12 - Tarefas, Bibliotecas e Reverências

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Certo, tenho que admitir que fiquei o restante do sábado e todo o domingo no quarto vendo tevê e dormindo — só saí mesmo para comer, porque, claro, é imprescindível; principalmente se for lasanha, como foi no almoço de domingo. Na segunda-feira, levantei da cama me arrastando de sono e, de novo, tendo uma crise de ansiedade porque seria o primeiro dia que eu iria trabalhar sozinha, sem a companhia — e a experiência — da Rose.

Tomei banho e me troquei fazendo uma lista mental de tudo que podia dar errado. E isso já foi um erro. Só consegui ficar ainda mais apavorada com a lista que não parava de crescer. Tomei um café-da manhã reforçado — porque se escorregasse no piso molhado ou tivesse o rosto engolido pelo aspirador de pó, eu não morreria com fome —, encontrei com a Cecília e ela me entregou uma lista de tarefas para aquele dia.

Veja bem, com "lista" entenda uma carta-rolo, que mais parecia que ela tinha se enganado e me entregara a lista de tarefas para o resto do mês. Então pode me julgar por já estar cansada antes do almoço. E depois do almoço, eu ainda precisava limpar o escritório — o mesmo que já tínhamos deixado impecável na semana anterior, então eu não entendia a necessidade de limpar de novo — e a biblioteca, que já tinham me adiantado, se tratava de um cômodo gigantesco. Tentei ver pelo lado bom: eu poderia tentar ver se havia algum documento importante que tivesse relação com Veritas no escritório.

Precisei reunir toda a minha força de vontade — que geralmente fica quietinha, se concentrando em outras coisas, por exemplo tocar piano e maratonar séries — para conseguir ir até o escritório. Da primeira vez, já tinha demorado uma eternidade, mesmo com o Rose — não que eu tivesse ajudado muito, na verdade —, imagine sozinha. Eu ficaria velha lá!

Eu já estava apavorada com a perspectiva do escritório — que deixei por último —, mas quando abri a porta que o anexava à biblioteca, comecei a planejar mentalmente meu testamento, porque certamente eu morreria antes de sair dali. O que eu sentia era um misto de terror por ter que limpar tudo aquilo e fascinação pela grandiosidade daquele lugar.

O lance era que a biblioteca da minha casa era enorme, mas aquela era absurdamente ampla. Eram muitas prateleiras de madeira cobertas de livros até o topo. Eram necessárias escadas para alcançar as prateleiras mais altas. E eu podia ver que um pequeno lance de escadas levava até uma espécie de plataforma, que formava um tipo de segundo andar da biblioteca, onde tinha ainda mais livros lotando o cômodo quase até o teto. Era tipo a biblioteca de A Bela e a Fera.

Talvez tenha sido um erro, mas comecei limpando o chão — por sorte, dessa vez não seria necessário usar a enceradeira ou eu acabaria derrubando todos os livros nas prateleiras com a minha falta de habilidade — e enquanto limpava as prateleiras e livros, pude ver que tinha todo tipo de literatura, organizados por gênero, escritor e ordem alfabética, respectivamente. Muitos clássicos de todas as épocas, enciclopédias, edições especiais... Também notei muitos livros em outros idiomas: espanhol, francês, inglês, italiano, alemão e outras que eu nem consegui identificar.

Eu sabia que devia terminar o mais rápido possível de arrumar tudo, mas a minha paixão pelos livros sempre foi muito mais intensa. Eu gastava boa parte do meu tempo livre na biblioteca da escola, devorando todo tipo de histórias. Então, pode me julgar por ter perdido muito tempo analisando todos aqueles volumes que me chamavam.

Parei um instante, namorando os romances. Verificando a prateleira do J, um livro específico chamou mais a minha atenção que os outros. Uma edição clássica, com a capa azul e as letras douradas de "A Leste do Éden" do John Steinbeck. Era um livro que eu tinha começado a ler antes das férias, mas, infelizmente, o esquecera no meu quarto, na escola — não que a gente pudesse levar os livros da biblioteca para casa nas férias, mas para mim era uma prática recorrente.

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