9 - Entrevistas, Quartos E Mais Pesquisas

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Eu tinha conseguido. O meu quarto era um dos últimos do longo corredor, numa área só para os quartos dos funcionários. Era um cômodo simples, não era grande, mas tinha um bom espaço. As paredes tinham um tom de amarelo-claro e pareciam pedir que eu as decorasse. A mobília era composta de uma cama de solteiro — talvez fosse um pouco maior que uma cama comum —, um armário estreito, uma cômoda e um criado-mudo. Todos os móveis eram de boa qualidade e clássicos, apesar de simples. Como estava no térreo, a janela tinha uma vista sensacional do jardim. Imediatamente, comecei a pensar de forma involuntária em coisas que eu poderia fazer para deixar o lugar mais pessoal — isso, claro, se eu conseguisse ficar por tempo o bastante.

Eu tinha passado por uma entrevista com a Cecília. Tipo, eu já tinha dado um milhão de entrevistas para a televisão, revistas e tal, mas nunca fiquei tão nervosa antes. Depois de fazer um verdadeiro interrogatório, e esse foi o momento mais tenso, ela pediu para ver meus documentos — e, sim, eu estava usando meus documentos de verdade, já que não tinha coragem e nem meios para conseguir documentos falsos — e super reparou que eu era de Veritas. Claro, não é como se ela soubesse que eu era uma princesa em Veritas. Ela não sabia. Aparentemente as pessoas em Nova Germânia não estavam exatamente interessadas na realeza de Veritas.

Pelo menos o fato de eu ser de Veritas podia explicar minha falta de conhecimento sobre os membros da realeza dos meus vizinhos — digamos que ela não achou que eu fosse a pessoa mais esperta do mundo quando eu não soube quem era o príncipe mais cedo. Bem, em compensação, isso deixava a governanta com toda a população de pulgas do continente atrás da orelha. Ela ficou toda "o que você veio fazer aqui?". E eu respondi a primeira coisa mais ou menos plausível que me ocorreu: "E tive um problema com meus pais e saí de casa". Não era totalmente mentira e dessa vez não gaguejei nem por um segundo.

De qualquer forma, talvez apenas por causa da sugestão do príncipe — que deveria deixar esse tipo de problema doméstico sob os cuidados da governanta —, ela me aceitou e me entregou um contrato e explicou as regras, os horários e essas coisas. Eu tive o bom senso de dizer que queria ser paga em dinheiro vivo — ela achou estranho, mas não insistiu — e, por ser menor de idade — aliás, eu estava no limite, já que a idade mínima para trabalhar em Nova Germânia é de dezesseis anos —, ela disse que vou precisar me matricular em uma escola no começo do ano letivo. E, quanto a isso, eu é que não pretendia ficar por tanto tempo.

Pela primeira vez desde que pulei os muros da minha casa, me senti um pouco mais relaxada. As coisas, afinal, não estavam indo tão mal quanto eu imaginava que estariam — eu ainda não tinha sido presa e deportada, feita de refém pelo país inimigo nem encontrado um assassino psicótico no caminho.

Larguei minha mochila no chão e sentei pesadamente na cama — surpreendentemente, o colchão era macio, não duro como uma tábua, como eu achei que seria —, não sem antes pegar o meu notebook. Na verdade, o notebook era da Sayuri. Ela tinha três e não se importou em me emprestar um, já que eu tinha ficado com medo de conseguirem rastrear o meu, caso o levasse comigo. Felizmente, ali tinha wi-fi e era público.

A primeira coisa que fiz foi abrir uma página do Google e digitar "príncipe Christopher" no campo de pesquisa, ansiosa. Apertei enter e vários resultados apareceram na tela. Uma infinidade de links que tinham sido "ocultados" quando pesquisei antes com a Sayuri, agora apareciam normalmente. Página da Wikipédia, sites oficiais, contatos e mais um milhão de sites de notícias e fofocas.

Na mesma hora peguei o celular — que fiquei surpresa em perceber, funcionou sem problemas — e liguei para a Sayuri. Ela atendeu no primeiro toque.

— Sarah! — Sua voz soava algo entre aliviada e entusiasmada. — Você está bem? Onde você está? O que está acontecendo?

As perguntas vinham em uma enxurrada.

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