20 - Ansiedade, Explicações e Revelações

2.7K 330 133
                                    

Ok, talvez eu tivesse mesmo chegado a tentar bolar um plano de fuga. Mas, cara, eu tinha ficado um mês inteiro fazendo um plano para conseguir fugir da minha própria casa, por que eu conseguiria arquitetar alguma coisa em meia hora? Sem falar, que provavelmente, o príncipe já tinha colocado guardas para ficar na minha cola. Eu estava simplesmente ferrada! Seria mais útil eu gastar esse tempo que me restava de vida preparando meu testamento - onde eu deixaria meus livros de fantasia e meus sapatos para a Sayuri, já que era basicamente tudo que eu tinha de meu.

Não me importei em sair do jardim assim que recebi o recado - não é como se a Cecília pudesse fazer algo pior comigo porque eu tinha saído mais cedo. Fui tão cabisbaixa para o meu quarto que mais parecia que eu estava me preparando para o meu tribunal - ninguém nem me questionou pelo caminho.

Tomei um banho rápido e troquei de roupa - eu não seria julgada usando aquele uniforme bobo. Vesti um jeans, um suéter cinza da Hello Kitt e tênis. Enquanto recolocava todas as minhas coisas na mochila - só para o caso de eu conseguir ser apenas expulsa, eu preferia deixar a bolsa pronta -, liguei para a Sayuri.

- Oi! - Ela falou, animada. - Como vão as coisas?

Pela sua voz, ela deveria estar comendo alguma coisa. Falei, sem rodeios:

- Péssimas. Eu fui descoberta.

Ouvi um som como se a Sayuri tivesse se engasgando com o que quer que estivesse mastigando. Por alguns instantes só escutei sua tosse do outro lado da linha. Ótimo, agora eu ia matar minha melhor amiga... Esse dia não tinha como ficar melhor.

- Como assim!? Quem te descobriu? Já contaram para o príncipe de Nova Germânia? - Ela finalmente falou, alarmada.

- Não precisa que ninguém conte para ele. Foi ele mesmo quem descobriu. - Minha voz soou apática até para mim mesma.

- O quê!? Como você conseguiu essa façanha? Em um lugar tão grande, entre tantos empregados, ele foi prestar atenção justamente em você?

- Olha só, eu também achava improvável, mas acredite, não é assim tão impossível.

- Você precisa sair daí já! - Ela estava realmente surtando.

Passei a mão pelo rosto e dei uma olhada no relógio. Cinco e cinquenta e quatro. Eu tinha seis minutos

- Eu preciso desligar - concluí, devagar.

- Por quê? - Ela estava praticamente gritando, histérica, no meu ouvido. - O que você vai fazer, Sarah?

- Vou falar com o Christopher.

Após alguns segundos para entender de quem eu falava assim, sem títulos nem nada, ela guinchou:

- Para quê? Você não pode... Espera - se interrompeu, eu sabia só pelo seu tom de voz que ela estava tendo uma de suas brilhantes ideias. - Talvez você possa fazer um acordo com ele. Diga que se você puder voltar para casa, seu pai desistirá do território pelo qual eles estão brigando. Tenho certeza que seu pai faria isso em troca da sua segurança.

- Certo, eu vou tentar isso - disse, sem convicção nenhuma. - Agora preciso ir. Se eu não ligar mais tarde, é porque alguma coisa aconteceu. Tchau.

Cinco minutos. Desliguei o telefone antes que ela pudesse pirar ainda mais e me deixar ainda mais nervosa - se é que isso era possível. Prendi meu cabelo em um rabo-de-cavalo enquanto saía do quarto. Eu até poderia tentar a ideia da Sayuri, claro. Mas, sinceramente, eu não tinha certeza que meu pai abriria mão do território do polo industrial por minha causa. Quero dizer, não é como se eu achasse que meu pai gostava mais do território do que de mim, mas com certeza ele estava meio obcecado com a ideia.

RealOnde histórias criam vida. Descubra agora