11 - Folgas, Telefonemas e Idens

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Bem, não é como se eu pudesse dizer que ficamos pouco tempo limpando a sala. Não que ela estivesse imunda ou qualquer coisa assim — na verdade, estava bastante limpa e eu não achava que tinha a menor necessidade de limpá-la —, mas só por causa do aviso, no mínimo, ameaçador da Cecília, nós caprichamos mais que o normal. Mesmo assim, terminamos cedo. Ainda não passava das dez e meia da manhã quando terminamos de guardar todo o material de limpeza.

Para minha surpresa, a Cecília não tinha nenhuma nova tarefa para nós. Sério, eu cheguei mesmo a perguntar se ela tinha certeza — e ganhei uma cotovelada da Isadora por isso. E, ok, eu concordava que era burrice minha, mas tudo que eu tinha ganhado naquela semana era trabalho, trabalho e ah, mais um pouquinho de trabalho. Então, pode me julgar por achar que tinha alguma coisa errada. Mas, por fim, ela nos dispensou mesmo. Portanto eu tinha todo o resto do dia livre — ou até a Cecília mudar de ideia.

Tão rápido que o Flash sentiria orgulho, corri para o meu dormitório. Agora o quarto já tinha algumas coisas que eu havia trazido de casa e as poucas roupas que eu trouxera também já estavam no guarda-roupa. Mas ainda parecia um pouco impessoal, como um quarto de hotel — só que sem o frigobar ou o serviço de quarto.

Tirei os sapatos e me joguei de costas na cama — que eu já havia até deixado desforrada mais cedo por pura preguiça mesmo. Liguei a tevê e estava passando um daqueles programas de vestidos de noiva que, segundo o raciocínio da minha mãe, o fato de eu gostar de assistir, era o motivo óbvio para eu querer me casar. Troquei de canal na mesma hora. Não é como se eu não gostasse mais de Say Yes To The Dress. Eu gostava. Mas eu estava, tipo assim, um pouco traumatizada. Acabei deixando em Hora de Aventura.

Enquanto eu via o episódio se desenrolar, liguei para o Léo. Eu estava feliz com a perspectiva de falar com ele. O telefone chamou uma, duas, três vezes. Ele atendeu no décimo primeiro toque, quando estava prestes a cair na caixa postal. Eu já estava para desligar, afinal estava gastando meus créditos. Aliás, não era algo com o qual eu costumava me preocupar. Os créditos do celular, eu quero dizer.

— Alô? — Ele atendeu.

— Oi! — Respondi, entusiasmada.

Eu andara tão ocupada todos os dias e tão cansada todas as noites naquela semana que só consegui falar com ele uma vez desde que havia chegado. Ele tinha meu número, mas não tentara me ligar nenhuma vez.

— Oi, Sarah... — A recepção dele foi menos calorosa do que eu esperava. Imediatamente senti meu entusiasmo diminuir.

— Tudo bem?

— Na medida do possível — ele respondeu, secamente. — E você?

— Muito bem — respondi. — Estou com saudades.

Eu esperava que ele respondesse "eu também" ou qualquer coisa do tipo. Mas em vez disso, ele resmungou:

— Então você ainda não desistiu dessa loucura?

— O quê!?

Ei. Certo, então era assim que ele me cumprimentava agora? Nossa, era muito romantismo para uma pessoa só.

— Você sabe que tudo isso é maluquice!

— Ei, Leonardo — vamos dizer apenas que chamá-lo assim, "Leonardo", era a minha forma de dizer que estava danada da vida —, você sabe que estou fazendo isso por nós. Ou eu teria de me casar com outro.

Senti um calafrio só de pensar no Sebastian. A voz do Léo soou um pouco mais suave quando respondeu:

— Eu sei... Mas, e se você conhecer outro enquanto estiver aí?

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