Acabei dormindo muito. Quando acordei, ainda na mesma posição, a primeira coisa que notei foi que estava sozinha na cama. O quarto ainda estava na penumbra por causa da cortina pesada, mas entrava luz por baixo da porta. Me alarmei, olhando o relógio. Passava um pouco das oito da manhã. Sentei, de súbito. Céus, eu tinha passado a noite na cama do Christopher!
Como se tivesse sido invocado pelo meu pensamento, o Christopher apareceu, vindo do banheiro. Ele já estava completamente vestido e só terminava de abotoar o cardigã. Ele ergueu os olhos para mim.
— Ah, você acordou. — Era impressão minha ou havia uma nota de desapontamento em sua voz?
— Sim — respondi, passando as mãos nos cabelos e sabendo que eles deviam estar uma bagunça. Na verdade, eu devia estar uma gata, com a cara amassada e tudo mais. — Parece que você também. Por que não me chamou? — Perguntei, aborrecida.
— Eu não quis acordá-la — ele respondeu, de pronto, com naturalidade. — Você parecia... tranquila.
Corei imediatamente. Será que ele ficara me olhando dormir, assim como eu fizera com ele à noite? Ele abotoou o último botão do cardigã e colocou as mãos nos bolsos do jeans, me encarando com olhos cristalinos. Desconversei:
— Você vai sair?
— Sim. Preciso resolver algumas coisas no gabinete, no centro.
— Mas hoje é véspera de Natal! — Reclamei, antes que pudesse evitar. — Achei que você fiaria em casa.
Ele ergueu uma sobrancelha, surpreso com minha cobrança repentina. Com um meio sorriso divertido, ele perguntou, zombeteiro:
— Está com medo de ficar sozinha?
— Não seja ridículo — respondi, rindo.
Ele retomou a postura e reiterou, dessa vez um pouco mais sério:
— Eu não vou demorar. Vou apenas resolver algumas pendências urgentes. — Assenti, desanimada. — Você deveria dormir um pouco mais. Ainda é cedo.
— Eu não posso ficar dormindo na sua cama, Chris — expliquei, condescendente, corando um pouco outra vez.
— Sarah, ninguém aparecerá para te surpreender aqui. Pode ficar à vontade. — Ele começou a se afastar. Não me contive me dar um tchauzinho tímido para ele, que respondeu com uma piscadela. Meu coração falhou uma batida e eu reprimi um suspiro.
Dessa vez, ele foi mesmo. Saiu do quarto e fechou a porta. Meu coração tinha disparado outra vez. Aquilo era absurdo. O que aquele garoto fazia comigo? Ele só podia ter algum poder obscuro para controlar a minha mente.
Me deixei cair deitada outra vez e abracei um dos travesseiros que exalavam o perfume do Christopher. Dormi por mais meia hora.
De fato, o Christopher não demorou a voltar. Passava pouco das dez da manhã quando ele retornou. Eu mal tinha tido tempo de tomar banho e descer para tomar café quando ele apareceu para roubar um croissant do meu prato.
Mais tarde almoçamos e o Christopher convidou os três rapazes da cozinha, os únicos que tinham ficado no palácio, para comer à mesa, na sala de jantar. Eu tinha sentado no famigerado "lugar de honra", à direita dele. E era incrível como ele conseguia fazer com que todos se sentissem à vontade o bastante para conversar descontraidamente mesmo na presença de um membro da família real.
Depois gastamos um tempo da nossa tarde na sala de música, sentados ao piano. Eu tinha me oferecido para ensiná-lo a tocar. Era realmente espantosa a velocidade com a qual ele aprendia — e eu nem era uma professora muito boa, já que nunca tinha precisado ensinar ninguém. Se ele realmente se interessasse e procurasse um profissional, ele desenvolveria um grande talento, com certeza. Mas acho que ele não queria.
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Real
Roman pour AdolescentsSarah achava que já tinha problemas demais para lidar entre a escola, as cobranças da família, o seu namorado secreto e o fato de ser uma princesa em um país prestes a entrar em guerra com seu vizinho. Mas percebe que as coisas podem ficar ainda mai...