18 - Ternos, Gravatas e Frustrações

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Infelizmente, eu trabalhei no domingo, embora não o tenha feito até muito depois do meio-dia. A Cecília aparentemente achava que não éramos necessárias, já que o príncipe esteve fora o dia todo.

O dia começou na segunda-feira com tudo, quando terminei de tomar café e imediatamente dei de cara com a Cecília no corredor, a caminho do almoxarifado.

— Sarah, você passou as roupas do príncipe na sexta-feira? — Ela perguntou, sem rodeios, nem um "bom dia" sequer.

— Sim — respondi, na defensiva. Ok, podiam não ser as roupas mais bem passadas do ano, mas estavam passadas, pelo menos. Acho que era melhor do que amassadas.

— Ele vai precisar do terno azul. Rápido, por favor.

Demorei mais tempo que o necessário para lembrar que, de fato, até tinha passado as roupas, mas esqueci completamente de levá-las para o lugar correto. Deixei tudo nos cabides, na lavanderia.

— Ah, claro, eu vou buscar agora mesmo — falei. Ela me dirigiu um olhar tolerante.

Corri até a lavanderia e peguei um paletó azul que estava em um cabide. Encontrei a Cecília outra vez no corredor e estendi o cabide para ela, que me encarou com uma sobrancelha erguida.

— Quem precisa do terno é o príncipe, não eu.

— Mas... — Titubeei, confusa.

— Leve para ele — ela concluiu.

— Mas ele não está no quarto? Eu nunca fui até lá... e eu nunca o atendi pessoalmente, Cecília! — Eu estava apreensiva de verdade.

Ela deu um sorrisinho duro, mas falou com calma:

— Você não parecia ter nenhum problema em lidar com ele pessoalmente no sábado. E olha que era sua folga.

— Mas eu só encontrei ele na biblioteca, foi uma coincidência.

Ela sorriu com um pouco mais de simpatia dessa vez.

— Sarah, ele não vai te morder. Além do mais, eu preciso ir até a cozinha agora, não tenho tempo, está tudo atrasado hoje. Pode ir lá sem medo.

Sem alternativas, assenti, mas não realmente com confiança. Atravessei o palácio e subi as escadas, com vontade de sair correndo na direção oposta. Não que eu estivesse com medo do Christopher nem nada. Mas ele era o príncipe, afinal, e eu só tinha cometido gafes com ele até agora.

Bati de leve na porta. Esperei um instante e em vez de abrir a porta, ele gritou lá de dentro um "Pode entrar" displicente. Nervosa, abri uma fresta da porta, e dei uma olhada para dentro do quarto, enquanto falava:

— Sou eu, a Sarah, trouxe o terno que a Cecília pediu — anunciei, baixo.

Sério, eu nunca imaginaria que fosse ver o que vi. Não que fosse grande coisa, mas não é como se eu andasse por aí tendo muito contato com garotos, exceto o Léo e o meu irmão — teve aquele garoto com quem eu fiquei antes de reencontrar o Léo e nós começarmos a namorar, mas isso não vem ao caso. E não é como se eu tivesse muitos vislumbres dos abdomens deles. Não mesmo. E, ok, talvez eu só tenha visto ele abotoando a camisa por uns cinco segundos, mas foi suficiente para ver que ele tinha um corpo legal — não musculoso como o Vin Diesel e tal, mas magro de um jeito atlético, com certeza.

Fiquei ali, parada e sem fala por alguns segundos a mais do que seria socialmente aceitável. Ele não pareceu notar, já que nem estava olhando para mim, enquanto vestia o colete apressadamente, mas repetiu, mais baixo dessa vez:

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