Eu vim para cá por causa de alguns problemas pessoais - expliquei, vagamente. -, mas juro que não tive a intenção de trazer problemas. Eu não estava espionando nem nada assim - me apressei em esclarecer.

Ela assentiu com a cabeça, dando a entender que acreditava em mim.

- O príncipe sabe? - Ela fez um gesto com a mão, me indicando.

- Sobre eu ser uma princesa? Sim. Bom, à princípio, não - tagarelei: -, mas há algum tempo que ele sabe.

- Certo. Mas eu me referia ao fato de você estar indo embora. Ele sabe que está indo?

Uma nova onda de tristeza me alcançou por um segundo, mas disfarcei o melhor que pude.

- Sim. Aliás, foi ideia dele.

Afinal, não devo ter conseguido disfarçar muito bem, porque ela me lançou um olhar suave quando falou:

- Lembra quando falei sobre essa coisa de Cinderela não existir na vida real? Bem, imagino que você saiba que a situação é igualmente complicada com você sendo quem realmente é.

- Ah, não se preocupe - a interrompi ansiosamente. - Eu nunca poderia me relacionar com o Christopher sem causar um incidente internacional. Não que eu tenha essa intenção, de qualquer forma. - Eu estava começando a falar demais, como sempre. - O que eu quero dizer, é que eu não vou me iludir com essa ideia, não precisa se preocupar.

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