10 - Funções, Colegas e Sonos Interrompidos

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Eu tinha tido o restante do final de semana para organizar minhas coisas no meu quarto e descansar um pouco. Por ser domingo, eu não tinha tido a oportunidade de conhecer quase ninguém na equipe de funcionários durante as refeições, porque muitos estavam de folga e tinham saído para aproveitar o dia.

Mas na segunda-feira eu estava tão ansiosa que acordei exatamente um minuto antes que o despertador tocasse. Não é como se isso acontecesse com muita frequência. Não mesmo. Geralmente, eu brigava e discutia com o despertador e, por fim, só levantava da cama vinte minutos depois do primeiro toque, sendo obrigada a me arrumar às pressas. Mas nesse dia eu estava com tanto frio na barriga que quase podia ouvir a Elsa cantando Let It Go e era impossível continuar na cama.

Os funcionários tinham vestiários próprios. Um feminino e um masculino. Felizmente ficava perto dos quartos. Foi a primeira vez que experimentei o uniforme que a Cecília havia me dado. Era um daqueles uniformes de empregada com camisa e calça, preto com gola branca. Os tênis brancos também eram parte do uniforme, mas confesso que eram confortáveis. Ela tinha me dado um outro uniforme daqueles clássicos, com vestido, avental branco e tal, mas tinha me dito que só precisava usá-lo em dias especiais, festas ou eventos, no palácio - que aparentemente não ocorriam com muita frequência.

Acabei sendo uma das primeiras a chegar para tomar café-da-manhã - porque claro que era a minha cara ser a primeira a aparecer para comer. O refeitório dos funcionários eu já tinha conhecido, era um espaço grande onde estendiam quatro mesas compridas. Uma porta de vaivém dava para a cozinha, embora eu só tenha tido um vislumbre quando alguém passou. Várias janelas ficavam na parede à minha frente, onde, além do jardim, dava para ver uma espécie de bosque ou algo assim ao longe. Perto da entrada havia uma mesa posta com uma quantidade inacreditável de comida. Eram coisas simples, mas era realmente muita coisa.

A pessoa responsável por cuidar de tudo aquilo, eu já havia conhecido. A Virgínia, a chef de cozinha, era uma mulher negra, com um sorriso cativante e em vez de um chapéu branco, que combinava com a roupa, ela usava um turbante com cores alegres. Ela tinha um ar maternal que eu nunca tinha visto em chefs de cozinha, todos os que eu conhecera eram homens com ar sofisticado e, às vezes, arrogante.

O meu maior problema, confesso, ainda era o medo de estar entre tantas pessoas e alguém acabar me reconhecendo. Veja bem, no meu país, eu não conseguia dar um passo em meio a tanta gente sem ser abordada por alguém. Não que eu já tivesse dado um passo em meio a tanta gente sem seguranças antes e... pensando bem, talvez fosse por isso que eu chamava tanta atenção. Você sabe, por causa da escolta e tudo mais. Mas, de qualquer forma, ali em Nova Germânia, ninguém parecia dar a mínima para a princesa de Veritas, quem era ou deixava de ser.

Eu mal tinha conseguido comer graças ao castelo de gelo da Elsa no meu estômago que nem o café quente conseguira derreter, quando a Cecília me chamou para falar sobre as minhas tarefas e me contar uma surpresa que ela tinha "esquecido" me falar antes.

- Não sei se cheguei a comentar - ela disse. Seu tom de voz era tão rígido quanto o coque de seu cabelo. -, mas você vai trabalhar principalmente na área norte do palácio. - Até aí tudo bem, certo. Eu quase saí correndo mesmo quando ela continuou: - É a parte mais... particular do palácio, onde realmente fica a família real. Sendo assim, é recomendável que você redobre a atenção com os detalhes.

Tipo, ela compreendia que eu nunca, nunquinha tinha trabalhado ou sequer pensado em trabalhar como camareira, certo? Como ela podia me designar para trabalhar na área particular das piores pessoas do planeta? Eu quase podia ouvir o tom vitorioso em sua voz ao ver a minha cara de amedrontada. Porque claro que ela me queria bem longe dali. Se ela pudesse, me mandaria trabalhar para o imperador do Japão. "Atenção com os detalhes", ela tinha dito. Detalhes? Que detalhes? Eu nem saberia o que estava gritando na minha cara, quanto mais os malditos detalhes.

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