Vi quando o Christopher chegou à mesa onde a Alice estava sentada. Ele não havia sido anunciado formalmente - sabe, quando, alguém vem só para falar o nome do príncipe e tal antes que ele entre -, o que só podia significar que eles eram íntimos o bastante para pular essa parte. Eu não devia estar me sentindo tão aborrecida, mas não pude evitar. A Alice se levantou de imediato, mas com toda a graça e elegância que eu nunca conseguiria. Ela ofereceu a mão para que ele beijasse. Sério, ela fez isso. Não que isso não fosse comum e tal, mas, tipo assim, era meio estranho para mim. Ele levou os lábios à mão dela, mas praticamente nem encostou. Logo depois, ele sentou na cadeira em frente a dela.
Cara, como eu queria saber o que eles estavam falando... E, no entanto, eu estava longe demais para conseguir escutar. A Alice tinha meio que se inclinado para a frente, mas o Christopher estava sentado ereto na cadeira, mantendo uma certa distância. Ele não demorou em se servir dos biscoitos que estavam intocados sobre a mesa.
- Isso não é muito educado, senhorita.
Dei um salto de mais ou menos três metros ao escutar a voz às minhas costas. O Jarbas voltava com a bandeja com o café.
- Assim você me mata do coração! - Falei. Em minha defesa, acrescentei, me empertigando: - Não estou fazendo nada demais.
- Por que a senhorita não chega mais perto? - Ele sugeriu, me estendendo a bandeja.
Ergui as sobrancelhas, descrente.
- Você quer que eu leve o café?!
Ele apenas inclinou a cabeça para um lado de forma sugestiva.
- Bem... - titubeei -, certo. Não é uma má ideia. - Concluí.
Mas era, sim. Uma má ideia, eu quero dizer. Porque, ok, a Alice não tinha me reconhecido antes, mas eu não devia ficar me aproveitando muito da pouca sorte que eu tinha. Mesmo assim, peguei a bandeja das mãos do Jarbas e atravessei as portas de vidro, indo até a mesa onde eles estavam.
A Alice falava alguma coisa sobre querer revê-lo e saber como ele estava. O Christopher escutava, atento, porém não exatamente interessado, enquanto mastigava um biscoito. Biscoito com o qual ele quase se engasgou ao me ver me aproximar. Tipo, quando ele viu que era eu que estava levando o café, seus olhos se abriram em uma expressão estarrecida, o que era meio preocupante, porque geralmente ele não deixava suas emoções transparecerem na cara assim. Seus olhos me fixaram por um instante, correram para a Alice e de volta para mim.
Mas, a Alice não pareceu notar - sério, ela devia ter algum problema muito grave. Não podia ser, sabe, normal todo esse egocentrismo. Coloquei a xícara de café a frente do príncipe, sobre a mesa, enquanto ganhava um olhar reprovador dele e ouvia a Alice continuar:
- ... E, então, eu estava por aqui e achei que seria bom aparecer...
Como da outra vez, ela não me reconheceu - estava ocupada demais com sua desculpa esfarrapada... - Peguei a bandeja e comecei a me afastar outra vez, admito, devagar como um jabuti, só para poder ouvir mais alguma coisa. Mas, não ouvi mais nada, na verdade. Porque o Christopher esperou que eu me afastasse o bastante para responder. Ele devia ter prestado atenção na conversa em vez de ficar me observando, se quer saber minha opinião, já que a Alice aproveitou a distração dele para puxar sua cadeira para mais perto da dele. De modo que quando ele olhou outra vez para a frente, a Alice já estava à sua esquerda - mais um pouco e ela iria querer dividir a cadeira com ele. Com sutileza, ele afastou um pouco sua própria cadeira.
Corri até a cozinha para deixar a bandeja e tive sorte em não encontrar ninguém pelo caminho - até porque a Cecília me mataria se me visse correndo pelo palácio como se fosse uma maratona. Voltei bem a tempo de ver a Alice estender a mão para tocar o rosto do Christopher. Tipo, meus olhos quase saíram das órbitas e meu queixo foi até o chão. Eu nunca imaginaria a Alice fazendo algo assim, até hoje eu só tinha visto ela agindo mais fria que a Sibéria. Enquanto eu observava, o Christopher afastou o rosto com um olhar frustrado e aí a Alice fez a coisa mais bizarra - pelo menos, para mim -, que foi aproveitar que já estava com a mão estendida e deixar seus dedos correrem preguiçosamente pelo peito dele e descer para o abdômen. Alguém poderia me confundir com um manequim sem dificuldade, porque eu fiquei completamente paralisada.
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Real
Teen FictionSarah achava que já tinha problemas demais para lidar entre a escola, as cobranças da família, o seu namorado secreto e o fato de ser uma princesa em um país prestes a entrar em guerra com seu vizinho. Mas percebe que as coisas podem ficar ainda mai...