3 - Almoços, Estratégias Políticas e História

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Durante o almoço, no dia seguinte, eu só pensava na minha escapada na noite anterior. Então não faço a menor odeia de como meu irmão chegou ao assunto polêmico. A verdade é que isso acontecia com frequência. Eu não prestar atenção nas coisas idiotas que meu irmão fala, quero dizer.

- E o desgraçado teve a capacidade de aparecer na festa! Não dá para acreditar.

- Felipe, ele foi convidado pela condessa. Portanto, tinha todo o direito de comparecer. - Minha mãe, a rainha Cecília, contestou.

- Quem? - Perguntei, deixando claro que não estava prestando a menor atenção na conversa à mesa, como sempre.

Meu irmão me lançou um olhar de reprovação. O Felipe tem vinte e um anos e se acha a última bolacha do pacote porque é o herdeiro do trono. E acha que pode mandar em mim por ser mais velho. No fundo, eu até sei que ele gosta de mim, mas ele é mesmo irritante. Após alguns segundos de olhar fulminante, ele me respondeu, cuspindo as palavras:

- O príncipe de Nova Germânia.

- O quê!? - Exclamei - Ele estava no baile ontem?

- O que você estava fazendo, que não o ouviu ser anunciado? - O Felipe me encarou, desconfiado.

Certo, meu irmão desconfia de tudo que eu faço. E daí se eu provavelmente estava no jardim, beijando um plebeu? Ele não sabia disso e não tinha o direito de me julgar!

- Hã... - hesitei. Com todas as regras que eu quebro todos os dias, eu devia mesmo saber mentir melhor. - Deve ter sido na hora em que fui à toalete.

- Toalete demorado, não? - Minha mãe sugeriu.

- Eu estava retocando a maquiagem - respondi, na defensiva. Como se eu fizesse esse tipo de coisa. Retocar a maquiagem. Propositalmente, fiz a conversa voltar ao assunto principal: - Mas ele, o príncipe de Nova Germânia, não é proibido de entrar no país?

O negócio é que todos os membros da família real, assim como todos os seus súditos nova-germânicos são proibidos de ultrapassar as fronteiras para Verittas sem uma autorização oficial. Nova Germânia é o país vizinho de Verittas e basicamente somos inimigos mortais.

- A condessa Barbisan - Felipe respondeu, com um olhar acusatório para nosso pai - pediu uma permissão especial ao papai e ele concedeu.

O papai, o rei Baltasar, encarou-o tranquilamente ao responder:

- A condessa é uma amiga da família há muitos anos, não há nada de errado em lhe conceder um favor pessoal em troca da continuidade da nossa aliança política com o Reino de Espírito Santo. Principalmente agora.

Com "principalmente agora" ele deveria estar se referindo à guerra que estava para estourar e para a qual ele costumava dizer que "aliados nunca são demais". Falar sobre isso acabou com o almoço em família e se transformou em uma discussão sobre estratégia de guerra entre o Felipe e o meu pai.

Logo depois de almoçar, me tranquei no quarto afim de terminar meu dever de História, que era sobre os conflitos políticos e territoriais que levaram à atual divisão de Estados no continente americano - como se eu não soubesse... Tipo assim, eu só sou uma princesa por causa disso. Então, sim, eu já havia lido sobre isso antes.

Veja bem, em 1947, um pouco após o término da Segunda Guerra Mundial, uma instabilidade econômica que começou a ocorrer na maioria dos países. Muitos países europeus começaram a formar alianças com outros países em situação econômica ruim para transformar em um único Estado - você sabe, o país mais rico toma o país mais endividado e que estivesse no fundo do poço e o torna seu também. Muitos governos mesmo sem dinheiro, se negaram a se unir, o que começou a gerar um novo conflito.

Enfim, no meio de toda a bagunça, muitos países se tornaram monárquicos. Você sabe, em resumo, derrubaram o governo democrático e alguém mais esperto assumiu a liderança. Voltaram a ser reinos e ter um rei e tudo o mais. Minha família costumava ser influente no Brasil antigamente. E meu bisavô, um senador na época, assumiu como rei - que, na verdade, deveria pertencer a família de Dom Pedro II por direito.

Onde eu moro hoje, em Verittas, costumava ser o Brasil. O país foi invadido por alguns países europeus e tal. Porque o Brasil, claro, não era o país que estava com a melhor situação financeira do mundo, se é que você me entende, mas era o país com mais recursos naturais e maior potencial para ser explorado. Houve tentativa de invasão por parte da Itália, Alemanha, Espanha e França. Por incrível que pareça, o Brasil até conseguiu defender bem o seu território, mas não bem o suficiente para manter todas as suas terras e seus estados intactos.

Uma parte dos estados, por fim, se emanciparam e se tornaram independentes e alguns, que foram tomados, depois acabaram expulsando os invasores e se libertando. Foi o que aconteceu com Verittas, que era território da Espanha e após uma guerrilha, se tornou independente.

Ok, tudo isso aconteceu há muito tempo, você deve estar achando. E eu concordo. Mas não quer dizer que não tem ninguém se importando mais. Porque o negócio é que a rixa entre Verittas e Nova Germânia ainda vem desde essa época. Sério. Porque, logo após Nova Germânia, que era propriedade da Alemanha, se tornou livre e depois que toda a disputa por território finalmente tinha acabado e as coisas começavam a tomar um rumo, o rei David achou que seria legal roubar uma parte das terras de Verittas.

E, veja bem, não era qualquer parte. Mas sim a área mais desenvolvida do país. Onde ficava o pólo industrial e o centro empresarial do país. Como se eles ao menos precisassem! Porque, cara, eles já tinham a melhor área de agricultura da região.

Desde então, a minha família cortou qualquer laço com Nova Germânia e qualquer um dos seus governantes. E é basicamente por isso que meu irmão estava tão... emocionado quando falou da presença do príncipe de Nova Germânia no baile do dia anterior. Porque minha família, e todos os conselheiros do rei têm de concordar, ainda pretende reconquistar a área perdida há, tipo assim, setenta e cinco anos. E ele pretende fazer a qualquer custo. Até mesmo com uma guerra.

E, certo, eu não gosto dessa ideia de estourar uma guerra por causa de um punhado de terra, mas, meu pai falou que o rei de Nova Germânia não tem governado o território como deveria, que, por ser a parte mais desenvolvida do país, as pessoas são quase escravizadas e que a família real tem governado apenas em benefício próprio, sem se preocupar com a população. Eu nunca estive lá - apesar de não precisarmos de autorização para ir daqui para lá. Mas nós deveríamos mesmo reaver o poder... eu acho.

De qualquer forma, o trabalho de História não precisava da minha opinião sobre o assunto. Só os fatos. A professora Ivanice não estava interessada em saber se a princesa de Verittas concordava ou não com a guerra que possivelmente estava por vir. Assim como ninguém estava interessado em saber. Minha opinião, quero dizer.

 Minha opinião, quero dizer

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Oi, oi

Antes de tudo, me perdoem pela qualidade péssima do mapa. Foi basicamente feito a mão. É só para que possam entender melhor a geografia da região na história :)

Dito isso, quero desejar um final de dia de natal excelente para vocês e um final de ano maravilhoso. Que todos tenhamos saúde para realizar todas as metas e sermos pessoas cada vez melhores em 2018!!

Beijos :D


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