31 - Insônias, Cafés da Manhã e Dates

2.6K 299 216
                                    

Eu sei, tinha sido besteira correr do Christopher depois que chegamos. Tipo, não é como se eu não tivesse acabado de reproduzir a cena de algum filme com ele. Mas, sei lá, eu fiquei insegura e, certo, eu também precisava de tempo para pensar no que estava acontecendo. Muito tempo.

Fiquei feliz em perceber que tinha conseguido voltar para o meu quarto sem ser interpelada por ninguém - eu tive que me esgueirar pelos corredores e tal - e tomar um banho quente, trocar de roupa e tentar dar um jeito de pendurar as roupas que estavam na mochila para secar - basicamente tinha molhado tudo que estava dentro da mochila, exceto o que estava na minha carteira e na nécessaire - antes do jantar.

Eu tinha ligado para a Sayuri para dizer que não ia mais voltar naquele dia. Fiquei sem jeito de contar o motivo de eu ter mudado de ideia. Ainda que ela fosse minha melhor amiga, eu sabia que ela me daria um sermão homérico se soubesse que eu tinha, de fato, beijado o príncipe de Nova Germânia. Ainda por cima, enquanto estou comprometida com outro cara e prometida em casamento para um terceiro.

E isso era outra coisa que eu tinha que pensar. Sobre eu já ser namorada de outra pessoa, eu quero dizer. Eu passei boa parte da noite pensando em tudo, no beijo, no Léo, nas consequências de me envolver com um possível inimigo... Era muita coisa para que eu conseguisse dormir. Fiquei rolando na cama ou olhando para o teto até altas horas da madrugada. E a única coisa que eu consegui descobrir é que talvez eu não gostasse tanto assim do Leonardo. Porque, sabe, se eu realmente gostasse dele, acho que eu não teria tido olhos para o Christopher, para começar a conversa. Eu nunca tinha me sentido com o Léo como eu me sentia com o Christopher - não que eu estivesse apaixonada por ele ou algo assim -, nem no começo do nosso namoro. E isso devia significar alguma coisa. Eu era definitivamente a pior pessoa do mundo.

As horas de sono que eu perdi, acabaram fazendo com que eu perdesse a hora pela manhã. Por sorte, eu estava de folga - a Cecília não havia dito nada sobre a biblioteca que ficara sem ser limpa no dia anterior -, mas eu também havia perdido o café-da-manhã porque já passava das dez, quando tomei banho e fui até a cozinha.

A Virgínia estava por ali, apesar de ser domingo, embora sem os ajudantes que normalmente preparavam as refeições para todo mundo. Ainda era cedo para fazer o almoço. Ela estava fazendo um bolo, eu acho. Ela deixou que eu comesse ali mesmo, sem problemas.

Me servi de uma xícara de café com leite, dois croissants pequenos que haviam sobrado, alguns biscoitos amanteigados e me sentei à bancada. Enquanto eu comia um croissant, a Cecília entrou na cozinha. Ao contrário do que eu esperava, ela não pareceu surpresa por me ver ali. Nem aborrecida tampouco.

- Perdeu a hora, dorminhoca? - Ela brincou. Eu ergui a cabeça imediatamente, arregalando os olhos, surpresa com o gracejo incomum para ela.

- Sim - murmurei de volta. - Eu perdi o sono durante a noite.

Ela se voltou para a Virgínia, lembrando-a de que elas precisavam começar a fazer a lista para as compras da ceia de Natal, que seria dali a três semanas. Eu imaginava que compras para ocasiões tão grandiosas em um reino deviam mesmo ser feitas com antecedência.

Eu terminei o café e os croissants ouvindo-as falar uma infinidade de coisas em quantidades astronômicas, que a Cecília ia anotando em uma prancheta. Eu estava mastigando um biscoito quando percebi o silêncio repentino que se estabeleceu de repente. Levantei a cabeça e acompanhei a direção dos olhares das Cecília e da Virgínia.

O Christopher tinha acabado de entrar na cozinha. Ele estava usando uma camiseta de mangas longas cinza e jeans. Enquanto quase flutuava pela cozinha com toda sua elegância, ele deslizou os dedos pelo cabelo para tirá-lo do rosto de um jeito que senti meu queixo cair.

RealOnde histórias criam vida. Descubra agora