28 - Aborrecimentos, Paredes Finas e Conselhos Amorosos

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Na quinta-feira eu liguei outra vez para o Léo. Eu estava morrendo de saudades de casa, não posso mentir. Mesmo com toda aquela história que eu tinha descoberto recentemente sobre a guerra e tudo mais. Eu tinha gastado muito tempo refletindo sobre isso, sem chegar a conclusão nenhuma.

Mas alguma coisa me dizia que eu não estava sentindo a saudade que eu deveria sentir do meu namorado. Não que eu ache que existe uma quantidade de saudade certa para ser sentida nem nada assim, mas levando-se em consideração como eu estava me sentindo com relação aos meus pais e minha melhor amiga, eu devia mesmo estar sentindo mais por estar longe do amor da minha vida há um mês.

Após o oitavo toque — quando eu já estava quase desistindo — ele atendeu. Sua voz me parecia um pouco menos entusiasmada do que deveria, já que ele também estava há um mês sem ver supostamente o amor da vida dele.

— Oi, princesa — ele falou, com uma voz meio aborrecida.

— Te acordei?

Instintivamente olhei para o relógio. Ainda eram exatamente oito da noite. Ok, talvez alguém no planeta Terra dormisse às oito da noite. Eu não duvidava, embora essa pessoa definitivamente não fosse eu — porque eu dormia uma hora da manhã para acordar morrendo de sono às seis. E não me parecia que um cara que trabalhava com eventos, geralmente à noite, fosse dormir uma hora dessas. Mas era o único motivo para que eu atendesse uma ligação dele já aborrecida.

— Não, claro que não!

— Você está com raiva de alguma coisa? O que aconteceu?

— Não aconteceu nada — ele respondeu, com impaciência.

Embora fosse óbvio que ele não podia me ver, eu ergui as sobrancelhas, surpresa.

— Uau — respondi, irônica, já ficando um pouco aborrecida com a atitude dele. Eu não tinha feito nada para merecer aquele comportamento malcriado.

Ele deu um suspiro exasperado bastante audível. Logo depois, com uma voz bem mais suave falou:

— Me desculpe, eu só estou um pouco chateado por não vê-la há tanto tempo.

Não sei porquê, eu não acreditei plenamente nele. E eu sabia que estava errada com essa atitude, porque eu confiava nele. Confiava mesmo... eu acho. Respondi bruscamente:

— Mas o que eu disse sobre você vir me visitar? Você quis, pelo menos, cogitar a possibilidade? Não.

— Você sabe que isso é complicado...

Bufei no telefone. Lá vinha ele de novo arranjando complicações para algo que não tinha tantas complicações assim.

— Certo, Leonardo...

O fato de eu estar pronunciando o nome dele ao invés do apelido já significava que eu estava irritada.

— Sarah, eu continuo achando que isso é loucura. Tudo isso que você está fazendo. Você devia voltar para a sua casa.

— Eu não posso voltar para casa...

— Por causa do casamento, eu sei! Você já me disse um milhão de vezes a mesma coisa. Mas, sabe, você está fazendo uma tempestade num copo d'água.

Mesmo que eu não estivesse planejando, eu ouvi o volume da minha voz aumentar:

— Ah é mesmo, Leonardo? Então, por que não fazemos o seguinte: você aparece para assumir o nosso relacionamento. Vai lá pessoalmente e fala com os meus pais!

— Você enlouqueceu!? — Foi a vez dele de aumentar o tom de voz. — Eu não posso fazer isso. Eles te deserdariam na mesma hora se soubessem que você namora um plebeu!

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