15 - Encontros Noturnos, Bolos e Observações

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Certo, talvez eu estivesse surtando outra vez, sabe, só um pouco. Apesar de tudo, eu terminei de passar o restante das roupas - enquanto eu decidia o que fazer com relação àquela camisa que eu tinha queimado: se cavava um buraco até o centro da Terra para me esconder ou se fugia daquele palácio voando pendurada em milhares de balões, ao melhor estilo Up - Altas Aventuras.

Quando terminei tudo, já passava alguns minutos de meia-noite - não que fosse pelo excesso de roupa, eu tinha ciência, mas sim por causa da minha falta de rapidez.

Ajeitei as roupas nas araras, guardei o ferro, a tábua de passar e tudo mais. Me esgueirei pelos corredores até a cozinha para tomar um copo de água - na verdade, eu já estava com fome outra vez, mas não tinha coragem de assaltar a geladeira. Se estivesse na minha casa, provavelmente seria o melhor horário para comer

Aparentemente, todo mundo já tinha se recolhido aos seus quartos, já que não tinha ninguém por ali, nem mesmo guardas perambulando por aquelas bandas. Para ser sincera, todo aquele silêncio estava começando a me deixar com medo. Não que eu fosse medrosa ou sei lá o quê, mas digamos que assistir filme de terror à noite não era exatamente meu programa preferido. E esse negócio de alguém já ter morrido na casa, não fazia eu me sentir melhor.

Fechei a porta da geladeira. E, cara, eu juro, quase deixei cair o copo com água no chão. Isso porque ao me virar, dei de cara com uma pessoa no limiar da porta da cozinha. E não, não era uma aparição sobrenatural ou algo assim. Antes fosse. Naquele momento eu preferia mil vezes encontrar o Freddy Krueger em pessoa. Mas não. Em vez disso, quem me fitava com olhos surpresos, do outro lado da cozinha, era o príncipe.

- Boa noite - ele falou tranquilamente.

Em choque, tentei fazer uma reverência e quase derrubei a água do copo e acabei desistindo no meio do gesto, fazendo apenas um movimento muito esquisito.

- Boa noite, alteza - murmurei de volta.

Ele me lançou um olhar curioso. Talvez não esperasse encontrar alguém por ali àquela hora. Bem, na verdade, estava muito óbvio que ele não esperava encontrar alguém por ali. Caso contrário, muito provavelmente não estaria usando um pijama.

Sim, o lance era que o príncipe estava vestindo um robe azul-escuro aberto, deixando ver que dessa vez, em vez do pijama careta do outro dia, ele usava um pijama com calça preta e uma camiseta branca com o desenho do Darth Vader acompanhado da frase "I am your father". Apesar de tudo, não consegui conter um sorriso.

- Trabalhando até esta hora, Srtª Sarah? - Ele avançou alguns passos para dentro da cozinha.

Por um instante, me perguntei como ele poderia saber que eu ainda estava trabalhando e não apenas dando uma volta e tomando um copo d'água. Mas me dei conta que, assim como eu tinha analisado a vestimenta dele, ele devia ter analisado a minha. E, no caso, eu ainda estava de uniforme.

- Ah, nada demais - respondi, tentando parecer despreocupada. - Só estava terminando uma coisa.

- Mas já é bem tarde. Diga à Cecília que eu te dispensei. Pode ir descansar.

- Ah, não, não. Eu acabei de terminar, na verdade. Não precisa se preocupar. - Eu estava novamente começando a falar desesperadamente, como se fosse perder a voz no dia seguinte. Por que eu não conseguia agir como uma pessoa normal pelo menos uma vez? - Bem, na realidade, eu que deveria me preocupar... Eu posso ajudar em alguma coisa?

- Não, obrigado - ele respondeu polidamente. Mais polidamente do que eu achei que fosse possível. Minha mãe ficaria encantada se o escutasse. - Eu desci apenas para comer alguma coisa. Não há necessidade de se incomodar.

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