Se eu estava com sono na manhã seguinte, quando levantei cedo para trabalhar? Sim. Muito. Mas não é como se eu não fosse para as aulas com sono todos os dias, quando estava na escola. Então, não era a primeira vez — e, infelizmente, também não seria a última — que eu ia dormir tarde e acordava cedo. Felizmente era domingo e a gente nunca precisava ficar até o final do expediente — basicamente porque o príncipe nunca pedia nada.
Então depois de limpar todos os banheiros do andar superior — que estavam limpos, uma vez que ninguém usava, porque acho que o Christopher só usava o banheiro do seu quarto, que eu nunca limpava —, já era hora do almoço, depois do qual a Cecília me dispensou. Após me encher no almoço, tomei banho e troquei o uniforme por um short jeans, uma camiseta preta qualquer e tênis.
Era um dia bonito, não estava um sol escaldante, mas o céu estava limpo e batia uma brisa fresca. Achei que seria um pouco de desperdício ficar trancafiada dentro do quarto, mesmo que eu não estivesse com vontade de encontrar ninguém pelo palácio — principalmente a Isadora, se você quer saber.
Levando apenas o meu celular, saí por uma das portas laterais, em direção ao jardim. Por ali eu teria menos chances de encontrar alguém. Sentei em um banco na varanda ao redor da casa. Era uma das áreas do fundo, de modo que ninguém ia se importar de encontrar uma empregada desfrutando.
Liguei para a Sayuri. Ela atendeu no primeiro toque — provavelmente era culpa por ter me deixado no vácuo no dia anterior, mas não é como se eu tivesse ficado muito chateada ou algo assim.
— Oi! — Falei, me recostando no banco, de onde eu podia ver qualquer pessoa que se aproximasse e ocasionalmente pudesse ouvir a conversa.
— Oi — ela respondeu, animada. Animada provavelmente por causa do garoto com quem ela andava conversando. — Tudo bem? Desculpa por não falar com você direito ontem. Eu estava no WhatsApp com o Isaac e...
— Eu sei, eu sei... — a interrompi. — Você me disse isso ontem. Isso você falou. Tudo bem, não tem problema. E então, vocês estão ficando... ou o quê?
Ela deu uma risadinha. Sério, era meio estranho porque ela nunca dava risadinhas.
— A gente está... conversando. Mas, ele é legal! Sério. Ele gosta de cinema francês e gosta de ir à ópera!
Contive um suspiro e respondi, sucinta:
— Uau, parece bastante... sofisticado.
O que eu queria mesmo dizer em vez de "sofisticado" era "enfadonho". Mas eu sabia que a Sayuri adorava esses tipos intelectuais, então não seria de bom tom estragar a felicidade dela e tal. De qualquer forma não é como se ela tivesse pedido a minha opinião e tudo mais.
— E é. Ele é fantástico. E, céus, ele é bonito! Dá para acreditar!? Ele parece o Tom Felton.
Ok, talvez eu tenha tido um pouco de dificuldade para somar a imagem do Tom Felton ao cara usando um daqueles relógios de bolso e monóculo que eu imaginei antes.
— Ele deve ser incrível!
Talvez minha voz não tenha demonstrado tanta empolgação quanto eu gostaria, mas ela não pareceu notar. E apenas perguntou, interessada:
— E você, o que ficou fazendo ontem?
Ela me pegou desprevenida com essa pergunta. Não que eu estivesse escondendo alguma coisa, mas respondi rápido demais:
— Ah, nada demais... Eu li um pouco, perdi o jantar, fiquei conversando um pouco com o Christopher antes de ir dormir...
Talvez eu tenha demorado demais para perceber o que eu tinha dito de errado, mas a Sayuri percebeu em um segundo:
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Real
Novela JuvenilSarah achava que já tinha problemas demais para lidar entre a escola, as cobranças da família, o seu namorado secreto e o fato de ser uma princesa em um país prestes a entrar em guerra com seu vizinho. Mas percebe que as coisas podem ficar ainda mai...