13 - Escritórios, Pronomes de Tratamento e Passados

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Graças à minha distração com a biblioteca no dia anterior, naquela terça-feira eu recebi uma nova lista gigantesca da Cecília e ainda teria que limpar o escritório que eu não terminara.

Sério, se algum dia eu voltasse para casa, eu daria muito mais valor a todas aos funcionários que trabalhavam no palácio. Porque, cara, aquilo ali era difícil demais. E só ficava ainda mais difícil.

Veja bem, quando eu vi na lista a tarefa: "trocar as flores", pensei "beleza, vai ser mole". Mas o que não me ocorreu foi a quantidade de vasos de flores que enfeitava o palácio por toda parte. Não eram poucos. Não mesmo. Depois da sétima, eu perdi as contas de quantas voltas eu tinha dado carregando rosas murchas e rosas frescas. Eu precisava percorrer metade do palácio e um trajeto enorme até a estufa. Fora a parte de trocar a água de vasos de cerâmica e de cristal em todos os formatos e cores.

Levei quase a manhã toda nisso. Depois precisei espanar os móveis da sala de estar e de jantar particulares. E ainda precisava limpar a cristaleira que ficava na sala de jantar - e todos os itens nela também, claro. Era tudo em proporções tão grandes que eu nem encontrava com a Rose a Isadora a não ser durante o almoço. Às vezes, eu encontrava pelos corredores outras meninas que trabalhavam em outras áreas do palácio. Geralmente nos cumprimentávamos somente com um aceno de cabeça - não é como se tivéssemos tempo para parar e conversar sobre o último capítulo da novela das nove.

Só tínhamos tempo para trocar uma ideia durante as refeições, onde eu geralmente sentava com a Rose, a Virgínia - quando ela estava por lá - e algumas amigas delas, as quais não me recordo os nomes. Durante os primeiros dias, elas ficaram muito interessadas em saber sobre mim. Contudo, como eu tentei o máximo possível conter a minha língua comprida e não contei nada empolgante, elas desencanaram de mim, então eu só ficava ali ouvindo as novidades de cada uma. A maioria delas morava ali e tinha famílias em outros estados e até mesmo em outros países.

Pode me julgar por já estar exausta mesmo tendo apenas dezesseis anos. Voltei ao escritório e tentei agir o mais rápido possível para terminar logo.Mesmo parando para dar uma olhada nas gavetas da mesa. Ao contrário do que eu imaginava, não estavam trancadas, com exceção de uma. Só encontrei papéis sem importância por ali. Se havia algum documento incriminador, devia estar justamente na gaveta trancada à chave. Por isso de lado naquele momento.

Eu já estava quase alcançando o horário do fim do meu expediente e já sabia que iria ultrapassá-lo. E até estava conseguindo - bem, com o meu padrão baixo de qualidade, mas mesmo assim... -, até que, como era de se esperar, eu me distraí. Outra vez.

Dessa vez, o grande motivo da distração apareceu quando eu estava limpando as molduras dos quadros na parede. Enquanto eu percebi que precisava subir e descer da escada um milhão de vezes para lidar com todos os quadros pendurados. E tudo bem até aí. Mas os quadros não eram fotografias, retratos ou mesmo pinturas. Nada disso. Tudo que eu via eram diplomas e mais diplomas.

Me afastei um pouco da parede para olhar melhor. Eram de algumas instituições diferentes. Ensino fundamental e médio... ok, normal. Mas daí comecei a notar diplomas universitários, especializações, pós-graduações e até mestrado. Todos com mesmo nome: Christopher Miguel Elliot Morgstern II. Mas como aquilo podia ser possível? Ele era um vampiro, usava um vira-tempo igual ao da Hermione ou ele estava fazendo plástica? Porque, sério, ele não parecia ter idade suficiente para todo aquele grau de escolaridade.

Em um timing perfeito, a porta se abriu devagar. O príncipe entrou com a cabeça baixa. Pareceu não notar a minha presença a princípio. Sua postura era tensa, como sempre.

Dessa vez, eu lembrei de fazer a reverência. Antes que ele me visse, anunciei minha presença.

- Alteza. - Me curvei, respeitosamente.

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