Soltei um suspiro, como se tivesse tirado uma tonelada das costas. Exausta, me encostei na mureta. Eu quase tinha esquecido da presença do Christopher. Quase. Meus olhos o procuraram automaticamente. Ele vinha na minha direção com uma expressão ainda mais fechada que antes.
— O que você tem na cabeça? — Ele disparou. — Você podia ter se ferido. Você podia ter morrido!
Seus olhos perfuraram os meus. Ele não estava simplesmente irritado, estava terrivelmente preocupado.
— Ele não ia atirar em mim — falei, com convicção. Embora estivesse longe de me sentir tão confiante. — Sou irmã dele.
— Isso tudo é insano. Muito... obrigado. — Soou quase como uma pergunta. Com certeza ele não sabia como agradecer a alguém que tinha se arriscado para salvá-lo. Não posso julgá-lo por isso.
Foi a vez dele se se escorar na mureta ao meu lado, cansado também. Em um gesto estressado, ele passou os dedos pelo cabelo, desalinhando-os e fitou o chão. Ficamos em silêncio. Eu me acalmava enquanto sentia a perfume suave dele.
Erguendo a cabeça, vi que meu pai e meu irmão voltavam ainda tensos, mas não discutiam. O Christopher continuava olhando para o chão e com certeza não os viu quando falou:
— Você não tem juízo. Nenhum. Você é pessoa mais insensata que já conheci. — Lancei a ele um olhar insolente. — Você aceitaria se casar comigo?
Fiquei totalmente paralisada. Eu devia estar ficando louca mesmo. Tipo assim, eu não podia estar escutando corretamente. Ele ergueu os olhos para me fitar. E dava para ver pelo seu olhar que eu não tinha escutado errado coisa nenhuma.
Senti meus olhos se arregalarem enquanto eu ficava cada vez mais estupefata. Será que ele já tinha esquecido o que aconteceu depois do meu último noivado? E, principalmente, será que ele tinha esquecido quem nós éramos e tudo que acabara de acontecer?
Deve ter dado para ler na minha cara todas as dúvidas se misturando na minha mente, porque ele tentou se explicar:
— Não estou falando em casar agora. Nem nas próximas semanas. — Ele estava quase atropelando as palavras. Parecia que tinha ficado ansioso de repente. — Eu me refiro a um casamento no futuro.
— Então, na verdade — falei, devagar, tentando colocar as ideias em ordem —, você está me pedindo em namoro?
Ele deu um sorrisinho tímido que quase me fez derreter bem ali. Meu coração, que já estava acelerado, dessa vez deu uma pirueta digna do melhor balé do país.
— Sim. Acredito que é disso que se trata — ele respondeu.
Era uma das raras ocasiões em que eu ficava sem fala. Porque eu simplesmente não sabia o que fazer. Se eu dissesse que não tinha ficado feliz, estaria mentindo. Mentindo escandalosamente. O lance era que meu peito poderia explodir naquele momento de pura alegria. Mas meus pensamentos trabalhavam a vapor me lembrando de todas as complicações que me impediam de responder "sim" em alto e bom som. A principal delas, das complicações, eu quero dizer, estava parada na entrada do gazebo agora nos encarando, incrédula.
O Christopher finalmente notou meu pai e seu sorriso morreu no mesmo instante. Achei mesmo que meu irmão fosse ficar furioso, mas ele estava apenas muito surpreso. Era mesmo muito conveniente que nenhum deles estivesse armado agora.
Voltei os olhos para o Christopher outra vez e ele me encarou. Ficamos assim um instante, enquanto eu sentia meu peito se apertar e tinha a impressão de deixar que o cara que fazia meu coração acelerar só com um sorriso escapasse pelos meus dedos.
— Impossível — ele sussurrou, lendo meus pensamentos. — Eu sei...
Mas a voz que o interrompeu não foi a minha e sim a do meu pai quando falou, objetivo:
— Aceite.
Nós dois o fitamos imediatamente com olhos confusos.
— Pai, o que você...? Eu não estou entendendo — falei.
— Aceite o pedido. — Eu abri a boca, mas antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ele me cortou: — E não me diga que você não gosta desse rapaz. — Dei uma olhadinha de soslaio para o Christopher. Ele apenas observava meu pai com uma expressão desconfiada. — Você acabou de entrar na frente de uma arma de fogo para protege-lo. Isso certamente significava alguma coisa.
— O que vossa majestade ganha com isso? — Foi a primeira vez que o Christopher dirigiu a palavra ao meu pai. Sua testa estava franzida em sinal de estranheza. Era realmente uma sorte que ninguém estivesse dando a mínima para protocolos e etiqueta naquele momento.
Meu pai parecia surpreso por ouvi-lo falar com tanta seriedade. E principalmente por ele parecer tão cauteloso. Certamente meu pai tinha julgado que o Christopher não passava de um garoto distraído, mas pareceu sincero quando respondeu:
— Bom, claro que um relacionamento entre vocês facilitaria muito as negociações comerciais entre os países. E admito que a perspectiva é ótima.
— Mas isso significaria que o território não seria mais disputado — notei quando o Christopher estreitou os olhos quase imperceptivelmente, desconfiado. — Ficaria definitivamente com Nova Germânia sem novas ameaças. Porque seríamos aliados.
Enquanto isso, eu começava a ter minha atenção desviada por um burburinho distante que parecia se tornar cada vez mais alto. O que estavam falando? Será que já terminara o discurso do rei? Meu irmão também franzira as sobrancelhas, confirmando a minha impressão.
Voltei os olhos para o meu pai bem a tempo de vê-lo analisar o Christopher. Eu duvidava muito que ele conseguisse encontrar algo para criticar apenas olhando para o Christopher. Isso seria impossível. Por fim, ele respondeu, com seriedade, como se agora considerasse o Christopher um pouco mais que só uma criança.
— Eu sei. No entanto, eu admito que prefiro finalmente abrir mão desse território a correr o risco de ver meus filhos em situações extremas outra vez. Mais do que isso — ele dirigiu os olhos para mi ao falar: —, acho que já passou da hora de agir com transparência com relação a Nova Germânia.
— Nada de mentiras? — Perguntei. Instintivamente procurei a mão do Christopher com a minha, só me dando conta disso quando entrelacei meus dedos nos dele.
— É. — Meu pai fez uma expressão desgostosa, mas cedeu ao concordar. — Nada de mentiras.
Dei uma olhada para o Christopher, totalmente incrédula. E ele parecia tão incrédulo quanto eu. Tipo, o lance é que nenhum de nós dois tinha tido muita sorte com as coisas com as quais queríamos mesmo fazer. Sempre tinha alguma ordem para fazer outras coisas. Então, quando tudo começava a correr muito bem, parecia estranho.
— Isso significa que... — falei, hesitante — a gente, você sabe...?
— Acho que você precisa dizer "sim" — ele murmurou.
Mas antes que eu pudesse dizer "sim", "não" ou o que quer que fosse, o burburinho que escutei antes se tornou um som alto e claro vindo da parte da frente do palácio. Pelo visto, a população que ouvia o rei tinha decidido que era um bom momento para entoar o nome do príncipe a plenos pulmões.
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Real
Novela JuvenilSarah achava que já tinha problemas demais para lidar entre a escola, as cobranças da família, o seu namorado secreto e o fato de ser uma princesa em um país prestes a entrar em guerra com seu vizinho. Mas percebe que as coisas podem ficar ainda mai...