58 - Aniversários, Paranoias e E-mails

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Fazia duas semanas que eu havia voltado para casa. Não é como eu pudesse ao menos pôr os pés no jardim. Não, nem isso eu podia. Um guarda estava atrás de mim como uma sombra para se certificar disso. Aliás, uma guarda. Fiquei verdadeiramente feliz - e aliviada - em saber que a Felícia ainda era a minha guarda-costas. Ok, ela me disse que quase havia sido demitida, mas por fim, conseguiu argumentar que não podia ser responsabilizada por algo que ocorrera fora de seu turno. Eu pedi desculpas à ela mil vezes, mas talvez ela fosse a única pessoa naquele palácio a entender o porquê de eu ter feito o que fiz. Sério, ela nem tinha ficado aborrecida ou algo assim.

Os meus pais tinham ficado satisfeitos em mostrar a todos na festa de Réveillon que eu estava de volta da minha "viagem" - aparentemente, eles tinham inventado que eu estava em um curso na Suíça. Mas era possível que a vontade deles fosse que eu nem participasse da confraternização. É claro que eu não disse nada - eu não estava com moral para reclamar de muitas coisas -, mas, na verdade, eu não teria me importado de não participar. Teria sido bem melhor ficar no meu quarto com meus livros e talvez o fone de ouvido tocando uma música legal, enquanto pedia para alguém tentar surrupiar algumas empadas da cozinha. Mas em vez disso, fui obrigada a participar da festa e evitar o Sebastian todas as vezes que tentaram nos juntar.

Já no meu aniversário, meu pai parecia ter decretado que eu não deveria ganhar presentes. Mas minha mãe me deu mesmo assim um novo vestido Betsey Johnson. E, de qualquer forma, não é como se ele pudesse impedir que as pessoas me mandassem coisas - embora ele tenha ameaçado proibir as minhas entregas. Porém, sei lá, acho que ele se sentiu meio mal porque, por fim, permitiu que a Sayuri viesse me visitar. Esse era o meu presente de aniversário, já que eu não tivera permissão para vê-la desde que tinha voltado - imagina se meus pais tivessem a certeza de que ela tinha me ajudado a fugir.

Sério, ela tinha ficado uns dois minutos inteiros me abraçando quando nos encontramos no meio do meu quarto - que era o único lugar em todo o planeta em que eu tinha autorização para circular.

- Eu não acredito! - Ela pulou, animada, depois que me soltou. - Você voltou! E viva. De verdade, eu achei que isso nunca aconteceria.

- Obrigada por achar que eu ia morrer - resmunguei.

- Eu te disse desde o começo. À propósito, feliz aniversário! Agora, conte-me tudo. Não esconda nada - ela exigiu, sentando-se confortavelmente em uma poltrona.

A maior parte das coisas que aconteceram enquanto eu estava em Nova Germânia eu já havia contado por telefone, enquanto eu ainda estava lá. Mesmo assim, contei tudo que eu havia visto, as coisas que meu pai sempre dissera e que não pareciam nada verdadeiras. Contei sobre minhas atividades no palácio e como eu tinha me tornado especialista em produtos de limpeza. Ela escutou tudo empolgada, mas por fim perguntou:

- E quanto ao príncipe? Você não tem nada a dizer?

- O que tem ele? - Desconversei, sentindo meu rosto esquentar.

A Sayuri me lançou um olhar condescendente.

- Não se faça de idiota, Sarah. O que aconteceu entre vocês?

- Nada demais - murmurei.

- Nada demais!? Até onde eu sei, vocês se beijaram e depois disso você terminou com o seu namorado.

- É, ok, talvez a gente tenha se beijado algumas vezes. Só isso. - Eu podia sentir que ficava cada vez mais vermelha.

Talvez eu estivesse ficando paranoica, mas eu torcia para que meu quarto não estivesse microfonado ou qualquer coisa assim. Pode me chamar de maluca, mas eu já tinha mesmo procurado por câmeras escondidas. Não havia encontrado nenhuma.

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