59 - Distrações, Obsessões e Mensagens

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Minha mãe apareceu pouco depois para dizer à Sayuri que o meu horário de visita havia acabado - ela não falou realmente assim, mas era isso que significava. Felizmente, eu já havia escondido o celular - para todos os efeitos, eu ainda estava sem nenhuma comunicação com o mundo exterior.

Então, sozinha, me distraí durante as próximas horas estudando piano, experimentando o meu uniforme escolar novo para ver se precisava de ajustes e por último fiz palavras cruzadas, mas o lance é que eu queria conferir o celular a cada segundo para ver se já chegara alguma resposta.

Certo, o que eu esperava? Que ele respondesse imediatamente? Era óbvio que ele tinha um milhão de coisas para fazer - a maioria delas devia ser melhor que me mandar um e-mail. Mas como sou obcecada, depois de anoitecer sem que eu tivesse nenhum retorno, comecei a ficar apreensiva com a possibilidade de haver algo errado com ele. Tipo, e se ele tivesse tido outra crise de estresse? Ou se as coisas não estivessem indo bem com o governo? Ou pior - eu quase surtei ao pensar nisso -, e se ele e o pai houvessem se desentendido e o rei o tivesse empurrado do alto da escada? Teríamos notícias se algo tão impactante acontecesse, certo? Eu deva estar ficando louca.

Por fim, após o jantar - ao qual confesso que não prestei nenhuma atenção -. Tomei banho e fui deitar antes que mais ideias paranoicas começassem a brotar na minha mente fantasiosa.

Estava rolando na cama há meia hora quando senti o celular embaixo do travesseiro vibrar, anunciando uma notificação. Mais rápido que o Oliver Queen sacando uma flecha, minha mão voou até o aparelho. Meu coração batendo acelerado. Tentei me controlar porque podia ser apenas um SMS da operadora, mandando eu fazer uma recarga. Desbloqueei a tela imediatamente e quase saltei da cama. Em vez disso, sentei subitamente.

Era mesmo uma resposta para o meu e-mail. Cliquei no ícone e devorei as palavras com tanta rapidez que precisei reler tudo para entender o que realmente elas queriam dizer.

"Oi, senhorita Sarah. Da última vez que nos vimos, você ainda me chamava de Chris. Primeiramente, feliz aniversário! Fico feliz em saber que está conseguindo alcançar o seu objetivo, que no caso é não casar. Fiquei preocupado que estivesse tendo mais problemas quando vi uma foto divulgada da festa de Réveillon em que você aparece ao lado do Sebastian - digamos que você não parecia exatamente feliz na ocasião.

Bem, não posso dizer que estou vivendo um mar de rosas com meu pai, mas certamente já tive momentos mais difíceis. Quanto ao Darth Vader, espero que goste de saber que ele está se adaptando melhor a cada dia. Segue um anexo para você poder comprovar.

Talvez eu esteja sendo invasivo. Sendo este o caso, por favor, fique à vontade para ignorar. Mas, se estiver interessada, estes são os meus contatos pessoais".

Ele havia me mandado os números que ele atendia no telefone e, sério, o WhatsApp. Tipo assim, precisei ler ainda mais uma vez para ter certeza de que ele tinha mesmo me mandado o WhatsApp dele. Abri o anexo que ele tinha mandado e fui surpreendida por uma foto do Darth Vader - não pude deixar de notar que agora ele usava uma coleirinha com seu nome - deitado no que parecia ser os sapatos do Christopher, enquanto os sapatos ainda estavam sendo calçados, claro. Ele já parecia ter o dobro do tamanho.

Dei uma olhada no relógio. Ainda eram nove e meia da noite. Provavelmente ele ainda estava acordado. Será que eu pareceria muito obcecada ou pegajosa se mandasse uma mensagem agora? Certamente, eu o assustaria.

Por isso, em vez disso, mandei uma para a Sayuri. Uma mensagem, eu quero dizer:

Sarah: Ele respondeu!

Sayuri: E aí? Ele mandou você desaparecer?

Sarah: Não. Ele me mandou o número do WhatsApp dele.

Sayuri: E por que você está falando comigo agora?

Sarah: Você não acha que eu vou parecer desesperada e tal? Será que eu não devia esperar um pouco?

Sayuri: Sarah, se ele não quisesse falar com você, não teria dado o número.

Sarah: Então, tudo bem se eu o chamar?

Sayuri: Vai lá. Se joga!

Bem, a Sayuri tinha um QI alto o bastante para fazê-la ser considerada um prodígio, então ela devia ser esperta o bastante para aconselhar sobre um assunto que devia ser tido como trivial por algumas pessoas.

Não devia ser tão difícil mandar um simples "oi" para alguém. Mas lá estava eu, com as mãos suando e o coração batendo rápido. Admito que conjeturei durante muito tempo antes de clicar no botão enviar.

Sarah: Oi, Chris.

Eu esperava que ele soubesse que era eu, ainda que não tivesse foto no meu perfil. Bom, provavelmente eu era a única pessoa que o chamava de Chris. Após alguns minutos, agitada de expectativa, finalmente soltei o celular, desistindo. Um minuto depois, o aparelho vibrou, fazendo com que minhas mãos voassem outra vez.

Christopher: Oi. Sarah?

Sarah: Sim!

Aquilo era ridículo. Eu não tinha nenhum motivo para ficar tão feliz. Ele só tinha mandado um "oi". Isso não devia estar acontecendo. Não era possível! Tipo assim, quais eram as chances de, entre todos os rapazes do mundo, eu me apaixonar justamente pelo cara que seria o Montecchio para o meu Capuleto?

Christopher: Eu posso te ligar?

Meu coração quase parou dentro do peito e meus olhos se arregalaram de surpresa. Devo ter demorado bem mais que o necessário só para repetir:

Sarah: Sim.

Logo depois o celular começou a vibrar insistentemente na minha mão. Com dedos levemente trêmulos, atendi.

- A-alô? - Constrangedoramente, minha voz também tremeu. Eu precisava sussurrar porque com certeza havia guardas do outro lado da minha porta.

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