60 - Status, Progenitores e Aparelhos Celulares

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- Oi - era a voz dele, sem dúvidas. Baixa e aveludada, como sempre. Na verdade, parecia até mais sedutora do que eu me lembrava. - Como você vai?

- Bem, eu ainda estou solteira. - Aquilo era mesmo a minha cara. Agora parecia que eu estava anunciando meu status de relacionamento. - Quero dizer, eu ainda não estou casada com o Sebastian nem nada, é isso que eu quero dizer. Só isso que eu estou dizendo.

Ele soltou um risinho.

- Eu entendi.

Era mesmo uma sorte que ele não pudesse ver como eu estava ficando vermelha.

- Eu achei que meus pais fossem me despachar com uma passagem só de ida para Marte ou sei lá...mas por enquanto, nada aconteceu. Tipo, minha mãe queria que eu visse as coisas do casamento e tal, mas eu recusei. E até agora não me mandaram para nenhum lugar fora do planeta Terra.

- Não tem problema você estar falando comigo? Essa ligação não poderia estar sendo rastreada? - Ele perguntou isso com muita tranquilidade.

- Ninguém sabe da existência desse número. É o mesmo que eu usava enquanto estive aí. Não precisa se preocupar, ninguém vai saber que estou falando com você.

Escutei quando ele soltou um suspiro.

- Não é exatamente com a minha segurança que estou preocupado. Eu apenas não quero que descubram e achem que você está envolvida em algum tipo de esquema de espionagem ou conspiração.

Por que ele estava falando assim? Quero dizer, eu entendi que ele estava preocupado que eu pudesse ser pega no flagra, porque eu poderia me encrencar ainda mais. O que eu quero dizer, é que ele soava cansado e, dessa vez, não parecia nem um pouco preocupado consigo mesmo.

- Como você está? - Perguntei, sem rodeios.

Ele vacilou um instante, pego de surpresa pela minha secura.

- Estou bem - ele murmurou.

- Ok. Agora me diga a verdade - insisti, direta.

Ouvi ele soltar uma risadinha abafada. Eu até podia imaginar um sorriso tímido em seus lábios e as covinhas evidentes. Precisei conter um suspiro.

- Parece que alguém me conhece bem - ele falou descontraído.

- Um pouquinho - garanti. E acrescentei, mais séria: - Você quer falar sobre o que está acontecendo? É o seu pai? Ele tem causado problemas?

Ele soltou outro suspiro pesado. Por um minuto inteiro de silêncio, achei que ele não pretendesse responder, afinal. Mas ele começou:

- O meu pai. É nós estamos tendo alguns atritos. - Ele respirou fundo uma vez. - Ele está me acusando de ter destruído o governo dele e afastado os protegidos dele dos seus cargos. Aparentemente, vários "amigos" dele que foram afastados o procuraram para reclamar.

- Imagino que ele já tenha reassumido o poder.

- Sim, mas ele só oficializará em um discurso público na próxima semana.

- Sinto muito - me ouvi dizer, antes de perceber que ia realmente dizer isso.

- Pelo quê? - Ele perguntou, confuso.

- Por você. Eu sei o quanto você gostava do seu trabalho. Apesar de tudo, você realmente se importa com o país.

Ele titubeou. Com um tom um pouco mais relaxado, falou:

- Não posso dizer que está errada, mas... bem, eu sempre soube que era apenas um substituto e que poderia sair a qualquer momento. Eu que não deveria ter me acostumado tanto. Fico apenas um pouco frustrado com a possibilidade de ver um trabalho de três anos ir por água abaixo. Por outro lado, agora que tenho mais tempo livre, estou pensando seriamente em concluir o meu doutorado.

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