Não posso dizer que meu final de semana foi uma beleza realmente, já que eu ficava constantemente esquecendo que estava com a mão machucada e tentava pegar as coisas com ela - sendo lembrada imediatamente pela dor aguda. O lado bom é que a médica da enfermaria me liberou do trabalho durante os dois dias seguintes por conta do corte na mão. E, ok, não é mesmo como se tivesse muita coisa para fazer, uma vez que o príncipe não estava no palácio - na verdade, ele nem estava no estado, até onde eu sabia. Então apenas matei o tempo lendo, assistindo Brooklyn 99 e tendo meus pensamentos constantemente interrompidos por um certo sorriso de dentes brancos, perfeitos e covinhas adoráveis.
Me peguei pensando que devia ter pedido o número do telefone dele para, pelo menos, poder mandar mensagens. Mas no mesmo instante, me condenei por estar tendo uma ideia dessas. Eu não devia querer mandar mensagens para o Christopher. Ele devia ser meu arqui-inimigo ou qualquer coisa assim. Eu não devia ficar rindo como uma boba só de lembrar do rosto corado dele no nosso último encontro ou como ele deixou que eu ficasse com a comida dele.
Mas o lance era que durante toda a minha vida, tudo que eu soube a respeito de Nova Germânia era que eles tinham roubado uma parte do nosso país como uns miseráveis e que a toda a família real, os Morgstern, mereciam ser odiados para todo o sempre. Mas eu nunca tinha me tocado que isso tinha acontecido há uns setenta anos e que os Morgstern que levaram parte de Veritas provavelmente nem estavam mais vivos. Eu duvidava que todas as gerações deles fossem seres desprezíveis. E eu duvidava que o Christopher fosse assim.
Além do mais, todas as histórias que eu sempre ouvi, diziam que a imprensa era censurada e que a população do país era manipulada. Mas a verdade era que as pessoas pareciam gostar do Christopher e quanto a mídia... bem, tudo que eu descobri é que meu pai bloqueia pesquisas no meu país. Simplesmente não é justo esconder informações. Acho que qualquer pessoa do país tem direito de tirar suas próprias conclusões sabendo da verdade.
E eu podia até não conhecer o Christopher há muito tempo, mas eu sabia que ele não era uma pessoa ruim. O pai dele? Ok, eu não tinha as melhores impressões sobre o cara - tipo assim, o homem que empurra a esposa do alto da escada não se torna exatamente confiável. Mas o Christopher só tentava fazer o melhor que ele podia no governo do país. Ele se desgastava mais do que devia por isso. Ele era só um garoto quebrado. Era mais do que óbvio que a forma como ele fora criado o havia feito se fechar como uma ostra, na qual era extremamente difícil entrar. Até fazê-lo sorrir era difícil!
Ele tinha me dito que voltaria no domingo à noite, mas isso não aconteceu e quando fui tomar café da manhã na segunda-feira, soube que ele ainda não tinha chegado. Não é como se ele tivesse algum compromisso comigo nem nada, mas ele tinha dito que voltaria no domingo. Com sutileza, perguntei à Cecília sobre o príncipe.
- Ele está te devendo alguma coisa? - Foi o coice que eu recebi. Ok, ela não era mesmo a pessoa mais simpática do planeta, mas, cara, nunca tinha me dado uma resposta dessas.
- N-Não. É só que ele disse que... - Hesitei, pega de surpresa. Para logo em seguida descartar a pergunta com um gesto antes que ela me chutasse dali. - Ah, esquece, não é da minha conta mesmo.
Me virei para sair, mas ela respondeu, mais calma dessa vez:
- Ele se sentiu mal ontem e passou a noite no hospital, na cidade onde estava.
Imediatamente senti meu coração se apertar, perguntei, apreensiva:
- Mas ele está bem? - Eu não dava a mínima se achava que estava sendo muito intrometida, uma vez que eu não passava de uma empregada. Eu só precisava saber dele.
- O assistente dele ligou à noite. Até onde eu sei, ele teve apenas uma dor de estômago e teve um pouco de febre, mas acharam melhor que ele ficasse em observação.
- E quanto tempo ele vai ficar no hospital?
- Ele já saiu de lá. Está voltando para casa. O médico dele deve vir até aqui para examiná-lo pessoalmente.
Eu fiquei quieta durante um instante, preocupada. Ele parecia bem na sexta-feira. Quer dizer, ele ainda estava um tanto quanto abatido, como durante toda a semana, mas ele tinha dito que estava bem. Eu devia ter imaginado. A Cecília saiu, indo certificar-se de que o quarto do Christopher estava pronto e provavelmente ligar outra vez para o médico.
Eu voltei às minhas tarefas - porque o meu atestado era só para o final de semana -, sem conseguir tirar aquela preocupação do meu peito. Lá pelas duas da tarde, quando vi pela janela que ele estava chegando, praticamente me pendurei no parapeito para olhá-lo melhor. Ele desceu do carro rapidamente usando uma roupa completamente casual - uma calça jeans, uma camiseta cinza e tênis -, o rosto ligeiramente mais pálido que o normal e praticamente disparou para dentro do palácio, alguns guardas o seguiram. Eu estava no mesmo andar do quarto dele e ouvi o burburinho quando ele alcançou o primeiro andar. Esgueirei a cabeça por uma fresta da porta do quarto que eu estava arrumando, contendo a vontade de correr até ele e perguntar como estava se sentindo, porque vi um monte de gente que já tinha se adiantado, o cercando.
- Estou ótimo - ele falou para a Cecília, num tom cansado de quem já respondeu a mesma coisa vezes demais.
Certamente, "ótimo" não era a palavra correta para descrevê-lo naquele momento. Ele estava de fato com um ar exausto como se tivesse passado a noite em claro, até o brilho de seus olhos tinham se ofuscado um pouco. Quando ele alcançou a entrada de seus aposentos, a Cecília e o Jarbas em seus calcanhares, ensaiei um sorriso, mas ele não me viu, apenas sumiu porta adentro ainda murmurando "não, obrigado" e "não se preocupe" para todas as sugestões que lhe eram dadas.
Eu sempre achei que não fosse do tipo que se preocupa o bastante com as outras pessoas. Na realidade, eu sempre achei que fosse até um pouco egoísta e tal. Pelo menos, minha mãe faz questão de me dizer isso pelo menos uma vez por semana. Mas acho que ela mudaria de ideia se soubesse o quanto eu estava preocupada com o Christopher. Tipo, sério. Eu estava fazendo minhas tarefas do dia completamente desligada - surpreendentemente consegui não quebrar nenhum item da decoração do palácio, nem cortar nenhum membro do meu corpo.
Eu tinha acabado de recolocar na cristaleira - sim, uma cristaleira dessas clássicas, que só lembro de ter visto na casa da minha tia-avó - todas as taças e porcelanas que eu tinha tirado para poder limpar e observava com admiração o meu trabalho finalizado - pode me julgar. Alguém colocou a mão no meu ombro e praticamente gritou meu nome, me sobressaltando. Virei mais rápido que uma flecha, dando de cara com a Isadora.
- O que você quer? - Perguntei, soando mais ríspida do que pretendia, apesar de ela quase ter me matado do coração.
Ela me lançou um olhar enojado - juro, parecia que eu era algum inseto asqueroso ou qualquer coisa assim - e praticamente cuspiu:
- A Cecília me mandou te procurar.
- Por quê!? - Eu não lembrava de ter feito nada que merecesse uma bronca, não naquele dia, pelo menos.
- O príncipe quer ver você.
- Eu!? - Foi a minha vez de praticamente gritar. - O que ele quer? Eu não fiz nada!
- Querida, eu não sei. - Ela se empertigou toda. - Pergunte para ele! A Cecília está com ele no quarto.
Elasimplesmente virou as costas e se mandou.
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Oi, oi
Capítulo bônus! Muito obrigada pelos votos e comentários, vocês são sensacionais!
Feliz Natal! Que vocês tenham um dia iluminado!!
Bjs
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Real
Ficção AdolescenteSarah achava que já tinha problemas demais para lidar entre a escola, as cobranças da família, o seu namorado secreto e o fato de ser uma princesa em um país prestes a entrar em guerra com seu vizinho. Mas percebe que as coisas podem ficar ainda mai...