57 - Reencontros, Lares e Questões Casamenteiras

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Nenhum dos guardas tentou me impedir quando saltei do carro assim que o veículo parou e corri em direção à porta, praticamente irrompendo no hall de entrada e quase trombando com a minha mãe, que vinha apressadamente no sentido oposto. Sem hesitar, me joguei em seus braços, sendo acolhida em um abraço apertado, que durou muito.

- Céus, Sarah! - Ela falou, com intensidade na voz, ainda sem me soltar. - Eu fiquei louca de preocupação! Você está bem? Está machucada?

Ela me afastou um instante para poder me avaliar enquanto refazia todas as perguntas que os guardas tinham feito há pouco, mas agora de uma maneira obsessiva.

- Estou ótima! - Garanti.

Mas talvez eu não pudesse falar a mesma coisa sobre ela. Tipo, dava para ver que minha mãe estava ligeiramente mais magra e mesmo que estivesse impecavelmente maquiada, era possível notar que seu rosto estava abatido. Eu odiava saber que aquilo era minha culpa.

Não tive, no entanto, muito tempo para falar sobre isso. Meu pai apareceu, vindo do interior do palácio, todo imponente em um terno azul escuro. Era a primeira vez que eu via meu pai parecer ligeiramente emocionado. Ele veio direto na minha direção, me envolvendo em outro abraço apertado. Por último, notei o Felipe parado logo atrás dos meus pais. Para minha surpresa, ele tinha um sorriso de orelha a orelha - e não parecia ser um sorriso debochado ou algo assim, parecia apenas feliz. Quando me soltei dos braços do meu pai, o Felipe me abraçou e tirou meus pés do chão, me fazendo rir.

- Finalmente, Sarinha! Eu comecei mesmo a achar que seria filho único de novo.

- Não me chame assim - reclamei, como todas as vezes.

- Felipe - meu pai o repreendeu -, pare com isso!

Após um segundo de desafio, o Felipe me recolocou no chão. E então, sem rodeios, meu pai foi perguntando, afinal:

- Onde você estava? Por onde andou? - Antes que eu pudesse falar a minha mal ensaiada invenção, ele emendou, com uma expressão fechada: - Os guardas e encontraram embarcando em Nova Germânia.

Os três me encaram, esperando uma resposta. Senti meu rosto esquentar. Bem, eu já devia esperar que os agentes já deviam ter se apressado em contar aos meus pais. À propósito, o meu pai parecia mesmo irritado por causa dessa informação. Tipo, era de dar medo. Me peguei respondendo:

- Sim, eu estive em Nova Germânia.

Cara, o que eu estava fazendo? Eu não tinha cogitado falar sobre isso. Era o meu último recurso. E, no entanto, eu havia soado muito segura. Minha voz não tremeu nenhum pouquinho. Continuei, dessa vez um pouco mais consciente, antes que os olhos da minha mãe saltassem das órbitas e que meu pai começasse a bufar de raiva:

- Eu estive lá e não achei nada parecido com o que ouvi falar a minha vida inteira.

Todos os pares de olhos à minha frente se arregalaram.

- Até parece que você conheceu o país inteiro! - Meu pai falou, sarcasticamente. - Você conheceu o quê? A capital, que é aqui do lado.

- É, eu conheci a capital. - Senti que minha voz ganhava mais força enquanto eu desabafava. - Mas também tive a chance de conhecer as pessoas, conhecer a cultura e, ao contrário do que o senhor sempre disse, a imprensa lá não é proibida de falar sobre o governo. Nem há boatos sobre escravos ou qualquer coisa assim. É um país como qualquer outro. Tão normal quanto o nosso.

É claro que, assim como qualquer outro país, havia problemas em Nova Germânia, mas não era nada de outro mundo ou coisas totalmente horríveis, como meu pai costumava pintar. E eu sabia muito bem que a última coisa que existia era desinteresse por parte do governo. Mas sobre isso eu não podia dizer nada. Sobre o interesse do governo, eu quero dizer. Porque, então, eu correria o risco de admitir que havia conhecido o príncipe pessoalmente.

Minha mãe deve ter percebido o embate que estava se desenvolvendo entre mim e o meu pai, porque ela se aproximou de mim outra vez, falando em um tom apaziguador:

- Bom, você voltou por livre e espontânea vontade, acho que significa que já consegue lidar com as questões do casamento. Eu cuidei de tudo enquanto você estava "se aventurando".

Meu pai bufou outra vez. Tipo, ele devia estar ansioso para dizer logo a minha sentença. Quanto a mim, apenas senti o coração acelerar por causa da declaração da minha mãe. Com a maior firmeza que fui capaz de reunir, afirmei:

- Eu não vou casar com o Sebastian. - Fiquei orgulhosa de mim mesma ao perceber que minha voz não tremera.

Foi o meu pai que falou, com um tom de diversão:

- Mas é lógico que vai. Já está tudo acertado. Apenas não divulgamos publicamente porque pareceria estranho sem que você estivesse aqui para se pronunciar.

- Não, eu não vou - insisti, parecendo mais calma do que realmente estava.

- Nós já planejamos tudo com a família do noivo. Não existe a menor possibilidade de não haver um casamento.

- Eu disse desde o início que não queria casar. E eu não vou. Não importa o quanto insistam.

Céus, o que eu estava fazendo? Eu estava mesmo enfrentando-os? Estava impondo a minha vontade. Pelos olhares perplexos que me fitavam, acho que era exatamente isso que eu estava fazendo. Concluí, com calma:

- Vocês não podem me obrigar.

- Já chega! - Meu pai estourou: - Vá para o seu quarto agora. E não saia de lá até segunda ordem. Não pense nem por um segundo que não ficará de castigo. Depois conversamos sobre essa questão do seu casamento.

- Não haverá um - falei.

Antes que qualquer pessoa pudesse dizer qualquer coisa, virei e saí em disparada em direção às escadas. Tipo, eu estava de volta a minha casa há menos de vinte minutos e já estava totalmente estressada.

Ainda pude ver o olhar apreensivo da minha mãe, como se ela quisesse dizer algo. Acho que ela discordou do comportamento do meu pai, porque tive a impressão de ouvi-la reclamar sobre alguma coisa com ele, mas não fui capaz de entender. Eu esperava que ela estivesse a meu favor.

Pelo menos, eu estava de volta ao meu quarto, no meu colchão, minhas coisas. Eu estava feliz por voltar, mesmo sabendo que haveria guardas na porta do meu quarto em tempo integral. Tipo, o que poderia acontecer de pior? Não é como se eles pudessem me matar ou sei lá o quê. Mesmo que me mandassem para o outro lado do globo terrestre, eu sobreviveria. E mesmo que me mandassem para fora do planeta, ainda teria valido a pena.

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Oi, oi

Me desculpem pelo sumiço. Eu andei muito atarefada e não consegui preparar as postagens.

Muito obrigada pelos comentários sobre a maratona, vocês são as leitoras mais compreensíveis no mundo!! Por isso, espero que gostem de ver que tem capítulo bônus.

Bjs

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