51 - Intromissões, Pijamas e Rubores

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Eu já tinha tomado banho, trocado de roupa e descido até a cozinha para beber um pouco de água - sério, eu ainda estava cheia por causa da ceia. Passei pelo quarto do Christopher e admito que não resisti a chegar mais perto e colar a orelha à porta.

Com a sorte que eu tinha, provavelmente ele ia abrir a porta de repente e me flagrar. Mas não aconteceu. Na verdade, deu para escutar uma movimentação no interior do cômodo. Quero dizer, a movimentação, na realidade, parecia vir de um pouco mais longe. Eu não sabia exatamente o que estava fazendo quando andei alguns metros e bati levemente com os nós dos dedos na porta da antessala.

- Christopher? - Chamei, baixinho. Céus, o que eu estava fazendo? - Ainda está acordado?

Era como se meu corpo estivesse agindo sozinho, sem obedecer a minha mente. Porque, tipo, a minha mente sabia muito bem que ele ia me achar uma garota pirada que batia à porta dele de madrugada. A minha mente sabia também que eu deveria correr bem rápido e negar veementemente caso ele perguntasse no dia seguinte se eu o procurara de madrugada. Mas em vez disso, continuei bem ali onde eu estava.

Pensei outra vez em ir embora, mas agora era tarde demais. A maçaneta girou e ele abriu a porta devagar. Meu coração deu outra pirueta dentro do peito.

- Eu te acordei? - Perguntei, ansiosamente.

- Não - ele sussurrou, sem nenhum motivo. Até onde eu sabia, não havia ninguém por perto que pudesse ser despertado pela nossa conversa.

Juntei as mãos nervosamente na frente do corpo. Eu não devia ter ido até ali. O que eu ia dizer? Ele me encarava, especulativo, esperando que eu dissesse o motivo para estar ali. Mas quando continuei tão muda quanto uma estante, ele perguntou:

- Quer entrar?

Olhei para ele um tanto quanto surpresa. Sem esperar resposta, ele abriu mais a porta, deixando espaço para eu passar. Hesitei por um milésimo de segundo, mas acabei entrando.

- Eu não estou te atrapalhando? - Talvez fosse um pouco tarde para perguntar, até porque eu já estava dentro da sala.

- Não. Tudo bem - ele respondeu, fechando a porta e parando ao lado dela. - Eu não estava mesmo com sono.

Claro que ele não estava com sono. Não era surpresa nenhuma. E, apesar disso, ele estava de pijama - calça preta e camisa cinza - e devia ter tomado banho já que ainda tinha os cabelos um pouco úmidos.

Dei uma olhada ao redor e meio que entendi o que era a movimentação que eu escutara antes. Ele tinha puxado a mesa de centro para o canto e tirado as almofadas do sofá e as depositando no chão, sobre o tapete felpudo. O edredom estava ao lado das almofadas. Acho que ele planejava deitar no tapete. Como se lesse meus pensamentos, ele explicou:

- Eu estava pensando em assistir um pouco de tevê. - Eu não conseguia saber se eu realmente não estava atrapalhando ou se ele estava apenas sendo gentil antes. Outra vez, como se adivinhasse o que eu estava pensando, ele completou: - Pode ficar, se quiser. - Hesitei por um instante, abraçando a mim mesma. Antes que eu pudesse decidir, vi quando ele inclinou a cabeça para um lado. - Sabe, já passou de meia-noite então tecnicamente já é Natal. Acredito que haverá problemas em te entregar o seu presente agora.

- Presente!? - Ergui as sobrancelhas, totalmente estupefata. A última coisa que eu esperava era que fosse ganhar algum presente nesse Natal. - Para mim? - Ele assentiu, efusivo. - Ah... não, não precisa se incomodar - me apressei em dizer, nervosamente.

Ele dispensou meu comentário com um gesto de mão e meio que já começou a se afastar.

- Espera - ele pediu. - Não sai daqui.

Ele saiu da sala, desaparecendo através da porta que a ligava ao seu quarto. Só posso dizer que ele parecia mesmo muito entusiasmado. Muito mesmo. Enquanto esperava, sentei na beirada do sofá. Ele não demorou a voltar e agora trazia um embrulho grande. Não vou mentir, fiquei um pouco assustada. Parado à minha frente, ele depositou o embrulho diante de mim.

Antes de tocar o presente, dei uma olhada para o Christopher. Ele me encarava ainda com um jeito efusivo, na expectativa. Baixei os olhos e lentamente comecei a desembrulhar o pacote. Juro, meu queixo deve ter caído até o chão quando finalmente entendi do que se tratava. A essa altura, eu já estava ajoelhada ao lado da caixa, como quando eu era criança e abria esperançosa meus presentes na manhã do dia vinte e cinco de dezembro.

Céus, era um arco novinho. Era bem parecido com aquele que eu tinha treinado no outro dia. Era incrível! Tensionei um pouco a corda suavemente. Sinceramente, eu estava tão animada que a felicidade seria capaz de transbordar.

- Muito obrigada! - Eu mal conseguia conter a empolgação a minha voz.

O Christopher parecia satisfeito. Eu o teria abraçado se isso não me fizesse parecer uma louca desesperada. Observei outra vez o arco, analisando os detalhes.

Ah, que se dane. Levantei de um salto e joguei os braços ao redor do pescoço dele, pegando-o desprevenido.

Imediatamente o corpo dele se enrijeceu. Mas, ao contrário da primeira vez que eu fiz isso - quando ele descobriu que eu era a princesa de Veritas e mesmo assim permitiu que eu continuasse ali no palácio -, depois de alguns instantes, ele relaxou um pouco. E chegou mesmo a retribuir o abraço, ainda que timidamente, me soltando logo em seguida. O que não significa que eu fiz o mesmo. Na verdade, continuei abraçando-o apertado por mais alguns instantes. Por que ele precisava ter aquele perfume e aquele calor tão inebriantes?

Não resisti à tentação de roubar um beijinho dele. Nada demais, só um selinho demorado para me permitir experimentar os lábios dele por uns instantes. Me surpreendi que ele não só não tivesse tentado recuar. E, mesmo pego de surpresa, apenas facilitou quando encostei em seus lábios suavemente, sem tentar acalorar a situação.

- Muito obrigada - murmurei mais uma vez.

- Não por isso - ele murmurou de volta. - Fico feliz que tenha gostado.

Finalmente me afastei. Ele parecia um pouco enrubescido. Ele baixou os olhos constrangido. Ele ficava realmente uma graça envergonhado - diferente de mim, que ficava apenas parecendo uma idiota.

- Bem, acho que é uma boa hora para buscar o meu presente - anunciei, de repente.

Ele ergueu os olhos para mim imediatamente, muito claramente perplexo. Era óbvio que por essa ele não esperava. Ele meneou a cabeça rapidamente.

- Você não deveria ter se preocupado em comprar um presente para mim.

Era impressão minha ou ele estava ligeiramente aborrecido? Qual era a dele? Ele nunca ganhava presentes?

- Tecnicamente, eu não comprei mesmo. - Ele franziu as sobrancelhas, algo entre curioso e desconfiado. - Eu volto em um minuto - declarei.

Mas o lance é que demorei bem mais de um minuto. Mesmo tendo corrido até o meu quarto, acabei levando alguns minutos para encontrar o "presente" e mais alguns para conseguir colocá-lo dentro da caixa. Quando voltei, não me surpreendi por não encontrar o Christopher no mesmo lugar.

Ele estava sentado no tapete e tinha apoiado as costas no sofá, completamente imóvel. A televisão estava ligada, mas com um volume baixinho. Na real, por um momento, achei que ele tinha cochilado. Mas ele voltou a cabeça na minha direção quando ouviu meus passos. Vi quando seus olhos correram para a caixa que eu carregava, parecendo impassíveis demais para que eu ficasse tranquila.

Coloquei a caixa no chão e, hesitante, abri sua tampa. O Christopher piscou, ainda impassível. Droga. Ele certamente tinha odiado. Eu devia ter adivinhado.

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Oi, oi

Muito obrigada por todos os votos e comentários! De verdade, vocês são sensacionais.

Ouvi boatos de que vai ter capítulo bônus essa semana...

Bjs

RealOnde histórias criam vida. Descubra agora