29 - Preocupações, Apelidos e Chuvas

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Não vou mentir. Admito que fiquei o restante da semana pensando sobre o possível sentimento do Léo em relação a mim. Ou a falta de sentimento, no caso. Era algo que eu não questionava há muito tempo.

Sim, houve um momento em que eu realmente pensei sobre isso. No início, quando ele começou a me cortejar ou sei lá o quê. Porque, tipo, eu não era a garota mais bonita da escola. Longe disso! Eu ainda usava aparelho e minha sobrancelha ainda era grossa demais - eu ainda não tinha aprendido a fazê-la de um jeito bonito - e eu sempre fui muito alta em comparação com as meninas da minha idade. Então, eu estava bem longe de ser a menina meiga e fofa pela qual os meninos se interessavam.

Eu nunca tinha conversado com o Léo antes do dia em que ele veio falar comigo, então eu mal o conhecia, embora nós estudássemos na mesma série. Claro, eu já o tinha visto e achado ele bem bonito e tudo, mas me surpreendi de verdade quando ele resolveu vir conversar comigo. E mais ainda quando ele deu a entender que queria ficar comigo. Eu nem podia acreditar. Nenhum garoto tinha se interessado em mim antes e eu fiquei mais deslumbrada que a Rapunzel quando desce da torre pela primeira vez.

E, infelizmente, o meu trabalho era do tipo que ocupava as mãos e não a mente. Eu ainda continuava remoendo o meu problema enquanto aspirava os corredores do térreo e primeiro andar e me dirigia à biblioteca - embora também não pudesse deixar de pensar que a hora do almoço estava próxima e a Virgínia estava preparando bife à milanesa.

E era nesse clima de que as coisas estavam erradas que entrei distraidamente na biblioteca para limpar as prateleiras e tal. Entrei sem bater e empurrei o carrinho para dentro. Quando finalmente parei e olhei ao redor encontrei um par de olhos descontraídos me observando do outro lado da biblioteca.

- Alteza! - Exclamei, surpresa. - Me desculpe, eu não sabia que estava aqui. Na verdade, achei que ainda estaria dormindo ou... sei lá.

O Christopher estava sentado em uma das poltronas em um canto, em sua postura mais tensa. Diferente dos outros finais de semana, ele estava vestindo uma roupa social. Ele usava um terno azul risca de giz, com colete combinando e uma gravata lisa da mesma cor - embora não fosse a mesma do outro dia; essa era um pouco mais escura - e seu cabelo estava perfeitamente arrumado para trás - embora eu ainda preferisse o cabelo naturalmente caindo no rosto; não que eu tivesse prestado atenção no cabelo dele ou algo assim.

Sua expressão era impassível, embora seu olhar tivesse um ar meio divertido. Ele tinha um livro nas mãos, que tinha abaixado, descansando-as no colo - acho que era uma edição de Admirável Mundo Novo que ele estava lendo.

- Bom dia, alteza - ele respondeu tranquilamente. - Francamente, eu adoraria estar acordando neste momento, mas infelizmente, tenho um almoço marcado com um dos meus conselheiros, na residência dele.

- Uma pena, vai perder um almoço bacana - brinquei. Eu tinha descoberto recentemente que em geral o cardápio dele era o mesmo que o dos funcionários.

- Eu sei. A Virgínia fez questão de me avisar. - De repente, seu olhar ficou sério e ele perguntou: - Como você está?

À princípio não entendi sobre o que ele falava. Tipo, a primeira coisa que me veio à cabeça foi o lance com o Léo e eu quase enfartei só de pensar que o Christopher estava sabendo sobre isso. Mas daí lembrei que na última vez em que nos falamos o meu problema era com relação ao meu pai e as prováveis mentiras dele. Dei um suspiro cansado e me aproximei, sentando sobre o tampo da mesinha em frente a ele. Surpreendentemente ele não fez nenhuma careta nem nada por eu estar sentada sobre a mesa dele, como qualquer outra pessoa que eu conhecia teria feito.

- Eu vou sobreviver - respondi, com um sorriso. - Não é como se eu não tivesse uma montanha de outros problemas para lidar.

- Com o seu "trabalho", por exemplo? - Ele fez um gesto indicando o carrinho apanhado de materiais de limpeza, enquanto inclinava a cabeça de um jeito charmoso.

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