54 - Reis, Cobranças e Meios de Transporte

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Como eu imaginava, a Cecília deu um jeito de voltar mais cedo e chegou de madrugada. Não que eu a tivesse visto chegar - ela não tinha sido tão extrema a ponto de acordar todo mundo para organizar o palácio antes do dia amanhecer. Mas foi o que ela me falou na manhã seguinte quando a encontrei durante o café e dava mesmo para notar que ela não tinha dormido muito.

Um monte de funcionários estava chegando a cada minuto e a Cecília parecia muito ocupada fazendo um planejamento de funções para designar a cada um. Graças a sua conversa com o subchefe da guarda - o chefe da guarda tinha acompanhado o príncipe na viagem -, ela já sabia muito melhor que eu a localização do rei e o destino da viagem do Christopher. Felizmente, ela tinha ficado satisfeita com o meu trabalho no quarto do rei e quase não teve tempo para reclamar quando soube que os rapazes da cozinha não tinham preparado a ceia de Natal tradicional para o príncipe, mesmo que tivesse sido uma sugestão dele mesmo - ainda bem que tínhamos arrumado toda a bagunça remanescente da festa no dia anterior e ela nem tinha visto a bagunça que tinha ficado na área externa.

Mas no fim das contas não precisávamos ter corrido tanto, porque o rei não voltou naquele dia. Nem no dia seguinte. Então, exceto ficar conferindo cada detalhezinho, não havia muito o que fazer.

Eu confesso que já estava ficando um pouco preocupada com a demora. Não porque eu quisesse conhecer o rei, longe disso. É só que... Quem eu queria enganar? Eu estava preocupada com o Christopher e em como ele estava lidando com o pai. Apesar de tudo, ele não parecia estar realmente bem quando o vi da última vez. Ele ainda estava tenso... estressado, talvez. A falta de notícias e a demora só me fazia sentir mais ansiosa. E, para ser sincera, eu não era a única no palácio. A se sentir ansiosa, eu quero dizer. Pelo que eu podia reparar, a maioria dos funcionários - todos os mais antigos -pareciam especialmente ansiosos e tensos. Não de uma forma boa. Tipo, será que não havia nenhum único funcionário que não tivesse medo do rei Carlos Alberto?

Eu já havia me deitado para dormir há muito tempo quando acordei com uma luz tão intensa vindo do exterior, que atravessava as cortinas do quarto. Não podia ser a luz do sol, podia? Desnorteada pelo sono, tateei o criado mudo até encontrar o celular. Eram duas e meia da madrugada. Levantei da cama, cambaleante e fui dar uma espiada através da janela, por uma fresta da cortina.

Todas as luzes do jardim tinham sido acesas. Começava a chover forte. Pela minha janela, eu conseguia ver que o portão tinha sido aberto e vi uma verdadeira comitiva de carros adentrando a propriedade. Certamente eu não era a única espiando pelas janelas. Será que eu era a única cujo coração tinha disparado de repente, de uma forma desconcertante?

Observei os carros da segurança nacional, seguidos por vários agentes em motos e mais carros atrás. Provavelmente, aquele carro bem no meio era o que trazia a família real, no qual eu me concentrei. Pelo menos, até um dos motoqueiros atrair a minha atenção. Isso porque, ao chegar na entrada da casa, o piloto da moto simplesmente estacionou-a de qualquer jeito e desceu dela com gestos nervosos. E o cara nem estava de uniforme. Embora ele ainda brigasse com o fecho do capacete, meu coração pulou uma batida ao reconhece-lo. Quando finalmente o Christopher conseguiu tirar o capacete, ele sumiu do meu campo de visão.

Ainda vi quando guardas vieram do interior do palácio com guarda-chuvas armados para proteger o rei das gotas de caíam em cada vez maior quantidade. O rei desceu do carro. Eu, que só o tinha visto em fotografias, me surpreendi com sua altura e porte elegante, mas dava para ver mesmo daquela distância o ar arrogante que parecia exalar dele. O cabelo escuro com mechas já grisalhas, estava impecavelmente penteado e os olhos azuis seriam capazes de congelar o oceano com toda aquela frieza.

Me sobressaltei quando uma batida soou à minha porta. Será que a Cecília viria me chamar? Eu achei mesmo que tudo estivesse preparado para o retorno do rei. Afastei-me da janela e andei cautelosamente até a porta, abrindo uma fresta. Dei uma olhada para fora. Meu coração acelerou de imediato. O Christopher estava parado à minha porta, olhando para o chão. O cabelo um pouco úmido caía no rosto e ele tinha as mãos nos bolsos da calça jeans. Ele ergueu a cabeça e viu ali, observando-o.

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